diálogos da transição

Embarcações a hidrogênio atracam em Belém em busca de rota na COP30

Fortescue e Itaipu exibem embarcações movidas a hidrogênio na COP30 e defendem exportação de amônia verde pelo Brasil

Governador do Ceará, Elmano de Freitas, visita navio Green Pioneer, da Fortescue, atracado em Belém (PA) para a COP30 (Foto Divulgação)
Governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), visita navio Green Pioneer, da Fortescue, atracado em Belém (PA) para a COP30 (Foto Divulgação)

NESTA EDIÇÃO. De olho em consumidores para seu hidrogênio, Fortescue e Itaipu levam à COP30 embarcações abastecidas com amônia e com tecnologia de célula a combustível.

Mpor abre consulta sobre embarcações sustentáveis no BR do Mar.


Depois da dificuldade de concluir o acordo na Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), a indústria busca na COP30, em Belém (PA), uma indicação de rota para as embarcações de baixo carbono.

A capital paraense virou porto para navios e barcos com tecnologias a hidrogênio esta semana. Da australiana Fortescue à brasileira Itaipu, empresas enxergam na cúpula do clima uma oportunidade para apresentar suas soluções para a transição do transporte aquaviário.

Ambas as iniciativas têm em comum o fato de serem patrocinadas por companhias que estão de olho na produção de hidrogênio.

A Fortescue, por exemplo, planeja para 2026 a sua decisão final de investimento em uma planta no Porto do Pecém, no Ceará. 

Em entrevista à eixos, em Belém, o presidente da Fortescue no Brasil, Luis Viga, destaca que o país tem potencial para ser fornecedor global de amônia verde para o setor de transporte marítimo e precisa “abraçar essa oportunidade”.

“É um dos projetos prioritários da Fortescue no mundo, a gente aposta no Brasil, quer que isso dê certo e a gente está trabalhando para isso”, disse.

A empresa trouxe para o Porto do Futuro, em Belém, o seu navio Green Pioneer, que já percorreu três continentes este ano, após paradas em Londres (Inglaterra), Roterdã (Países Baixos), Mônaco, além de Boston e Nova York (Estados Unidos). 

Com 75 metros de comprimento, o modelo é o primeiro do mundo a navegar com amônia verde em águas internacionais. 

O objetivo é levar aos participantes da cúpula do clima a mensagem de que a descarbonização dos oceanos depende da colaboração entre indústria e reguladores.

A embarcação foi apresentada ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, na terça (11). Para aprofundar:



Em uma escala menor — com 9,5 m de comprimento por 3 m de largura e capacidade de carga de 9 toneladas — uma iniciativa da Itaipu Binacional em parceria com a Itaipu Parquetec também colocou na vitrine da COP30 o primeiro  barco 100% movido a hidrogênio verde da América Latina.

A cerimônia de apresentação do BotoH2 ocorreu na quarta-feira (12/11), com os diretores gerais de Itaipu, do Brasil e Paraguai, e direito a passeio na embarcação que ficará em Belém sob a responsabilidade da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A instituição irá monitorar tanto seu uso e abastecimento com hidrogênio verde, que está em produção na universidade, além de utilizá-lo em pesquisas. 

O convênio também prevê ações de educação ambiental e de estruturação da coleta seletiva na capital paraense, com o apoio a quatro cooperativas de catadores da cidade.
Segundo Itaipu, o protótipo tem condições de ser um modelo replicável para diferentes regiões e aplicações, podendo ser usado no transporte de pessoas, em atividades de turismo sustentável ou em iniciativas sociais, como o próprio barco que vai atender a coleta nas comunidades ribeirinhas de Belém.

A produção global de hidrogênio verde ainda dá os primeiros passos, com os projetos enfrentando alguns dilemas.

Os investimentos são bilionários, demoram alguns anos até sair do papel e entrar em operação e precisam de sinais regulatórios e de demanda claros.

Um mercado potencial é o setor marítimo, onde a eletrificação é inviável e novos combustíveis derivados de hidrogênio despontam como um caminho para substituir fósseis.

Mas é preciso substituir embarcações. O que custa caro. E o investimento só vai ocorrer se houver pressão para isso.

É o que está em discussão na IMO, na COP30 e também no Brasil, que prepara seu marco legal para combustíveis sustentáveis.

No início da semana, o Ministério dos Portos e Aeroportos também anunciou a abertura da consulta pública da Portaria de Embarcações Sustentáveis, no Programa BR do Mar. A iniciativa definirá critérios ambientais e sociais para a certificação voluntária para cabotagem.

Entre os parâmetros previstos estão o uso de etanol, biodiesel B24, HVO, metanol verde, bio-GNL, amônia e hidrogênio verde, além do monitoramento de eficiência energética e da adoção de planos de eficiência.


Freio de emergência. Menos de 24 horas após assinar memorando que excluía biocombustíveis do transporte pesado, o Ministério dos Transportes recuou e cancelou a adesão do Brasil ao acordo internacional firmado na Conferência das Partes, em Belém. A decisão busca alinhar a política da pasta às diretrizes do governo Lula.

Pressão sobre o óleo. A IEA estima que os investimentos anuais em combustíveis fósseis terão de cair de US$ 1 trilhão para menos de US$ 350 bilhões até 2035 para viabilizar o net zero em 2050. O cenário exigirá realocação maciça de capital e pode elevar o risco de ativos ociosos, avalia o IBP. A projeção prevê expansão do baixo carbono e queda do petróleo para 24 milhões de barris/dia em 2050.

Competição verde. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse que a COP30 reforçou a necessidade de acelerar a transição limpa com foco em competitividade. Segundo ela, a descarbonização deve impulsionar crescimento e prosperidade e lembrou que o mundo já saiu de uma trajetória de aquecimento de 4ºC para algo mais próximo de 2,3ºC.

Fora no Redata. Fernando Coelho Filho (União/PE) defende retirar a exigência de energia renovável da MP do Redata, afirmando que o regime para atrair data centers não deve impor restrições às fontes usadas pelas empresas. Segundo ele, no resto do mundo, data centers usam a energia disponível, sem distinção entre fontes fósseis ou renováveis.

Expansão em Itaipu. A hidrelétrica binacional avalia ampliar sua capacidade de geração e vê espaço para instalar duas novas unidades geradoras, afirmou o diretor-geral brasileiro da usina, Enio Verri. 

  • Em entrevista à eixos na COP30, nesta quinta (13/11), ele disse que as conversas com o Paraguai consideram três alternativas: painéis solares sobre o reservatório, ganho de produtividade nas turbinas atuais e expansão do número de unidades geradoras.

Atraso clássico. As negociações da conferência começaram sem a inclusão do artigo 9.1, que prevê que países ricos deverão disponibilizar recursos para auxiliar as nações em desenvolvimento na mitigação e adaptação às mudanças do clima. Segundo o diretor de Estratégia e Alinhamento da COP30, Túlio Andrade, o tema precisará ser discutido por mais tempo.

  • O tema ficou fora das negociações iniciais para evitar travas e será tratado em consultas paralelas.

Powerships e baterias. A KPS se prepara para disputar o leilão de potência (LRCAP), em março de 2026, com 2 GW termelétricos, e pretende participar também do leilão de sistemas de armazenamento em baterias, previsto para abril. A empresa turca desenvolve um projeto de baterias no Amapá, aproveitando a infraestrutura da UTE Santana, adquirida da Eletrobras.

Rota verde para aviação. Be8 e Sumitomo firmaram, nesta quinta (13), durante a COP30 em Belém (PA), um acordo para distribuir SAF na Europa. O plano prevê o fornecimento do SAF produzido pela Omega Green, no Paraguai, e o desenvolvimento conjunto de infraestrutura de distribuição no Norte da Europa, com início previsto para 2029.

Biometano conectado. A Arsesp abriu nesta semana consulta pública sobre novas regras para interligar plantas de biometano aos gasodutos de distribuição em São Paulo. A proposta cria a Tusd-Verde, tarifa específica para produtores. As contribuições podem ser enviadas até 1º de dezembro.

Aumento do consumo de energia. Em meio ao processo de renovação da concessão, a Light estima que a atração de data centers pode dobrar o consumo elétrico nos próximos cinco anos no Rio de Janeiro. A concessionária estima que a média pode chegar a 6 GW. Segundo a superintendente Lais Tovar, o interesse de empresas em instalar projetos no estado teve impulso no regime especial Redata.

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