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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 29/06/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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Para ajudar os países na transição energética, a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) lançou um roteiro com mais de 400 marcos para que o mundo alcance emissões líquidas zero até 2050, e consiga limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C.
Entre eles, interromper imediatamente os investimentos em novos projetos de fornecimento de combustível fóssil.
Clarissa Lins, sócia fundadora da Catavento Consultoria, avalia que as mudanças comportamentais são uma parte pouco explorada, mas absolutamente fundamental para entender o tamanho deste desafio.
“As mudanças comportamentais responderão por 8% dessas mudanças e o engajamento com o consumidor final por mais 50% das mudanças necessárias. O roteiro da IEA afeta a oferta de energia, mas se não mexer na forma como demandamos e consumimos energia, não vamos conseguir chegar lá”, diz.
Clarissa participou nesta terça (29) do painel Roadmap to Net Zero: a descarbonização da indústria de óleo da série de debates Diálogos da Transição. O encontro contou também com as presenças de André Araújo (Shell Brasil) e Décio Oddone (Enauta).
A executiva aponta que há um risco de que os ofertantes de energia — no caso, produtores de óleo e gás –, migrem antes da demanda.
“Será que a gente quer de fato que o investimento mude de mãos tão rapidamente e que a sociedade corra o risco de novos investimentos exploratórios nas mãos de empresas que não têm os mesmos padrões de emissões de gases de efeito estufa, segurança e saúde?”, questiona.
Segundo Clarissa, será necessário engajar e revisitar as estratégias das empresas de óleo e gás de forma a alinhá-las com o que a sociedade pede em termos de transição.
Veja a transmissão na íntegra
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Por outro lado, os governos precisam apontar quais são as políticas públicas para que a transição seja justa.
“Para não ter desequilíbrio de condições competitivas entre países, regiões e diferentes ramos da sociedade. Que a transição seja inclusiva. Também avaliar se, com esse descompasso entre mudanças no padrão de oferta e mudanças no padrão de demanda, a gente pode incorrer em eventuais riscos à segurança energética”, alerta.
Ela acredita que a transição deverá ocorrer de “maneira suave e não disruptiva para a sociedade”.
Visão compartilhada por Décio Oddone, CEO da Enauta, para quem o planejamento dos governos precisa levar em consideração a necessidade de aumento na oferta de energia.
“É a mesma coisa que a gente está vivendo agora na crise energética no Brasil. Quando se tem uma situação como essa, seja a necessidade de mudança da matriz energética com inclusão, seja uma falta de energia como a gente pode ter aqui, é preciso atacar os dois lados, a oferta e a demanda, senão é ineficiente”, analisa.
Para o CEO da Enauta, as mudanças serão profundas e vão depender de planejamento, vontade política, determinação, investimento e aumento de eficiência. Mas os grandes avanços virão da inovação – em processos, políticas públicas e mudanças de taxações.
Na lista dos grandes desafios, estão as indústrias de cimento, siderurgia e petroquímica – setores de difícil descarbonização que vão depender de tecnologias ainda em desenvolvimento e elevados custos.
“O desafio é para que a solução seja escalável e economicamente viável. As tecnologias hoje de hidrogênio, captura de carbono e soluções baseadas na natureza já estão no nosso leque de opções”, completa Clarissa.
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Brasil precisa de planejamento integrado
“Tinha uma tradição na indústria de se preocupar com o custo do barril — quando tem crise de preço de petróleo, quem tem mais capacidade de produzir com preço mais baixo tem maior resiliência. Acho que a gente vai incorporar isso às emissões também”, aposta Décio Oddone.
O executivo vê o Brasil aumentando a demanda pela redução de emissões, o que levará a indústria de óleo a medir sua eficiência também pela emissão de CO2.
“Eu vejo menos exploração, especialmente em bacias de fronteira, em projetos de longo prazo de maturação. E ao mesmo tempo, maior recuperação de petróleo em campos maduros. A gente costumava dizer que petróleo mais barato é o já descoberto. Agora, a gente vai agregar ‘petróleo que menos emite é o que já foi descoberto’”, projeta.
Outro ponto de atenção é a disputa do carro elétrico com o biocombustível.
“Muitas sociedades e montadoras já optaram pela motorização elétrica. O que a gente tem que programar no Brasil? Como aproveitar os biocombustíveis sem perder o bonde da eletrificação? A gente ainda não aproveitou o gás natural e o mundo já está discutindo hidrogênio, amônia e novas energias”.
Para Oddone, o país precisa de um planejamento integrado e abrangente, considerando energia, emissões e como o Brasil se insere nas cadeias produtivas globais.
Já André Araújo, presidente da Shell Brasil, vê espaço para crescimento do setor de biocombustíveis no país.
“Nada impede que os carros elétricos sejam analisados, mas a gente tem segurança quando fala em emissões de carbono e olha toda a cadeia do carro elétrico, e toda a cadeia da produção de etanol. E agora, com o etanol de segunda geração, há uma chance enorme de aumento de produtividade que não vai ser fácil para outros países copiarem”, destaca.
A companhia de petróleo e energia investe em biocombustível no Brasil por meio da Raízen, uma joint venture formada por Shell e Cosan.
Mais: Óleo, gás e renováveis disputam espaço em alinhamento da Shell Brasil com metas globais de transição
Curtas
Organizações colocam pressão sobre planos net-zero, com estudo que aponta falha em estratégias de descarbonização. Em entrevista, Rachel Rose Jackson, co-autora da pesquisa The Big Con, afirma que ausência de ações reais nos planos net-zero atrasa transição energética. epbr
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