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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 11/11/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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As negociações da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas chegam à reta final ainda com grandes questões a serem resolvidas até sexta (12) para colocar o mundo na rota do 1,5 ºC do Acordo de Paris.
Relatório publicado ontem (10) pela iniciativa Climate Action Tracker (CAT) alerta que Glasgow tem uma enorme lacuna de credibilidade, ação e compromisso, já que o mundo está caminhando para pelo menos 2,4 °C de aquecimento, se não mais.
Segundo o grupo, as “boas notícias” sobre o potencial impacto das metas de zero líquido trazem “falsas esperanças” para a realidade do aquecimento. Veja na íntegra (.pdf)
Os principais resultados do levantamento do CAT:
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Com todas as promessas de metas, incluindo aquelas feitas em Glasgow, as emissões globais de gases de efeito estufa em 2030 ainda serão cerca de duas vezes mais altas do que o necessário para o limite de 1,5 °C;
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Somente com as promessas de 2030 — sem metas de longo prazo — o aumento da temperatura global será de 2,4 °C em 2100;
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O aquecimento projetado das políticas atuais (não propostas) — o que os países estão realmente fazendo — é ainda maior, a 2,7 °C;
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Desde a Cúpula de Líderes de Joe Biden em abril, a estimativa de temperatura do cenário de “promessas e metas” caiu 0,3 °C para 2,1 °C;
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Mesmo que o aquecimento projetado caia para 1,8 °C em 2100 se todos os anúncios de zero líquido forem totalmente implementados, esta estimativa está longe de ser uma notícia positiva, dada a qualidade dos objetivos e a enorme lacuna entre ambição e ação em 2030.
“É muito bom para os líderes afirmarem que têm uma meta net-zero, mas se eles não têm planos de como chegar lá e suas metas para 2030 são tão baixas, então, francamente, essas metas são apenas falas. Glasgow tem uma lacuna de credibilidade séria”, comenta Bill Hare, CEO da Climate Analytics.
Uma análise feita pelo CAT dos anúncios de 40 países, cobrindo 85% das emissões globais, mostra que apenas um pequeno número, cobrindo 6% das emissões globais, são classificados como “aceitáveis” e têm planos reais em vigor para chegar lá.
“A análise do CAT é que o carvão e o gás estão impulsionando essa inação”, diz o relatório.
Segundo a organização, para fechar a lacuna de credibilidade, será preciso aumentar a ambição de mitigação para 2030 e resolver o financiamento para países emergentes.
Resolver o financiamento é, ao lado da definição de regras para o mercado global de carbono, o grande impasse da cúpula.
- Em tempo: o governo brasileiro aderiu hoje a uma proposta conjunta de um grupo liderado pelo Japão, e vai retirar sua objeção a ajustes correspondentes do artigo 6.4 do Acordo de Paris, o que ajuda a destravar um ponto crucial da negociação sobre o mercado de carbono. Leia na coluna de Jamil Chade, do UOL
Sem dinheiro para financiar a transição ecológica em países emergentes, dificilmente haverá aumento de ambição. De outro lado, os países ricos cobram mais ambição para aumentar o financiamento.
Além disso, os ricos, como os EUA, querem que os doadores individuais dupliquem suas promessas, enquanto as nações em desenvolvimento dizem que é pouco, visto que partem de uma base baixa.
E os ministros da União Europeia seguem calados sobre o assunto, sugerem observadores da conferência.
De acordo com a Bloomberg, a parte mais complicada está em economias de rápido crescimento onde a demanda de energia cresce proporcionalmente, criando dificuldades para o alcance de metas.
“A China sozinha é responsável por mais de 30% das emissões globais. Metade dos 10 maiores emissores cumulativos de CO2 são países em desenvolvimento: China (2), Rússia (3), Brasil (4), Indonésia (5) e Índia (7). A China pode ultrapassar os EUA em meados do século. Isso significa que alguns dos países que já precisam de mais ajuda devem ter o maior peso”.
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Argentina, Brasil e Uruguai estão focados no financiamento, mesmo não sendo os alvos prioritários da ajuda de R$ 100 bilhões que até hoje não foi entregue pelos países ricos. Hoje o Paraguai também se juntou ao grupo.
Enquanto isso, o ministro indiano do Meio Ambiente, Bhupender Yadav, critica que não há nem mesmo uma definição comum do que é financiamento climático.
Ontem, os países-ilha exigiram no Twitter que a presidência da COP pare de usar linguagem condescendente, como “encoraja” e “convida”, e destacou que sem financiamento maior não haverá mais ambição rumo à meta de 1,5C.
Já nesta quinta, mais de 60 organizações se uniram aos 55 países do Fórum de Vulnerabilidade Climática para assinar uma petição pedindo um Pacto de Emergência Climática de Glasgow em resposta ao texto preliminar divulgado pela presidência britânica.
Inclui uma avaliação anual e revisão dos planos climáticos nacionais e impulsionamento de financiamento, adaptação e recursos para perdas e danos.
E a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, triplicou seu Fundo de Justiça Climática (isoladamente do restante do Reino Unido). “A Escócia é uma nação pequena, mas pode liderar pelo exemplo”, disse no Twitter.
EUA e China
A declaração conjunta de Estados Unidos e China divulgada ontem (10) surpreendeu os observadores ao trazer um pacto para aprimorar as ações climáticas de forma bilateral, ao invés de fazerem o tradicional jogo de culpa.
As duas nações assumem compromissos em relação ao metano — gás de efeito estufa mais potente que o CO2 –, preservação de florestas e uma promessa de atualizar as NDCs até 2030 para cumprir metas climáticas mais ambiciosas.
E “reconhecem a importância do compromisso assumido pelos países desenvolvidos com a meta de mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano até 2020 e anualmente até 2025 para atender às necessidades dos países em desenvolvimento”, o que, na visão de ambientalistas indica uma indisposição para mobilizar mais recursos.
Mitigação
Um grupo de 22 nações conhecidas como Países em Desenvolvimento com Mentes Similares (LMDC, na sigla em inglês), que inclui China e Índia, pediu que toda a seção sobre mitigação das mudanças climáticas fosse removida do texto preliminar da COP26.
Este seria outro sinal das enormes lacunas ainda existentes no acordo.
O negociador-chefe da Bolívia, Diego Pacheco, que representa o grupo LMDC, disse nesta quinta (11) que os países sentem que o mundo desenvolvido está tentando transferir suas responsabilidades pela crise climática para o mundo em desenvolvimento.
O país é um player importante no mercado de exportação de gás natural e é o quarto país que mais desmatou no século 21, atrás de Brasil, Indonésia e República do Congo.
Dia das Cidades
Esta quinta também foi dedicada à pauta de Cidades, Regiões e Meio Ambiente Construído em Glasgow.
Anfitrião da COP26, o Reino Unido prometeu £ 27,5 milhões em novos fundos para o novo Programa de Ação Climática Urbana para apoiar cidades que visam o zero líquido.
Com recursos da International Climate Finance e parceria com o C40 Cities Climate Leadership Group, o programa apoiará cidades na África, Ásia e América Latina na implementação de planos de ação climática e projetos de infraestrutura com foco na neutralidade de carbono até 2050.
Entre os eixos, estão sistemas de transporte público de baixa emissão, geração de energia renovável, gestão sustentável de resíduos, novos códigos de edifícios inteligentes para o clima e planejamento de risco climático.
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