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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 09/11/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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As desigualdades que tornam mulheres e meninas mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas estiveram na agenda desta terça (9), durante o Dia do Gênero da COP26.
O dia foi marcado pelo anúncio do Reino Unido de £ 165 milhões para combater as mudanças climáticas, capacitando mulheres para a ação climática.
E também pela aparição de Little Amal, o fantoche gigante de uma refugiada síria de 10 anos, que encontrou ativistas dos países pelos quais ela “caminhou” durante uma jornada de quatro meses e 8.000 km desde a fronteira com a Síria.
Desde a semana passada, especialistas vêm apresentando dados e análises sobre adaptação, perda e danos e ambição e seus efeitos sobre mulheres.
É uma pauta que ainda incomoda muita gente — ontem mesmo a linguagem de gênero foi suprimida nos textos da ONU após uma intervenção de enviados da Arábia Saudita.
O impasse começou no sábado, durante a negociação do texto final, quanto às referências aos termos “direitos humanos” e “gênero“. UOL
Por que falar de gênero e clima?
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Cerca de 80% das pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas são mulheres, mostra um relatório do Women in Finance Climate Action Group;
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Enquanto isso, a representatividade feminina é de apenas 19% em conselhos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial;
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Mulheres e meninas constituem a grande maioria das pessoas pobres do mundo, muitas vezes dependentes da agricultura de subsistência, mostra a ONU;
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Mulheres são excluídas financeiramente: elas têm menos acesso a serviços financeiros, menos bens e, em alguns lugares, menos direitos de propriedade;
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A maioria das estruturas de política climática nacional, regional e multilateral não incorpora questões de gênero ou ignora a conexão entre gênero e financiamento climático;
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Segundo a Aviva, dados e relatórios sobre aspectos de gênero no financiamento do clima são inadequados;
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As mulheres são frequentemente mal representadas em funções-chave de liderança e de tomada de decisão, em todos os setores relevantes;
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Cerca de 2/3 dos gastos das famílias no mundo são controlados por mulheres e 40% da riqueza global é detida por elas;
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75% acreditam que uma mudança climática requer outros hábitos e estilo de vida, em comparação a 64% dos homens.
Ainda sobre justiça climática…
A liderança de mulheres indígenas tem chamado a atenção na COP26, que teve a maior delegação de representantes de povos tradicionais da história da conferência do clima.
Dentre os mais de 40 representantes do Brasil, a primeira deputada federal indígena do país, Joênia Wapichana (Rede/RR), viajou a Glasgow para defender que recursos internacionais destinados ao combate ao desmatamento sejam em parte repassados diretamente às comunidades indígenas, que atuam na linha de frente.
Em entrevista à Estratégia ESG, uma parceria da agência epbr com a Alter Conteúdo, ela comenta o anúncio do acordo internacional de eliminação do desmatamento até 2030.
A preocupação é se o investimento vai proteger realmente quem está na floresta, porque são terras indígenas. Entrevista completa
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“A emergência é financeira”, diz ministro
Principal representante do Brasil nas negociações climáticas de Glasgow, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, voltou a defender hoje que o país já é sustentável e que os países ricos precisam pagar a conta da preservação florestal.
A postura do governo Bolsonaro durante a COP26 tem sido vista como mais branda e apaziguadora devido às promessas para o meio ambiente, como a redução de emissões de metano, neutralidade de carbono ou fim do desmatamento ilegal.
“Agora o momento é dos grandes países, União Europeia, países ricos, G7, mostrarem também um movimento claro para trazer uma solução e a solução é econômica”, disse o ministro.
“A emergência para a gente transformar uma economia global em uma economia verde na velocidade que todos desejam, inclusive o governo federal, é financeira”.
O financiamento climático é um dos principais temas em discussão na COP26. A partir do Acordo de Paris, de 2015, países ricos se comprometeram a mobilizar US$ 100 bilhões anuais para conter as mudanças climáticas, mas a medida não saiu do papel.
Além das questões financeiras, Leite acredita que outros países precisam seguir o exemplo dado pelo Brasil.
Óleo, gás e carvão
Fósseis fora de acordo? A presidência da COP26 publicou no último fim de semana um rascunho com itens que potencialmente deverão ser incluídos no acordo final da conferência.
O documento, chamado de non-paper por possuir somente itens isolados, lista os tópicos mais prováveis de criar consenso durante o processo de elaboração do documento final a ser gerado ao longo desta segunda semana de negociações.
Tópicos mais controversos, demandados pela sociedade civil, como a imposição de limites para o uso de combustíveis fósseis ou metas para que sejam completamente abandonados, não foram sequer citados no documento.
O assunto ganhou especial atenção nesta segunda (8), quando a ONG internacional de direitos humanos Global Witness publicou relatório denunciando que lobistas do setor de combustíveis fósseis inundaram a COP26.
De acordo com o estudo, ao menos 503 representantes do setor de óleo e gás estão presentes na conferência — grupo maior do que qualquer delegação de países.
Térmicas no lugar de renováveis. Cálculos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) indicam aumento de 80% no despacho das termelétricas nos primeiros nove meses de 2021 (janeiro a setembro) em relação ao mesmo período de 2019 — antes da pandemia de Covid-19 — o que contribuiu para aumento significativo nas emissões brasileiras.
Além disso, o IEMA alerta que a contratação adicional de energia termelétrica de gás natural em 2021, como medida para suprir a lacuna do sistema energético até 2025, mostra uma tendência de o país continuar despachado mais energia termelétrica e com impactos nas emissões.
Segundo Ricardo Baitelo, especialista em planejamento energético e coordenador de projetos no IEMA, além dos impactos de emissões, toda termelétrica que opera em tempo integral, seja a carvão, a gás natural ou nuclear, toma espaço de energias renováveis.
Dados foram apresentados em debate sobre transição justa no espaço Brazil Climate Action Hub. Vídeo
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