Agendas da COP

Diários da COP26: Carvão na mira, OPEP+ “golpeada” e consórcio de governadores

Nações pretendem interromper geração a carvão nas décadas de 2030 e 2040 e concordam em encerrar os investimentos no setor

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 04/11/21
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Mais de 40 países assumiram novos compromissos hoje (4) para eliminar a energia a carvão, incluindo Canadá, Chile, Cingapura, Coréia do Sul, Egito, Espanha, Nepal, Polônia, Vietnã e Ucrânia.

Dedicado ao tema energia, o quinto dia da Conferência do Clima em Glasgow foi marcado também pelo compromisso dos principais bancos internacionais de encerrar efetivamente todo o financiamento público internacional de novas usinas de carvão até o final de 2021. Veja o comunicado na íntegra

Brasil, Estados Unidos, Austrália, China e Índia não assinam o acordo, e o plano fica aquém da ambição inicial da presidência da COP26, analisa a Bloomberg.

Sob o pacto, as nações pretendem interromper o uso da geração de energia a carvão nas décadas de 2030 e 2040 e concordaram em encerrar os investimentos no setor tanto no mercado interno quanto no exterior.

Também nesta quinta (4), o think tank Carbon Tracker lançou o Levantamento de Riscos de Carvão, mostrando que os mercados financeiros mundiais estão expostos a US$ 121 bilhões de risco de encalhe.

Isso se o mundo tomar medidas para atingir as metas de temperatura estabelecidas no Acordo de Paris.

O relatório avisa investidores que as empresas listadas que ainda planejam construir uma nova capacidade de carvão estão fazendo “uma aposta muito arriscada”.

Além do carvão, um grupo de 25 países, incluindo Itália, Canadá, Estados Unidos e Dinamarca, juntamente com instituições financeiras públicas, assinaram uma declaração conjunta liderada pelo Reino Unido se comprometendo a encerrar o apoio público internacional para combustíveis fósseis até o final de 2022.

A prioridade deve ser o apoio à transição para energia limpa.

Potencialmente, pode deslocar para a transição com energia limpa cerca de US$ 17,8 bilhões por ano em apoio público que antes iria para os fósseis.

A declaração reúne os chamados campeões do clima, incluindo a maior economia do mundo, os EUA:

  • OCDE: Canadá, Costa Rica, Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia, Portugal, Eslovênia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos.

  • Fora da OCDE: Etiópia, Fiji, Mali, Ilhas Marshall, Moldávia, Sudão do Sul, Gâmbia, Zâmbia.

  • Instituições financeiras públicas: Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG, Brasil), Banco de Desenvolvimento da África Oriental (EADB), Banco Europeu de Investimento (EIB), Financierings-Maatschappij voor Ontwikkelingslanden NV (FMO) e Agence Française de Développement (AFD).

Uma nova análise da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) mostra que, se todas as promessas climáticas anunciadas até o momento forem cumpridas na íntegra e no prazo, elas serão suficientes para conter o aumento das temperaturas globais para 1,8 °C até 2100.

Um pouco abaixo dos 2ºC acordado em Paris, mas ainda acima do 1,5 °C indicado por cientistas como o necessário.

“Este é um grande passo em frente, mas muito mais é necessário”, diz Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

Segundo o executivo, as metas climáticas mais elevadas são promissoras, mas as promessas devem ser totalmente implementadas a tempo.

Emissões de CO2 em cenários do World Energy Outlook ao longo do tempo, 2000-2050
Emissões de CO2 em cenários do World Energy Outlook ao longo do tempo, 2000-2050. Elaboração IEA

Enquanto isso…

A coalizão OPEP+ decidiu manter a trajetória de aumento da produção de óleo, frustrando a demanda de países consumidores, especialmente dos EUA, que cobram, especialmente da Arábia Saudita, um aumento da oferta para conter a inflação global.

O recado da Arábia Saudita é que a indústria de óleo está sendo golpeada e precisa de sinais claros para planejar investimentos futuros. E mais: a culpa não é do óleo, mas do gás natural — recado para os países europeus que enfrentam um choque de oferta e demanda.

A Casa Branca de Joe Biden, eleito com a promessa de acelerar a descarbonização da economia dos EUA, diz que a OPEP está “ameaçando” a recuperação da economia global pós-pandemia ao se recusar a entregar mais óleo ao mercado internacional. Os preços do Brent subiram quase 60% este ano.

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Ainda sobre a transição do carvão

O Brasil não assinou o acordo nesta quinta (4) e o governo de Jair Bolsonaro já deu sinais claros de sua simpatia pela fonte fóssil.

Em agosto, no mesmo dia em que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas acendeu o alerta vermelho para os combustíveis fósseis, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou o Programa Para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional.

Partindo do princípio que a última janela para o carvão está prestes a fechar, o governo brasileiro tenta estimular a expansão do setor, com inclusão do carvão no Repetro e no Reif, regimes fiscais do setor de petróleo e de fertilizantes, respectivamente.

Além de uma série de outras medidas regulatórias e financeiras para viabilizar a construção de novas usinas, incluindo crédito e destinação de recursos de P&D.

Paralelamente, governadores buscam saídas para a atividade, concentrada no Sul do país.

Santa Catarina, por exemplo, tem um plano de transição justa. Já o Rio Grande do Sul está de olho no hidrogênio.

“Precisamos oferecer alternativas. Sem alternativa econômica, a simples contestação não será politicamente sustentável”, comenta Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, estado que concentra 88% das reservas de carvão mineral do Brasil.

Ele participou nesta quinta de debate sobre carvão e desafios da transição justa no Sul do Brasil promovido pelo Brazil Climate Action Hub, espaço da sociedade civil na COP26.

“Um dos projetos que mais estamos tratando aqui na COP é a possibilidade de geração de hidrogênio verde no Rio Grande do Sul a partir do que nós temos de capacidade instalada de energia eólica e estrutura portuária”, diz Eduardo.

…Por falar em governadores

A iniciativa Governadores pelo Clima (GPC), articulada pelo Centro Brasil no Clima (CBC), lançou hoje, em Glasgow, o Consórcio Brasil Verde.

Participaram Renato Casagrande (Espírito Santo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Mauro Mendes (Mato Grosso) e, por vídeo, Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte).

Também foi aprovado um fundo único de investimentos para captação de recursos de financiamento climático e incentivo à geração de energias renováveis.

“A partir do lançamento do Consórcio Brasil Verde, nós temos possibilidades reais de receber financiamentos para as políticas que vêm sendo adotadas nos estados. Lembrando que as mudanças climáticas estão aí e seus efeitos são mais graves para os mais pobres”, disse Renato Casagrande, governador do Espírito Santo, em nota.

Em abril, o GPC enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propondo o desenvolvimento de um pacto que crie “a maior economia de descarbonização do planeta”.

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