Diálogos da Transição

Demanda por carvão deve superar 8,5 bilhões de toneladas pela primeira vez

Consumo deve aumentar 8% na Índia e 5% na China em 2023

Demanda por carvão deve superar 8,5 gigatoneladas pela primeira vez (Foto: Анатолий Стафичук/Pixabay)
Em 2023, China, Índia e Sudeste Asiático devem responder por três quartos do consumo global de carvão (Foto: Анатолий Стафичук/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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O consumo global de carvão na geração de energia deve superar, pela primeira vez, 8,5 bilhões de toneladas em 2023, um crescimento de 1,4% em relação ao ano passado, mostra relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), publicado hoje.

Em 2022, a geração de usinas a carvão já havia sido recorde, saltando 8,5% de 2020-2021 (aumento de 750 TWh em base líquida), para 9.600 TWh. Mais de 85% dessa geração veio de 10 países, com China, Índia e EUA sozinhos respondendo por 72%.

De acordo com a IEA, apesar do aumento global, há diferenças acentuadas entre regiões. Na maioria dos países ricos, a previsão é uma queda significativa na demanda, chegando a 20% em mercados da União Europeia e Estados Unidos.

Na Ásia, no entanto, a trajetória vai em outro sentido: o consumo deve aumentar 8% na Índia e 5% na China em 2023 devido à crescente demanda por eletricidade e à fraca produção de energia hidrelétrica.

Mas também é na Ásia que mais da metade da expansão global de capacidade renovável deve ocorrer.

China, que atualmente responde por mais da metade da demanda mundial por carvão, é ao mesmo tempo uma potência em energia limpa, respondendo por cerca da metade das adições de energia eólica e solar, além de mais da metade das vendas globais de veículos elétricos em 2023.

Esse movimento em direção às renováveis levou a IEA a estimar uma queda de 2,3% na demanda global por carvão até 2026 em comparação com os níveis de 2023. A expectativa é que demanda chinesa por carvão diminua em 2024 e se estabilize até 2026.

Esse declínio dependerá do ritmo de implantação de energia limpa, condições climáticas e mudanças estruturais na economia chinesa.

Queda sustentada

A substituição do carvão, fonte fóssil de energia que mais emite gases de efeito estufa, é uma das ações consideradas urgentes para conter a crise climática.

Com os cientistas afirmando que o ano de 2023 será o mais quente já registrado, essa transição para energias de baixo carbono vai se tornando cada vez mais inadiável.

O carvão, no entanto, tem uma presença significativa na economia global: é atualmente a maior fonte de energia para geração de eletricidade, fabricação de aço e produção de cimento.

Para a IEA, a queda no consumo pode marcar um ponto de virada histórico nas emissões do setor de energia. Mas ela precisa ser contínua – além de rápida.

“Já vimos quedas na demanda global por carvão algumas vezes, mas foram breves e causadas por eventos extraordinários, como o colapso da União Soviética ou a crise da Covid-19. Desta vez parece diferente, pois a queda é mais estrutural, impulsionada pela expansão sustentada de tecnologias de energia limpa”, comenta Keisuke Sadamori, diretor de Mercados e Segurança de Energia da IEA.

Ele enxerga um “ponto de virada” para o carvão no horizonte.

Panorama do carvão

  • Este ano, China, Índia e Sudeste Asiático devem responder por três quartos do consumo global, em comparação com apenas cerca de um quarto em 1990;

  • O consumo no Sudeste Asiático deve ultrapassar, pela primeira vez, o dos Estados Unidos e da União Europeia em 2023;

  • Até 2026, Índia e Sudeste Asiático são as únicas regiões onde o consumo deve crescer significativamente;

  • China, Índia e Indonésia – os três maiores produtores de carvão globalmente – devem quebrar recordes de produção em 2023, elevando a produção global a uma nova alta em 2023. Esses três países agora respondem por mais de 70% da produção mundial de carvão;

  • As importações chinesas estão a caminho de atingir 450 milhões de toneladas, mais de 100 milhões de toneladas acima do recorde estabelecido pelo país em 2013;

  • As exportações da Indonésia em 2023 estarão próximas de 500 milhões de toneladas – também um recorde global.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Bateria de hidrogênio

A maior empresa de geração de energia elétrica do Brasil, a Eletrobras, acredita que o hidrogênio verde pode funcionar como armazenamento de energia e complementar o papel das hidrelétricas como a “baterias do sistema”.

O vice-presidente de Comercialização e Soluções em Energia da Eletrobras, Ítalo Freitas, afirma, em entrevista à epbr, que a forma mais competitiva no mundo de produzir hidrogênio com zero emissões é via hidrelétrica.

O vai e vem dos incentivos

Até o fechamento desta edição, a inclusão do hidrogênio na PEC da reforma tributária mudou: de ontem para hoje, sai hidrogênio verde e entra “de baixo carbono”. Isso porque os parlamentares decidiram equiparar o produto aos biocombustíveis que terão direito a uma alíquota reduzida (como já ocorre com o etanol hidratado), mas o Senado preferiu apenas o verde. A votação na Câmara ainda não terminou.

E na falta de um, dois projetos: a comissão do Senado Federal aprovou um marco para o hidrogênio (com subsídios), que pode ser despachado de volta para a Câmara, onde os deputados aprovaram outro marco (sem subsídios), que está lá no Senado.

Hidrogênio em Suape

A Voltalia assinou na quarta-feira (13/12) um Memorando de Entendimento com o Governo de Pernambuco e o Complexo Industrial Portuário de Suape para cooperação em um projeto de produção de hidrogênio verde e derivados, como amônia verde e e-metanol, em áreas próximas ao porto.

Leilão de transmissão

A Aneel negociou todos os três lotes oferecidos no leilão de transmissão desta sexta-feira (15/12), na B3, em São Paulo. A concorrência teve deságio médio de 40,85% e investimentos previstos de R$ 21,7 bilhões. A State Grid arrematou o Lote 1, com deságio de 39,9% pelo Lote 1 e terá uma receita anual de R$ 1,9 bilhão ao longo do contrato.

Mobilização contra térmicas fósseis

Batizado de Transição Energética Justa, um grupo formado por oito entidades do setor elétrico tenta convencer o governo Lula e o Congresso Nacional a recuar com as medidas colocadas como emendas no projeto das eólicas offshore: uma regulação de preço de gás para viabilizar térmicas, contratações de PCHs, dentre diversas outras.

Importação de biodiesel

Associações de produtores de biodiesel e sindicatos e cooperativas da agricultura familiar divulgaram nesta sexta (15/12) uma carta endereçada ao governo federal pedindo a revogação da resolução do (Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que autoriza a importação de biodiesel para uso na mistura obrigatória ao óleo diesel no país.

Segundo o grupo, a abertura do mercado é uma “iminente ameaça à participação de milhares de agricultores familiares” na cadeia produtiva. A importação de biodiesel está na pauta da reunião do CNPE marcada para o próximo dia 18/12.

Do outro lado, na terça (13/12), IBP, Abicom (importadores), Brasilcom, CNT, Fecombustiveis e SindTRR também divulgaram uma nota conjunta, pedindo a manutenção da abertura do mercado, justificando que os produtores nacionais ainda terão 80% do mercado cativo.

Solar no Amazonas

A Helexia, empresa de geração distribuída do grupo Voltalia, planeja colocar em operação sete usinas solares fotovoltaicas no estado do Amazonas em 2024. Os empreendimentos são planejados para as cidades de Manaus, Manacapuru, Iranduba e Presidente Figueiredo e vão fornecer eletricidade para duas operadoras de telefonia. A estimativa é que a primeira das sete usinas comece a ser construída em Manaus no primeiro trimestre de 2024. Projetos vão substituir geração a diesel.

Renovável com crédito de carbono

A energytech Órigo Energia certificou três fazendas solares em Minas Gerais para geração de créditos de carbono. O crédito é gerado a cada tonelada de carbono equivalente que deixa de ser lançada ou é capturada da atmosfera. Os títulos foram emitidos a partir de metodologia da startup brasileira JUNDU e comercializados com o maior grupo de moda do Brasil, o Grupo Soma.