diálogos da transição

Custo do carbono entra na conta da eletrificação do transporte

Brasil tem potencial de eletrificar 14 mil ônibus até 2030, evitar emissão 438 mil tCO2 por ano e economizar até R$ 62 milhões

Longe da meta de eletrificação, São Paulo agora mira biometano (Foto: Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte)
Entrega de 120 ônibus elétricos à cidade de São Paulo (Foto: Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte)

NESTA EDIÇÃO. Eletrificar 14 mil ônibus até 2030 pode evitar a emissão de quase 438 mil toneladas de CO2 anuais, gerando economia de até R$ 62 milhões.

Substituição deve começar pelos ônibus a diesel mais antigos e com uso intensivo para maximizar redução de emissões e reduzir impactos operacionais, aponta estudo.


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Com uma frota de pouco mais de mil ônibus eletrificados — a maioria concentrada na cidade de São Paulo —, o Brasil tem potencial de chegar a 2030 com 14 mil ônibus a diesel substituídos por elétricos, evitando a emissão de 437,7 mil toneladas de CO2 equivalente por ano.
 
A estimativa é de um estudo lançado pelo Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil), em parceria com a Scipopulis e apoiado pelo Ministério das Cidades, e representa uma redução de 24,6% das emissões de gases de efeito estufa atuais desses sistemas.
 
A cada 1% da frota substituída, as emissões diminuem 1,37%, segundo a pesquisa. 
 
Isso repercute financeiramente. Quando considerado o Custo Social do Carbono, entre R$ 54,4 e R$ 62,1 milhões podem ser economizados com danos decorrentes das mudanças climáticas, causadas pelos combustíveis fósseis.
 
“A emissão total nos sistemas analisados é de 1,78 milhão de toneladas de CO2eq por ano, o que representa 9% das emissões dos ônibus para o transporte de passageiros. Essas emissões geram custos sociais de até R$ 252,4 milhões por ano”, aponta o ITDP.
 
“A redução das emissões é mais significativa quando se substituem os veículos mais antigos e com o uso mais intensivo, o que reforça a importância de focar a política para ampliar o impacto das ações”, completa.
 
A intenção do grupo é subsidiar o programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano (Refrota), incluído no Novo PAC
 
“Ao identificar a quantidade de ônibus diesel passíveis de serem eletrificados em cada um dos sistemas analisados, o estudo também aponta caminhos estratégicos para que o Governo Federal tenha mais clareza sobre o montante de recurso a ser disponibilizado”, explica a diretora-executiva do ITDP Brasil, Clarisse Cunhe Linke.
 
Financiamento dessa transição, aliás, é um ponto chave. 
 
São necessários R$ 44,5 bilhões em investimentos para a renovação dessa frota, o que significa cerca de R$ 8,9 bilhões por ano até 2030.



São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte possuem os sistemas de transporte público com maior potencial de eletrificação sem grandes impactos na operação vigente.
 
A proposta do ITDP é começar pela substituição dos ônibus mais antigos e que poluem mais, por modelos novos e abastecidos por eletricidade.
 
Na análise de 18 sistemas de transportes municipais e intermunicipais — a ideia original era 52, mas faltaram dados —, o estudo identificou mais de 37 mil veículos em operação, dos quais 14.146 ônibus a diesel já podem ser substituídos por elétricos.
 
São modelos com mais de cinco anos e com tecnologias obsoletas, como Euro III e Euro V (já estamos no Euro VI). Essa substituição significa também que não será preciso aumentar a frota ou reestruturar linhas.  
 
“Essa mudança tem potencial para impactar 41% da população brasileira e melhorar 50% da frota de ônibus urbanos em operação nas maiores 21 regiões metropolitanas do país, a partir da focalização e da priorização propostas pelo estudo”, defende.

Dados da plataforma E-Bus Radar mostram que há 7 mil ônibus elétricos no transporte público da América Latina, sendo 1.143 no Brasil. É um percentual pequeno no universo de 107 mil ônibus em circulação no país.
 
Renovar toda essa frota levaria 13 anos, a um custo de cerca de R$ 214 bilhões, segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
 
Por isso a recomendação de direcionar os recursos e começar pelo que polui mais.
 
Algumas capitais já aderiram ao movimento.
 
Nesta segunda (11/8), Goiânia anunciou que irá operar regularmente uma frota de biarticulados 100% elétricos até o final do ano. A capital de Goiás incorporou os primeiros ônibus elétricos à frota em 2024.
 
Sede da COP30 em 2025, Belém recebeu, em setembro de 2024, 40 ônibus elétricos para integrar a frota que faz o transporte público da região metropolitana.
 
O governo do Pará encomendou veículos fabricados pela brasileira Eletra para integrar o BRT da capital. Com investimentos de R$ 120 milhões, a aquisição faz parte do programa para descarbonizar o estado.
 
Também em fase de transição da frota, a maior metrópole do país começou a substituir ônibus a diesel por elétricos em 2023. Este ano, São Paulo chegou à marca de 841 veículos de baixo carbono. A meta (revisada para baixo) é substituir 2,2 mil ônibus movidos a diesel.
 
Já a cidade do Rio, também indicada no estudo como uma das metrópoles com maior potencial de eletrificação, aprovou uma lei estabelecendo que os ônibus que realizam transporte coletivo da cidade precisarão ser substituídos gradualmente por veículos elétricos com zero emissão de CO2, até alcançar 100% da frota em 2040.
 
Enquanto BH promete incorporar 100 veículos elétricos à frota até o fim de 2025, dando um passo para cumprir o Plano de Mobilidade Limpa da capital mineira, que prevê substituir 40% da frota atual por coletivos movidos por energia limpa até 2030.


Data centers. A indefinição do governo federal sobre uma política nacional para data centers pode levar a uma migração de investimentos para países vizinhos como Uruguai, Chile e Colômbia, alerta o vice-presidente da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), Luis Tossi.
 
Usinas híbridas. Potencial aliado na mitigação de prejuízos provocados pelos cortes na geração de energia renovável (curtailment), o armazenamento de energia em baterias está nos planos da Auren, que avalia a entrada no segmento. O custo, no entanto, ainda é uma barreira a ser superada.
 
Aneel adia regulamentação de baterias. Após impasses sobre tarifas, a agência reguladora adiou a regulamentação dos sistemas de armazenamento de energia. A análise inclui baterias químicas de armazenamento (BESS), autônomas ou acopladas a usinas renováveis, e hidrelétricas reversíveis.
 
Novas regras para biocombustíveis. A ANP publicou, nesta terça-feira (12/8), a nova resolução que regulamentará a autorização de produção de biocombustíveis e de operação de instalação de usinas. Aprovada pela diretoria colegiada da agência na última quinta-feira (7/8), a resolução 987/2025 substitui a resolução 734/2018.

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