diálogos da transição

COP30 tenta destravar bilhões para adaptação, em meio a impasse norte–sul

Pacote mutirão inclui planos nacionais de adaptação e enfatiza necessidade de financiamento concessional

18.11.2025 - Belém - O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, CEO da COP 30 Ana Toni e a Embaixadora Liliam Chagas, Negociadora da COP30, participam de entrevista coletiva durante a 30ª Conferência das Partes (COP30). Foto de Rafa Pereira/COP30
18.11.2025 - Belém - O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, CEO da COP 30 Ana Toni e a Embaixadora Liliam Chagas, Negociadora da COP30, participam de entrevista coletiva durante a 30ª Conferência das Partes (COP30). Foto de Rafa Pereira/COP30

NESTA EDIÇÃO. Países em desenvolvimento pressionam por mais recursos para adaptação.

Custos são estimados em US$ 310 bilhões até 2035.


Com uma necessidade estimada em US$ 310 bilhões por ano, até até 2035, para financiar a adaptação das cidades aos efeitos das mudanças do clima, países em desenvolvimento estão tentando destravar, na COP30 em Belém (PA), negociações para viabilizar mais recursos.
 
O tema está previsto para o primeiro pacote de decisões da conferência climática, prometido pela presidência da cúpula para esta quarta (19/11), mas sem notícias de sua publicação até o fechamento desta edição.
 
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), mostram que as necessidades de financiamento para adaptação nos países em desenvolvimento são de 12 a 14 vezes maiores do que os fluxos atuais, que recuou, inclusive.
 
Em 2023, o financiamento caiu de US$ 28 bilhões para US$ 26 bilhões por ano.
 
Países ricos, que deveriam contribuir com a mobilização desses recursos argumentam na outra ponta que é preciso ter mais clareza sobre as necessidades de adaptação.
 
Com o planeta aquecendo e os eventos climáticos extremos ficando cada vez mais intensos e frequentes, é preciso avançar na estruturação de projetos que levem em consideração a nova situação planetária e sejam feitos para resistir às catástrofes — sob o risco de a adaptação se tornar um poço sem fundo.
 
Até o início da semana, menos da metade dos signatários do Acordo de Paris haviam entregado seus planos nacionais de adaptação: 72 ao todo, sendo 60 países em desenvolvimento.
 
No rascunho da “Decisão Mutirão”, há uma menção clara à necessidade de recursos na forma de financiamento de baixo custo, dado que nações de renda média e baixa já estão altamente endividadas.
 
“Salienta a necessidade urgente de disponibilização e mobilização de recursos públicos e de financiamento altamente concessional, especialmente para a adaptação nos países em desenvolvimento, particularmente aqueles que são especialmente vulneráveis ​​aos efeitos adversos das alterações climáticas e que têm limitações significativas de capacidade, como os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento”, diz o documento.
 
Enquanto a decisão não sai, uma iniciativa lançada na terça (18/11) tentará acelerar a implementação das ações de adaptação em larga escala.
 
A plataforma é liderada pela presidência brasileira, pelos governos da Alemanha e da Itália, e pelo Pnuma, conectando financiadores a projetos já estruturados.



Direto de Belém/PA, especialistas analisam os movimentos do Brasil na agenda climática e energética da Conferência das Partes. Veja a seguir:

  • Ponto de inflexão. Para Elbia Gannoum, enviada especial de Energia da COP30, o Brasil chega a uma fase em que, mesmo com matriz renovável, terá de incorporar novas tecnologias — como baterias — para sustentar a expansão. E destaca o forte engajamento privado na Conferência, decisivo para acelerar metas climáticas.
  • Fósseis de saída. Donizete Tokarski, da Ubrabio, defende que a COP30 consolide uma curva de erradicação dos combustíveis fósseis e incentive a substituição por biocombustíveis, dando sinal claro aos investidores.
  • Mapa inédito. Para Ben Backwell, CEO do GWEC e presidente da GRA, o Brasil inaugurou na COP30 uma discussão prática até então ausente: um plano concreto para reduzir o uso de fósseis junto à expansão das renováveis. Para ele, a entrada dos ministros na fase final da cúpula deve acelerar as discussões.
  • Inspiração global. A Unica espera que a proposta brasileira para quadruplicar a produção e o consumo de combustíveis sustentáveis até 2035 inspire mais países, diz o presidente Evandro Gussi. Na COP30, o setor lançou a Carta de Belém (.pdf), que defende um esforço internacional conjunto.
  • ‘É uma maratona’. A diretora do IBP, Sylvie D’Apote, afirmou que a transição energética precisa avançar junto à segurança energética, justiça social e crescimento econômico. “A transição energética, na verdade, é uma evolução, não é uma simples troca”, disse ao estúdio eixos.
  • ‘Elefante na sala’. O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, afirmou que a indústria de petróleo e gás defende uma transição energética sem desequilíbrios que ampliem a pobreza energética. Ele argumenta que, por fornecer 80% da energia global, o setor precisa estar no centro das discussões.
  • Novas energias. Marina Rodrigues, VP de Novas Energias da Rystad Energy, avalia que a COP30 tem gerado sinais positivos para combustíveis sustentáveis, especialmente SAF. Ela destaca que os compromissos anunciados pelos países ajudam a criar demanda e dar previsibilidade para novos investimentos.
  • E novas regras. O CEO da ISA Energia, Rui Chammas, defende que mudanças climáticas exigem atualização da regulação para transmissão de energia. A empresa firmou acordo com EPE e FGV para estruturar propostas que minimizem impactos sociais em casos de eventos climáticos extremos.
  • CO2 biogênico. Heloísa Borges, diretora da EPE, explica que o carbono biogênico gerado na produção de biocombustíveis e biogás tende a ganhar peso na transição energética. O avanço da oferta deve elevar o volume capturado e criar oportunidades para combustíveis sintéticos e para a descarbonização industrial.

Execução. União Europeia quer sair de Belém com compromissos concretos de implementação das metas de Paris e avanços na eliminação gradual dos fósseis — tema defendido pela líder da delegação do Parlamento Europeu, Lídia Pereira. Ela afirma que a UE prova ser possível “descarbonizar e crescer” e cobra maior ambição conjunta.

Minerais críticos. A MP Materials fechou parceria com o Departamento de Guerra dos EUA e a saudita Maaden para criar uma refinaria de terras raras no país árabe, dentro da nova agenda de cooperação Washington–Riad. A empresa diz que o projeto é “crucial” para reequilibrar cadeias de suprimento e prevê usar a base energética saudita para produzir óxidos destinados aos setores industrial e de defesa dos dois países.

Transporte fluvial. O Cade retoma nesta quarta (19/11) o julgamento da compra da WPL pela Navemazônia, operação que envolve o transporte fluvial de combustíveis na Amazônia. O relator, Carlos Jacques, já votou pela aprovação sem restrições, e Vibra, Sabba e Ipiranga figuram como terceiros interessados.

Duas vias. A CNI propõe que o Brasil adote um sistema de certificação dual para o hidrogênio de baixo carbono — com regras alinhadas a mercados externos e um modelo mais flexível para uso doméstico. Um estudo da entidade sugere que a adicionalidade seja opcional no mercado interno, enquanto a certificação para exportação seguiria critérios internacionais mais rígidos.

Gas release de volta. O deputado Kim Kataguiri (União/SP) apresentou o PL 5802/25, que retoma uma proposta para a redução da concentração do mercado de gás natural. O mecanismo está previsto na atual Lei do Gás, mas nunca foi regulamentado — demanda da indústria consumidora e também de concorrentes da Petrobras.

Depois das tempestades. A Enel anunciou que fará reforços em São Paulo e Rio de Janeiro para o período chuvoso, depois de problemas no serviço em 2023 e 2024 que levaram a empresa a correr o risco de perder a concessão paulista.

  • Em SP, a companhia vai contratar 1.200 profissionais adicionais para reforçar as operações de campo, além de realizar podas preventivas.

Indústria química. O plenário do Senado aprovou o Presiq (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química) na terça (18/11). O projeto 892/2025 segue para sanção presidencial. O programa de subsídios foi incluído como item extrapauta da sessão, com o parecer da relatora Daniella Ribeiro (PP/PB).

Gás fora da especificação. A ANP deu três meses para que a Petrobras apresente um plano de modernização da UTGCA, em Caraguatatuba (SP), que desde 2020 opera com teor de metano de 80% — abaixo dos 85% exigidos — após mudança na composição do gás do pré-sal. Desde então, a unidade depende de autorizações especiais.

  • A entrega do plano é condicionante para renovar a autorização temporária.

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