NESTA EDIÇÃO. O incêndio que atingiu parte da Blue Zone adicionou caos e atrasos à COP30.
Falta resolver disputas sobre adaptação, fósseis e financiamento antes do encerramento.
Na véspera do encerramento da COP30, quando os corredores da Blue Zone fervilhavam com reuniões de última hora e rascunhos de texto circulando em ritmo frenético, um incêndio inesperado no início da tarde desta quinta (20/11) paralisou parte do centro de convenções.
As chamas foram rapidamente controladas e não houve feridos, segundo informações oficiais, mas o impacto político permanece: discussões cruciais foram interrompidas, delegações não puderam retomar os trabalhos e o risco de um acordo climático incompleto — ou adiado — agora paira sobre Belém.
Vários pontos-chave seguem indefinidos: do financiamento climático ao pacote final de adaptação, passando pelos roteiros sobre transição para longe dos combustíveis fósseis e erradicação do desmatamento.
No início da semana, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, anunciou que estava trabalhando dois pacotes de decisões para a cúpula, com o objetivo de acelerar as negociações e construir consenso para o texto final até sexta (21/11).
O primeiro pacote de decisões já está atrasado. A promessa era entregá-lo na quarta (19), o que não ocorreu. E ele trata justamente das questões mais espinhosas, que foram separadas da agenda principal para evitar travar as negociações de uma centena de outros tópicos.
À parte dessas discussões estão os “mapas do caminho” para transição e desmatamento.
Também cercados de dúvidas: vão entrar no texto final? Serão vinculativos? Precisam de consensos?
Ontem, o presidente Lula (PT) foi a Belém reforçar a defesa da definição de um mapa para longe dos combustíveis fósseis, mas sem imposições.
“É preciso mostrar pra sociedade o que nós queremos sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país possa determinar o que quer fazer”, disse em discurso à imprensa.
No meio do caminho estão os parceiros do Brasil no Brics. Rússia, Índia, China e África do Sul ainda não manifestaram apoio ao roadmap. Pelo contrário.
Nos bastidores, circula a informação de que China e Índia, assim como a Arábia Saudita e o Japão, estão fazendo campanha para bloquear o avanço da ideia lançada por Lula na Cúpula de Líderes que antecedeu o início da COP.
Colômbia marca posição
A Colômbia — que já declarou sua porção da Amazônia território livre de exploração de combustíveis fósseis — está assumindo a liderança de uma campanha para acelerar a transição.
O país é um dos signatários do “Chamado do Mutirão por um Roteiro para os Combustíveis Fósseis”.
A ministra colombiana do Meio Ambiente, Irene Vélez Torres, planejava um pronunciamento para a tarde de hoje, cancelado pelo incêndio no pavilhão das negociações.
Na ocasião, seria apresentada a Declaração de Belém para a Transição Longe dos Combustíveis Fósseis, reafirmando o compromisso de países em promover uma transição justa, ordenada e equitativa alinhada à meta de 1,5°C.
O documento visto pela eixos diz que essa transição precisa considerar as diversas circunstâncias, capacidades, responsabilidades e pontos de partida nacionais.
E apoiar trabalhadores e comunidades vulneráveis em países dependentes da indústria de combustíveis fósseis.
Também reforça a necessidade de tornar a arquitetura financeira global mais inclusiva e eliminar gradualmente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis “o mais rápido possível”.
Cobrimos por aqui
Curtas
Negociações interrompidas. Um incêndio na Blue Zone ainda sem causas definidas, na tarde desta quinta (20/11), atingiu um estande e levou à evacuação total das salas de negociações da COP30, em Belém (PA). A organização informou que o incêndio foi controlado e não houve feridos. A UNFCCC avisou que o pavilhão não reabrirá antes das 20h, suspendendo todas as reuniões do dia.
- A interrupção ocorre sem que haja um texto consolidado da conferência, atrasando o pacote de decisões previsto para hoje.
Não há solução sem justiça. Antes do incidente, António Guterres havia afirmado, mais cedo em Belém (PA), que a crise climática já causa prejuízos bilionários e que enfrentar a dependência dos combustíveis fósseis é inevitável. A COP30 entra nos seus últimos dois dias com atraso no primeiro pacote de decisões — o que inclui temas sensíveis como transição justa, financiamento e adaptação.
Desigualdade racial. A participação de trabalhadores negros na Petrobras segue abaixo da realidade do mercado: são 32,8% dos quadros, frente aos 55,4% entre os ocupados no país. Um estudo do Dieese e da FUP mostra que a sub-representação é ainda maior na gerência, onde a presença negra caiu de 25,3% em 2010 para 23,8% em 2024.
- O número total de empregados negros também recuou entre 2016 e 2022 e só voltou a crescer a partir de 2023.
Transição dos fósseis. Uma coalizão de 120 empresas e organizações entregou à COP30 uma carta pedindo que os países assumam compromisso com um roteiro robusto para a transição dos fósseis. A iniciativa se soma ao “mapa do caminho” proposto por Lula (PT), que vem ganhando apoio privado.
- EDF, Fortescue, H&M Group, Natura, Saint-Gobain e Volvo aderiram ao apelo por sinais claros aos investimentos.
Gás do Povo. O MME e a Fazenda atualizaram os preços de referência do gás de cozinha (GLP) e definiram que os valores serão revistos a cada 12 meses ou, de forma extraordinária, pelo comitê gestor. Também criaram um gatilho para indicar quando os preços estaduais precisam de novo reajuste. A primeira etapa do programa começa na próxima segunda (24/11).
Ataque hacker. A Petrobras teve 90 GB de dados confidenciais roubados em um ataque hacker. O Grupo Everest anunciou o comprometimento dos sistemas da SA Exploration, que presta serviços à estatal. Parte do material ligado à Petrobras estaria relacionado a pesquisas sísmicas na Bacia de Campos (TecMundo).
Importação de biodiesel. A proposta de consulta pública que proíbe a importação de biodiesel para o atendimento ao percentual obrigatório da mistura de diesel B rachou o governo. A ala mais voltada para o agronegócio e energia defende o modelo atual — em consulta pública — enquanto a Fazenda e a ANP querem a abertura total do mercado.
Eletrificação da frota. Veículos elétricos devem representar 23% do total da frota leve licenciada em 2035, indica o Caderno de Eletromobilidade do PDE 2035. A frota eletrificada pode chegar a 3,7 milhões de unidades, com o flex ainda predominante. A demanda de eletricidade deve crescer de 627 GWh, em 2025, para 7,8 TWh em 2035.
Cooperação com o Japão. A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) e o Japan Atomic Industrial Forum (Jaif) assinaram um memorando de entendimento. O objetivo é fortalecer a colaboração entre Brasil e Japão no avanço da energia nuclear civil.
Captura de carbono. O BNDES lançou um termo de referência para seleção e contratação da consultoria especializada que vai conduzir etapas necessárias à certificação de projeto de carbono do Manguezais do Brasil. A iniciativa, em parceria com a Petrobras, apoia projetos de restauração ecológica de manguezais e restingas no litoral brasileiro.

