diálogos da transição

COP30 sob fumaça: negociações climáticas entram na reta final sem rumo claro

Na reta final da COP30, incêndio suspende debates sobre financiamento, adaptação e transição, ameaçando o texto final

Incêndio na COP30: negociações climáticas entram na reta final sem rumo claro (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
BELÉM - 20/11/2025 -Incêndio em pavilhão da COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

NESTA EDIÇÃO. O incêndio que atingiu parte da Blue Zone adicionou caos e atrasos à COP30.

Falta resolver disputas sobre adaptação, fósseis e financiamento antes do encerramento.


Na véspera do encerramento da COP30, quando os corredores da Blue Zone fervilhavam com reuniões de última hora e rascunhos de texto circulando em ritmo frenético, um incêndio inesperado no início da tarde desta quinta (20/11) paralisou parte do centro de convenções. 
 
As chamas foram rapidamente controladas e não houve feridos, segundo informações oficiais, mas o impacto político permanece: discussões cruciais foram interrompidas, delegações não puderam retomar os trabalhos e o risco de um acordo climático incompleto — ou adiado — agora paira sobre Belém.
 
Vários pontos-chave seguem indefinidos: do financiamento climático ao pacote final de adaptação, passando pelos roteiros sobre transição para longe dos combustíveis fósseis e erradicação do desmatamento.
 
No início da semana, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, anunciou que estava trabalhando dois pacotes de decisões para a cúpula, com o objetivo de acelerar as negociações e construir consenso para o texto final até sexta (21/11).
 
O primeiro pacote de decisões já está atrasado. A promessa era entregá-lo na quarta (19), o que não ocorreu. E ele trata justamente das questões mais espinhosas, que foram separadas da agenda principal para evitar travar as negociações de uma centena de outros tópicos.
 
À parte dessas discussões estão os “mapas do caminho” para transição e desmatamento.
 
Também cercados de dúvidas: vão entrar no texto final? Serão vinculativos? Precisam de consensos?
 
Ontem, o presidente Lula (PT) foi a Belém reforçar a defesa da definição de um mapa para longe dos combustíveis fósseis, mas sem imposições.
 
“É preciso mostrar pra sociedade o que nós queremos sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país possa determinar o que quer fazer”, disse em discurso à imprensa. 
 
No meio do caminho estão os parceiros do Brasil no Brics. Rússia, Índia, China e África do Sul ainda não manifestaram apoio ao roadmap. Pelo contrário. 
 
Nos bastidores, circula a informação de que China e Índia, assim como a Arábia Saudita e o Japão, estão fazendo campanha para bloquear o avanço da ideia lançada por Lula na Cúpula de Líderes que antecedeu o início da COP.



A Colômbia — que já declarou sua porção da Amazônia território livre de exploração de combustíveis fósseis — está assumindo a liderança de uma campanha para acelerar a transição.
 
O país é um dos signatários do “Chamado do Mutirão por um Roteiro para os Combustíveis Fósseis”.
 
A ministra colombiana do Meio Ambiente, Irene Vélez Torres, planejava um pronunciamento para a tarde de hoje, cancelado pelo incêndio no pavilhão das negociações.
 
Na ocasião, seria apresentada a Declaração de Belém para a Transição Longe dos Combustíveis Fósseis, reafirmando o compromisso de países em promover uma transição justa, ordenada e equitativa alinhada à meta de 1,5°C. 
 
O documento visto pela eixos diz que essa transição precisa considerar as diversas circunstâncias, capacidades, responsabilidades e pontos de partida nacionais. 
 
E apoiar trabalhadores e comunidades vulneráveis ​​em países dependentes da indústria de combustíveis fósseis.
 
Também reforça a necessidade de tornar a arquitetura financeira global mais inclusiva e eliminar gradualmente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis “o mais rápido possível”. 


Negociações interrompidas. Um incêndio na Blue Zone ainda sem causas definidas, na tarde desta quinta (20/11), atingiu um estande e levou à evacuação total das salas de negociações da COP30, em Belém (PA). A organização informou que o incêndio foi controlado e não houve feridos. A UNFCCC avisou que o pavilhão não reabrirá antes das 20h, suspendendo todas as reuniões do dia.

  • A interrupção ocorre sem que haja um texto consolidado da conferência, atrasando o pacote de decisões previsto para hoje.

Não há solução sem justiça. Antes do incidente, António Guterres havia afirmado, mais cedo em Belém (PA), que a crise climática já causa prejuízos bilionários e que enfrentar a dependência dos combustíveis fósseis é inevitável. A COP30 entra nos seus últimos dois dias com atraso no primeiro pacote de decisões — o que inclui temas sensíveis como transição justa, financiamento e adaptação.

Desigualdade racial. A participação de trabalhadores negros na Petrobras segue abaixo da realidade do mercado: são 32,8% dos quadros, frente aos 55,4% entre os ocupados no país. Um estudo do Dieese e da FUP mostra que a sub-representação é ainda maior na gerência, onde a presença negra caiu de 25,3% em 2010 para 23,8% em 2024.

  • O número total de empregados negros também recuou entre 2016 e 2022 e só voltou a crescer a partir de 2023.

Transição dos fósseis. Uma coalizão de 120 empresas e organizações entregou à COP30 uma carta pedindo que os países assumam compromisso com um roteiro robusto para a transição dos fósseis. A iniciativa se soma ao “mapa do caminho” proposto por Lula (PT), que vem ganhando apoio privado.

  • EDF, Fortescue, H&M Group, Natura, Saint-Gobain e Volvo aderiram ao apelo por sinais claros aos investimentos.

Gás do Povo. O MME e a Fazenda atualizaram os preços de referência do gás de cozinha (GLP) e definiram que os valores serão revistos a cada 12 meses ou, de forma extraordinária, pelo comitê gestor. Também criaram um gatilho para indicar quando os preços estaduais precisam de novo reajuste. A primeira etapa do programa começa na próxima segunda (24/11).

Ataque hacker. A Petrobras teve 90 GB de dados confidenciais roubados em um ataque hacker. O Grupo Everest anunciou o comprometimento dos sistemas da SA Exploration, que presta serviços à estatal. Parte do material ligado à Petrobras estaria relacionado a pesquisas sísmicas na Bacia de Campos (TecMundo).

Importação de biodiesel. A proposta de consulta pública que proíbe a importação de biodiesel para o atendimento ao percentual obrigatório da mistura de diesel B rachou o governo. A ala mais voltada para o agronegócio e energia defende o modelo atual — em consulta pública — enquanto a Fazenda e a ANP querem a abertura total do mercado. 

Eletrificação da frota. Veículos elétricos devem representar 23% do total da frota leve licenciada em 2035, indica o Caderno de Eletromobilidade do PDE 2035. A frota eletrificada pode chegar a 3,7 milhões de unidades, com o flex ainda predominante. A demanda de eletricidade deve crescer de 627 GWh, em 2025, para 7,8 TWh em 2035.

Cooperação com o Japão. A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) e o Japan Atomic Industrial Forum (Jaif) assinaram um memorando de entendimento. O objetivo é fortalecer a colaboração entre Brasil e Japão no avanço da energia nuclear civil.

Captura de carbono. O BNDES lançou um termo de referência para seleção e contratação da consultoria especializada que vai conduzir etapas necessárias à certificação de projeto de carbono do Manguezais do Brasil. A iniciativa, em parceria com a Petrobras, apoia projetos de restauração ecológica de manguezais e restingas no litoral brasileiro.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética