Diálogos da Transição

COP29 se aproxima com impasse sobre financiamento climático

NCQG é estimada em trilhões de dólares, mas negociações da COP29 caminham para acordo de centenas de bilhões

COP29 se aproxima com impasse no financiamento climático (Foto: Divulgação COP29/Azerbaijão)
Nos dias 10 e 11 de outubro, Baku sediou a Pré-COP, organizada pela Presidência da COP29 | Foto: Divulgação COP29/Azerbaijão

NESTA EDIÇÃO. Na última semana, negociadores da Conferência das Nações Unidas retornaram aos seus países com a missão de buscar apoio político para desbloquear os recursos necessários para enfrentamento à crise climática.
 
A demanda por financiamento está na casa de trilhões de dólares, mas os diálogos estão estacionados nas “centenas de bilhões”.
 
É insuficiente e o histórico mostra que a mobilização falha. Enquanto isso, a transição para renováveis precisa de US$ 1,5 trilhão por ano até 2030.


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A menos de um mês para a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), que será sediada pelo Azerbaijão, as negociações sobre o financiamento para soluções de enfrentamento à crise climática seguem com um impasse entre o que é preciso fazer e o que os países estão dispostos a entregar.
 
Na última semana, ministros, chefes de delegações e negociadores de todo o mundo se reuniram em uma pré-COP em Baku, capital do Azerbaijão, com a missão de “reduzir divisões e gerar progresso antecipado em questões-chave” antes do evento de novembro.
 
Mas, segundo o negociador líder da conferência, Yalchin Rafiyev, enquanto as necessidades estão na casa dos trilhões de dólares, a “meta realista” para em algumas “centenas de bilhões”.
 
Ao comentar a discussão sobre a Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG) justa e ambiciosa sobre financiamento climático – principal entrega da COP29 – Rafiyev disse que há diferentes perspectivas sobre como atingir a ambição, mas que ela deve “responder ao seu propósito de abordar as necessidades e prioridades dos países em desenvolvimento”, incluindo pequenos estados insulares e as nações mais vulneráveis.
 
Um ponto que está sendo enfatizado pelo Azerbaijão, que tem um terço da sua economia dependente de petróleo, é que os países tenham responsabilidades comuns, mas diferenciadas – frase também bastante utilizada pela diplomacia brasileira, anfitriã da COP30 em 2025.
 
“Embora os estados tenham responsabilidades comuns, mas diferenciadas, eles devem deixar de lado as divergências, parar de culpar uns aos outros e encontrar um ponto em comum. Não podemos perder tempo definindo quem é culpado pelo aquecimento global ou quem causou mais danos ambientais”, disse o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, na sexta (14/10).



Em 2022, os países ricos finalmente conseguiram alcançar a meta de mobilizar US$ 100 bilhões anuais para ajudar as demais nações em suas transições para o baixo carbono, com US$ 115,9 bilhões disponibilizados na forma de financiamento climático.
 
Mas o volume – que chegou com atraso – está longe de ser suficiente para apoiar o nível de ação necessário, aponta o think tank Climate Action Tracker (CAT). No estado atual das coisas, o mundo está em direção a um aquecimento de 2,7°C até o fim do século, bem acima da meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
 
Tanto governos de países ricos quanto setor privado precisam mobilizar financiamento climático, de modo a não deixar outras economias para trás – reconhecendo que as emissões não respeitam fronteiras e todos sentirão (se já não estão sentindo), de alguma forma, os impactos da mudança do clima.
 
Por isso, o think tank defende o redirecionamento de recursos para que a escala total do dinheiro disponível para investimentos em mitigação corresponda às necessidades climáticas, estimadas em trilhões por ano.

Só a desfossilização da matriz energética global demandará investimentos na casa de trilhão – e será preciso garantir melhor distribuição desses recursos, já que países emergentes recebem apenas 15%.
 
Na última semana, a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês) alertou que apesar de a instalação de capacidade renovável ter acelerado em 2023, os planos e metas nacionais atuais fornecem apenas metade do necessário até 2030. 
 
Assim como a meta é triplicar a capacidade de fontes como solar e eólica, e alcançar 11 terawatts (TW) de energia não fóssil, o investimento anual neste sentido também terá que triplicar.
 
É preciso saltar do recorde de US$ 570 bilhões em 2023 para US$ 1,5 trilhão a cada ano entre 2024 e 2030, calcula a Irena, ao analisar o progresso das metas de energia estabelecidas pelo Consenso dos Emirados Árabes Unidos na COP28 em Dubai.

  • Triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030 são pilares da estratégia para manter ao alcance a meta de limitar o aquecimento do planeta em 1,5 °C até 2100
  • Para isso, a capacidade renovável instalada teria que crescer de 3,9 TW hoje, para 11,2 TW até 2030, exigindo 7,3 TW adicionais em menos de seis anos
  • No entanto, os planos nacionais atuais são projetados para deixar uma lacuna coletiva de 3,8 TW até 2030, ficando 34% aquém da meta.

Mais ambição, menos fósseis. Às vésperas da COP29, que ocorre em novembro, no Azerbaijão, mais de 100 CEOs e altos executivos de todo o mundo pedem que governos adotem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas e detalhadas, além do fim dos subsídios aos combustíveis fósseis. O grupo inclui empresas como Ørsted, Enel, EDP, Fortescue Metals Group, Banco Santander, Deutsche Bank, Zurich Insurance Group, Volvo e Maersk.
 
SAF no Maranhão. O Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) aprovou, na última semana, a instalação de uma refinaria modular de combustíveis na ZPE de Bacabeira, no Maranhão. O projeto prevê um investimento de R$ 8 bilhões para produção de combustível sustentável de aviação (SAF), diesel comum e renovável, diesel marítimo e gasolina e é liderado pela empresa OilGroup. Veja detalhes
 
Biometano vai deslocar gás e diesel. A presidente da MDC Energia, Manuela Kayath, acredita que o Combustível do Futuro será um grande impulsionador do mercado de biometano no Brasil, com foco, num primeiro momento, na substituição de gás natural de origem fóssil no segmento industrial e do diesel no setor de transporte. Confira na entrevista ao estúdio eixos
 
Mercado livre e GD juntos. Uma das estratégias que ganhou impulso nas empresas que atuam no mercado livre de energia no Brasil é a entrada no segmento da geração distribuída. O objetivo é se aproximar dos clientes de menor porte, como os consumidores residenciais, já em preparação para a abertura total do mercado livre a partir da próxima década. Leia na agência eixos
 
Em chamas. Com mais de 2,3 mil focos de incêndio detectados nas últimas 48 horas, o Brasil já acumula este ano até o domingo (13), 226,6 mil registros detectados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número representa aumento de 76% na comparação com o mesmo período de 2023. (Agência Brasil)
 
Prêmio Mulheres na Transição. Engie e Embaixada da França lançaram, nesta segunda (14/10), o prêmio “Mulheres na Transição Energética” voltado para pesquisadoras e engenheiras. As vencedoras farão uma viagem de uma semana para a França, com agenda de atividades voltadas ao desenvolvimento profissional. Serão três premiações, uma para pesquisadoras, outra para engenheiras e uma terceira focada em profissionais engenheiras da Engie Brasil. As inscrições vão até dia 22 de novembro por meio do formulário.