NESTA EDIÇÃO. Lobistas de combustíveis fósseis superam delegações nacionais e representam 1,5% dos participantes da COP29.
Ex-secretários das Nações Unidas pedem revisão urgente das COPs. Eles consideram que modelo atual é inadequado para responder à crise climática.
Mais: Azerbaijão lança Apelo de Baku sobre Ação Climática para Paz, Alívio e Recuperação; e cúpula de líderes do G20 paralela à COP29 reduz expectativas em relação a acordo de financiamento.
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Pelo menos 1.773 lobistas do carvão, petróleo e gás participam das negociações climáticas em Baku, no Azerbaijão, e representam cerca de 1,5% dos quase 70 mil inscritos, de acordo com levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) divulgado nesta sexta (15/11), o dia da energia na COP29.
A representação está menor do que a do ano passado, na COP28 de Dubai, quando o número de lobistas deste setor bateu recorde de 2.456 – quase 3% dos 85 mil participantes –, mas ainda levanta preocupações sobre os efeitos desse movimento.
A coalizão questiona a influência da indústria que mais impacta as emissões de gases de efeito estufa sobre as difíceis decisões que precisam ser tomadas para limitar o aquecimento do planeta – e que até agora se arrastam a um ritmo que pode levar a um aumento de temperatura de 3,1°C até 2100.
O número de lobistas de combustíveis fósseis supera as delegações de quase todos os países na conferência, mostra a KBPO. Só perdem para o país anfitrião deste ano, o Brasil (que sedia a COP do ano que vem) e a Turquia.
Todos os três países também estão interessados em aumentar sua exploração de petróleo.
E seus argumentos têm ganhado cada vez mais espaço: é preciso garantir, acima de tudo, segurança energética e evitar choques de preços para o consumidor.
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Vale dizer que a cúpula climática começou com um elefante na sala, após a denúncia de que um de seus oficiais estava se aproveitando do evento diplomático para negociar acordos comerciais de combustíveis fósseis.
E já na primeira semana de evento, o presidente do país anfitrião, Ilham Aliyev, declarou que petróleo e gás são um “presente de Deus”, dizendo que as nações “não devem ser culpadas” por suas reservas.
O país planeja expandir a produção de gás em até um terço na próxima década (BBC).
Não surpreende e nem abala, já que desde o anúncio do Azerbaijão como sede das discussões deste ano, ambientalistas já expressavam os riscos de deixar a liderança de negociações para longe de combustíveis fósseis nas mãos de quem tem no petróleo uma fonte significativa de suas riquezas.
Este é um ponto, aliás, que motivou ex-secretários das Nações Unidas a publicarem uma carta aberta nesta sexta, pedindo uma revisão urgente de como as COPs são conduzidas.
No documento, eles destacam limitações da estrutura atual para promulgar mudanças rápidas e em larga escala.
“Agora está claro que a COP não é mais adequada ao propósito”, afirma a carta. “Precisamos mudar da negociação para a implementação”.
Ação climática para paz, alívio e recuperação
Também nesta sexta, a presidência da COP29 lançou o Apelo de Baku sobre Ação Climática para Paz, Alívio e Recuperação (BCCAP), iniciativa que pretende abordar a conexão entre mudança climática, conflito e necessidades humanitárias.
É uma forma de reconhecimento de que os efeitos das mudanças climáticas – como escassez de água, insegurança alimentar, degradação da terra e deslocamento humano – podem catalisar conflitos e instabilidade, especialmente nas regiões mais vulneráveis ao clima.
O chamado foi lançado pelo Ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, e foi endossado por Egito, Itália, Alemanha, Uganda, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido.
De forma prática, a iniciativa estabelece um hub em Baku para coordenar ações para que as promessas sejam cumpridas.
Essas ações estão listadas na Iniciativa de Respostas Climáticas para Sustentar a Paz (CRSP) da COP27, a Declaração sobre Clima, Socorro, Recuperação e Paz (CRRP) da COP28, a Iniciativa Clima para a Paz (C4P) liderada pela Alemanha e a dimensão climática do Plano Mattei para a África da Itália para atender às necessidades dos países vulneráveis ao clima e aos conflitos.
G20 no Rio
O Rio de Janeiro sedia na próxima semana a cúpula de líderes do G20, sob a presidência do Brasil e há expectativas de que o presidente Lula (PT) anuncie o presidente da COP30, que ocorre em 2025 em Belém, no Pará.
O encontro de líderes no Brasil ocorrerá paralelamente às negociações climáticas em Baku. Com os chefes de Estado das 20 maiores economias no Rio de Janeiro, as expectativas em relação à COP29 são baixas.
Um mau presságio, já que a COP29 tem a missão de estabelecer uma nova meta de financiamento climático e precisa convencer os países ricos a pagar a conta.
Por aqui, a agenda da presidência brasileira para o G20 tem insistido que a transição energética precisa ser justa e inclusiva – o que requer distribuição de recursos –, mas a declaração que saiu do encontro de ministros em Foz do Iguaçu (PR), no começo de outubro, mostra que os fósseis podem ter vida longa nas políticas nacionais. Relembre
A semana na COP29
Curtas
Super-ricos pagando a conta. A criação de um imposto global sobre os super-ricos servirá para financiar ações climáticas e combater a fome, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo. O Brasil, à frente dessa edição do G20, encabeça a proposta sob a previsão de arrecadar até US$ 250 bilhões por ano, taxando apenas cerca de três mil pessoas em todo o mundo.
Petrobras renovável. 81% dos entrevistados em uma pesquisa do Instituto ClimaInfo acreditam que a Petrobras deve migrar imediatamente para energia renovável, enquanto 71% acham possível parar de explorar e queimar combustíveis fósseis até 2050. Veja os números completos
Fast-track para financiamento. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, defendeu a exclusão dos recursos para iniciativas climáticas dos limites de endividamento de entes subnacionais, durante a abertura do Urban 20 Summit (U20) no Rio de Janeiro. Ele pediu mais rapidez e facilidade no financiamento. O U20, que reúne cerca de 80 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades, pretende consolidar um documento a ser entregue ao presidente Lula, com o objetivo de influenciar as negociações finais da cúpula de líderes do G20.
Novas metodologias REDD+. O Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM) anunciou nesta sexta (15/11) que aprovou três metodologias para emitir créditos de carbono de alta integridade para reduzir emissões de desmatamento e degradação florestal em países em desenvolvimento (REDD+). Nenhum crédito foi emitido ainda. A expectativa é que os títulossejam rotulados com o selo CCP a partir do início de 2025.
Uma das metodologias é a ART TREES de excelência ambiental, que tem potencial avaliado de emissão de 123 milhões de créditos, em nove jurisdições. O Tocantins foi o primeiro a submeter seu projeto.
Absolvidos. O Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), da regional de Ponte Nova, publicou decisão, nesta quinta-feira (14/11), que absolveu as mineradoras Samarco, Vale e BHP pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana. Considerado uma das maiores tragédias ambientais do país, o rompimento causou a morte de 19 pessoas e despejou 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente em novembro de 2015.