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Confiança na transição energética cai em meio a tensões geopolíticas

Percentual de executivos que acreditam que transição está acelerando despenca de 72% em 2024 para 55% em 2025

Foto Valeriano Di Domenico/WEF
Foto Valeriano Di Domenico/WEF

NESTA EDIÇÃO. Risco político é apontado por executivos do setor energético como principal barreira ao crescimento em 2025.

Brasil aposta no Brics para blindar multilateralismo e destravar agendas de transição justa no Sul Global.


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A confiança na transição energética está diminuindo em meio às incertezas econômicas e geopolíticas, mostra uma pesquisa da DNV com mais de 1.100 profissionais seniores de energia, divulgada nesta terça (29/4).
 
Entre os entrevistados, apenas 55% acreditam que a transição está acelerando — abaixo dos 72% em 2024 – enquanto 96% dizem que há uma necessidade urgente de maior investimento na rede elétrica.
 
 O risco político é visto como a principal barreira ao crescimento em 2025.
 
Segundo o relatório (.pdf), no início de 2025, o Índice de Incerteza da Política Econômica Global – criado há quase 30 anos para medir a incerteza criada por políticas fiscais, políticas, regulatórias e monetárias – atingiu um recorde histórico, superando seu pico anterior de abril de 2020, no auge da pandemia de Covid-19.
 
“Pensar que, pelo menos por essa métrica, estamos em tempos mais incertos do que em abril de 2020 demonstra o quanto de perturbação e imprevisibilidade existe no ambiente político atual, em grande parte causada por questões nacionais, como segurança energética, autossuficiência e mudanças no sentimento do eleitorado”, aponta a DNV.
 
Há uma percepção de que a guerra comercial iniciada pelos EUA de Donald Trump aumentou as incertezas em relação à transição, embora ainda seja preciso aguardar o desenrolar das negociações em andamento.
 
Esse cenário reflete na confiança dos executivos em relação a 2025.
 
No segmento de energias renováveis, apenas 50% esperam atingir suas metas de receita e 43% estão otimistas quanto aos lucros — uma queda em relação aos 75% e 67% de três anos atrás.
 
Ao mesmo tempo, cresceu o número de executivos do setor de petróleo e gás afirmando que suas organizações priorizarão combustíveis fósseis em vez de energias renováveis ​​nos próximos cinco anos — 53% em 2025, ante 46% em 2024.
 
Embora a maioria (69%) de todos os entrevistados continue otimista sobre o futuro da eletrificação e descarbonização da matriz global, o percentual é inferior aos 74% de anos anteriores.



Também nesta terça, a presidência brasileira do Brics divulgou um documento em defesa do financiamento climático e da industrialização de minerais críticos em países do Sul Global. 
 
Atualmente, o bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e, mais recentemente, Indonésia.
 
Durante a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics no Rio de Janeiro, o grupo reiterou seu apoio ao “Roteiro de Baku a Belém para 1,3 trilhão”, que busca ampliar o financiamento climático para países em desenvolvimento.
 
A diplomacia brasileira considera a sua presidência no Brics como uma ponte entre a liderança do Brasil no G20, em 2024, e a presidência da COP30, marcada para novembro deste ano, em Belém.
 
Além de uma oportunidade de costurar acordos para enfrentar os ataques ao multilateralismo, intensificados ao longo dos 100 primeiros dias de Trump na presidência dos EUA.
 
Na segunda (28), o ministro das Relações Exteriores do Brasil, o embaixador Mauro Vieira, disse que o bloco conta com uma posição única para promoção do diálogo.
 
“O Brics como grupo reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro, tanto em suas respectivas regiões quanto em todo o mundo”, discursou na abertura dos trabalhos. 
 
“Isso faz parte da nossa contribuição para uma distribuição justa de poder nos assuntos globais, condição para que a paz, o desenvolvimento e a sustentabilidade sejam alcançados. Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez de unilateralismo”, completou.


Mineração submarina. The Metals Company USA (TMC USA) apresentou nesta terça (29/4) seus pedidos de licença de recuperação comercial e de duas licenças de exploração mineral no Pacífico à gestão de Donald Trump, nos Estados Unidos. É o primeiro do tipo no mundo. A subsidiária estadunidense da TMC tenta contornar uma discussão em andamento na Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, em inglês).
 
Baixo orçamento para transição. Sede da cúpula climática das Nações Unidas em 2025, a COP30, o Brasil quer mostrar ao mundo seu protagonismo na transição energética e descarbonização da economia, mas faltam recursos e coordenação na Esplanada dos Ministérios, aponta um levantamento publicado nesta terça (29/4) pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
 
O biometano pode ser para o Brasil o que o hidrogênio verde é para a Europa, uma molécula-chave na transição energética, com a vantagem de aproveitar a infraestrutura de gás já existente, avalia Sébastien Lahouste, CEO da Fluxys Brasil, em entrevista à agência eixos.
 
Descarbonização da indústria. O encerramento do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) no fim de 2026 tem movimentado o mercado na busca de um substituto para o modelo de incentivos. Um forte candidato para ocupar o lugar do Reiq é o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), em tramitação na Câmara dos Deputados.
 
Sustentabilidade como estratégia. A quantidade de empresas que incluíram a sustentabilidade na estratégia corporativa aumentou, mas o retorno financeiro dessas ações segue sendo um desafio, aponta pesquisa da Amcham Brasil. Ao todo, 72% das empresas entrevistadas passaram a adotar ações de sustentabilidade. A porcentagem era de 34% no levantamento anterior.
 
Apagão na Europa. Em Portugal, a companhia elétrica EDP afirma que o fornecimento de eletricidade foi totalmente restabelecido nas redes de distribuição do país após um apagão que afetou Espanha e Portugal na segunda-feira (28/4), segundo o CEO Miguel Stilwell dAndrade em comentários enviados por e-mail.
 
Nuclear na China. O Conselho de Estado da China aprovou no fim de semana o desenvolvimento de dez novos reatores nucleares no país, a um custo estimado combinado de 200 bilhões de yuans (US$ 27 bilhões). Este é o quarto ano consecutivo em que o Conselho de Estado da China aprova pelo menos dez novas unidades de reatores nucleares.
 
Renovabio no TCU. O Tribunal de Contas da União avalia na próxima quarta-feira (30/4) uma denúncia sobre possíveis ilegalidades na gestão, transparência e controle dos recursos e operações com a comercialização dos créditos de descarbonização (os CBIOs).
 
Renovação de concessões. Depois de dois adiamentos, a Aneel decidiu, nesta terça-feira (29/4), recomendar a renovação do contrato de distribuição da EDP Espírito Santo. O próximo passo é a análise do Ministério de Minas e Energia. Os termos aprovados pela agência deverão pautar a renovação das próximas 18 distribuidoras com contratos a vencer até 2031.
 
Painéis mais caros. O custo médio de instalação de projetos residenciais de energia solar subiu 5% no Brasil no primeiro trimestre de 2025, indica a Solfácil. Na comparação com o último trimestre do ano passado, o preço foi de R$ 2,46 por Watt-pico (Wp) para R$ 2,57/Wp. Segundo a empresa, o crescimento é consequência do aumento nos preços dos equipamentos fotovoltaicos.
 
Chamada para inovação. A Shell Brasil está com inscrições abertas para o Shell StartUp Engine (SSE), programa que impulsiona o empreendedorismo com soluções voltadas para tecnologias sociais e alternativas energéticas mais limpas, eficazes e seguras. A iniciativa recebe inscrições até o dia 10 de maio.

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