Diálogos da Transição

Como a inteligência artificial pode ser boa e ruim para o clima

IA do Google ajuda a combater desmatamento na Amazônia; ChatGPT, chatbot que simula conversa natural, preocupa pesquisadores pela habilidade de gerar narrativas falsas

Como a inteligência artificial pode ser boa e ruim para o clima. Na imagem: Tela de celular com os textos "live chat" e "Hi! How can I help You?" (Foto: Getty Images)
Pesquisadores conseguiram manipular 100 narrativas falsas no ChatGPT, que simula conversa humana (Foto: Getty Images)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

O Google anunciou hoje (4/4) em Belém, no Pará, três iniciativas que usam inteligência artificial (IA) para ajudar na preservação do meio ambiente, em especial da Amazônia. Os projetos vão rastrear madeira ilegal, monitorar desmatamento e alertar sobre incêndios florestais e inundações.

Em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) no Brasil, o projeto Digitais da Floresta desenvolverá tecnologias baseadas em IA e bioquímica para ajudar a identificar e rastrear a origem da madeira comercializada a partir da Amazônia.

Uma plataforma de inteligência (aplicativo e web) permitirá que autoridades e o consumidor final identifiquem se um produto é feito com madeira de origem autorizada ou ilegal. Para dar escala ao projeto, a área filantrópica do Google doará cerca de R$ 5,4 milhões à TNC.

As outras duas unem IA e Machine Learning em ferramentas de prevenção a desastres e combate ao desmatamento.

atualização das imagens da Floresta Amazônica, de 2020 a 2022, no Earth Timelapse, traz detalhes sobre as perdas de vegetação que ocorreram na floresta durante o período. A réplica digital do planeta Terra em 3D revela imagens de como a Amazônia (e outras florestas ao redor do mundo) mudaram ao longo do tempo.

O Google também irá atuar em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para a detecção precoce de incêndios florestais e com o Alerta de Inundações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Os alertas de incêndios contam com IA que usa imagens de satélite para detectar estágios iniciais de incêndios florestais e agilizar sua contenção. Já o alerta de inundações passará a mostrar previsões para 27 cidades no Brasil.

Está nos planos expandir o serviço para mais 20 cidades até o primeiro semestre de 2023 e desenvolver a plataforma de alertas de inundações para notificações em celulares Android.

Alerta para ChatGPT

Nem tudo são flores e a velocidade com que a inteligência artificial está, literalmente, ganhando o mundo, preocupa desde reguladores a ambientalistas.

O novo favorito do momento — para o bem e para o mal — é o ChatGPT.

Um estudo da NewsGuard, empresa que monitora e pesquisa desinformação online, descobriu que o modelo mais recente do chatbot da OpenAI, o ChatGPT-4, é “mais suscetível a gerar desinformação” e “mais convincente em sua capacidade de fazê-lo” do que a versão anterior, produzindo respostas sofisticadas quase indistinguíveis das escritas por humanos.

Colabora para essa percepção de risco uma ideia equivocada que o GPT tem o propósito de fornecer informações precisas, o que não é o caso. Ele é muito bom em simular a linguagem natural.  E está cada vez mais assertivo.

Os pesquisadores conseguiram manipular 100 narrativas falsas no aplicativo, uma delas um artigo hipotético, da perspectiva de um negador da mudança climática, afirmando que as temperaturas globais estão diminuindo, e não aumentando. Inside Climate

Em janeiro de 2023, o NewsGuard instruiu o ChatGPT-3.5 a responder a uma série de solicitações relacionadas a 100 narrativas falsas derivadas das impressões digitais de desinformação do banco de dados da organização. O chatbot gerou 80 das 100 narrativas falsas.

Já em março, os pesquisadores executaram o mesmo exercício no ChatGPT-4, usando as mesmas narrativas e prompts falsos. O ChatGPT-4 respondeu com afirmações falsas e enganosas para 100 de 100.

“As descobertas da NewsGuard sugerem que a OpenAI lançou uma versão mais poderosa da tecnologia de inteligência artificial antes de corrigir sua falha mais crítica: a facilidade com que ela pode ser armada para fabricar campanhas de desinformação”, diz o estudo.

Outro ponto cego é a pegada de carbono associada aos grandes centros de dados em todo o mundo para treinar algoritmos de IA.

Só o treinamento do ChatGPT-3 gastou 1.287 gigawatts-hora, de acordo com um trabalho de pesquisa  publicado em 2021. Mas como falta transparência no uso de energia para desenvolver as múltiplas formas de IA no mercado, cientistas ainda não conseguiram calcular seus efeitos sobre o clima. Bloomberg

Cobrimos por aqui:

Curtas

Enquanto isso, cientistas sofrem perseguição…

A maioria dos cientistas climáticos que estão regularmente sob os olhos do público são vítimas de abuso e assédio online, de acordo com as descobertas de uma nova pesquisa divulgada hoje pela Global Witness. A pesquisa entrevistou 468 cientistas climáticos e especialistas de todo o mundo.

Quatro em cada dez dizem que sofreram assédio ou abuso online relacionado ao seu trabalho (183 de 468). Isso sobe para metade (49%) daqueles que publicaram mais de dez artigos de periódicos e para 73% entre os que aparecem pelo menos uma vez por mês na mídia. Os locais de abuso mais citados foram o Twitter e o Facebook (por 44% e 31%, respectivamente).

…e aquecimento na Itália ameaça estações de esqui

A popular estação de esqui Monte Cimone, nas montanhas dos Apeninos, investiu 5 milhões de euros na fabricação de neve artificial antes do inverno, na tentativa de evitar o impacto do aquecimento global. O dinheiro foi em grande parte desperdiçado.

O canhão de neve provou ser inútil porque as gotas de água que eles lançam no ar precisam de um clima gelado para cair no chão como neve, e até meados de janeiro a temperatura nunca caiu abaixo de zero. Reuters 

Para a agenda

A Renovigi Energia Solar promove nesta quarta (5/4), às 10h30, uma live com a engenheira Joiris Manoela, para esclarecer pontos práticos do Marco da Micro e Minigeração Distribuída. Entre eles, como as distribuidoras calculam a tarifa e como analisar a fatura antes e depois para apresentar o retorno do investimento dos sistemas. Transmissão no canal da Renovigi no YouTube