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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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O governo alemão de Olaf Scholz conseguiu aprovar o orçamento de 2024 agora em fevereiro, após algumas semanas de atraso, uma batalha no parlamento e um corte orçamentário que pode refletir nos investimentos em transição energética – inclusive no Brasil.
A imposição de um corte de 60 bilhões de euros do Fundo para o Clima e a Transformação (KTF) obrigou o governo a redimensionar as dotações de uma série de ministérios, entre eles o para Assuntos Econômicos e Proteção Climática (BMWK), que também sofreu um corte de 200 milhões de euros este ano.
O BMWK é o responsável pela realização do leilão alemão de hidrogênio, o H2 Global, que está em curso, e o H2-Uppp, que apoia, via Parceria Público-Privada, iniciativas de aplicações de hidrogênio verde em países emergentes.
Por aqui, o H2-Uppp financia o projeto do Grupo Mele de produção de biogás, no Paraná, que pretende exportar bio-syncrude – um substituto sintético sustentável do petróleo bruto – para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), em refinarias na Alemanha.
A Embaixada da Alemanha no Brasil afirma que não há mudanças na cooperação atual ou nos compromissos de cooperação futura na área de desenvolvimento sustentável.
Mas, no país europeu, o clima é tenso. Apesar de parcialmente aprovado, o governo ainda tem muito trabalho para colocar de pé o orçamento de 2024, sob pressão do agronegócio alemão.
Em entrevista à agência epbr, um dos líderes da oposição ao governo Scholz, o deputado Thomas Silberhorn, do partido conservador CSU – partido da ex-chanceler Angela Merkel – e presidente do grupo parlamentar Brasil-Alemanha no Bundestag, deixou claro que os investimentos em transição energética no exterior não podem comprometer o agro e a indústria alemã.
“Os investimentos estrangeiros na transição climática e energética não devem ser contrabalançados com investimentos nacionais. Pelo contrário: a nossa indústria e agricultura nacionais devem ser apoiadas para que possam assumir um papel pioneiro a nível internacional na transformação da economia”, disse o deputado.
“Os projetos que deveriam ser financiados pelo Fundo para o Clima e a Transformação (KTF) serão interrompidos ou encerrados”, completa. Leia na reportagem de Gabriel Chiappini
Estratégia para hidrogênio
Em julho de 2023, a Alemanha atualizou sua estratégia para o hidrogênio, limitando o apoio financeiro direto à produção a partir da eletrólise com energias renováveis, mas abrindo a possibilidade para o consumo do energético oriundo de outras fontes.
Diferente da original, publicada em 2020 e que previa apenas o hidrogênio verde (via eletrólise), a nova estratégia inclui o uso de fontes como gás natural e resíduos para aumentar o leque de possibilidades até que a oferta via eletrólise ganhe escala.
Mesmo com a meta de alcançar 10 GW de capacidade doméstica de produção de hidrogênio verde até 2030, o país estima que precisará importar até 70% do hidrogênio para atender sua demanda interna.
Por falar em SAF…
A brasileira Embraer anunciou na última semana que se juntará ao United Airlines Ventures (UAV) Sustainable Flight Fund, um fundo de investimentos focado em expandir o fornecimento de combustíveis sustentáveis para aviação por meio do investimento em startups.
Lançado em fevereiro de 2023, o fundo conta com 22 empresas parceiras de diversos setores e mais de US$ 200 milhões em capital para investir na descarbonização das viagens aéreas.
Com meta de chegar a 2050 com emissões líquidas zero, a indústria precisará investir algo em torno de US$ 5 trilhões até meados do século em tecnologias de aeronaves, SAF e propulsão a hidrogênio, entre outras, estima a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, em inglês).
Cobrimos por aqui:
- Hidrogênio limpo mais barato ajudará a conter custos na aviação
- Emirates cria fundo de US$ 200 milhões para descarbonizar aviação
- Produção de SAF deve triplicar em 2024, mas barreiras persistem, diz Iata
- Acordo Brasil-Alemanha inclui renováveis e hidrogênio verde
Curtas
Aliança latino-africana
Em visita ao continente africano na semana passada, Lula (PT) defendeu uma forte aliança entre os países da América Latina e da África em torno da agenda de transição energética. A agricultura saudável também está entre os eixos prioritários para alianças entre as duas regiões.
Questão de Direitos Humanos
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) está atualmente deliberando sobre um parecer consultivo que pode pressionar os governos da América Latina e do Caribe a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, apoiar medidas de adaptação às mudanças climáticas e estabelecer mecanismos para lidar com as perdas e danos.
O processo teve início após uma solicitação formal apresentada no ano passado por Colômbia e Chile – cujos governos buscam se posicionar como líderes ambientais na América Latina.
Anti-ESG
Os gestores de ativos norte-americanos JP Morgan Asset e State Street anunciaram quase simultaneamente que vão deixar a iniciativa Climate Action 100+, coalizão formada por mais de 700 grandes investidores para pressionar grandes emissores de gases de efeito estufa a descarbonizar suas operações.
A debandada representa uma saída de quase US$ 14 trilhões em ativos do grupo, e possivelmente estão relacionadas ao endurecimento da postura da CA100+ que, no ano passado, entrou em uma segunda fase para pressionar as empresas a reduzirem de fato suas emissões.
Mapeamento para prevenção de desastres
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) fará um mapeamento em 10 municípios brasileiros para levantar informações que vão subsidiar ações de monitoramento e alerta de desastres, planejamento urbano e gestão territorial. As equipes do SGB realizarão os trabalhos de campo em cidades de Alagoas, Minas Gerais, Pará, Pernambuco e Santa Catarina entre 19 de fevereiro e 9 de março.
Seleção de startups
O Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano está com inscrições abertas para participar do Momento Startups de Biogás, em Chapecó (SC), nos dias 16 e 17 de abril. As melhores soluções inscritas, de acordo com a pontuação, poderão apresentar um pitch (presencial ou virtualmente), levar o case ao Espaço de Negócios do Fórum para networking ou, ainda, integrar o catálogo do evento. Inscrições podem ser feitas até 8 de março no site do evento.