diálogos da transição

Cinco pontos-chave da transição energética para ficar de olho em 2026

Transição da navegação, mapa do caminho dos combustíveis fósseis, minerais críticos, acordo Mercosul-UE e data centers devem movimentar agenda energética em 2026

19/11/2025 - Belém - O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala com o Presidente da COP 30 André Corrêa do Lago durante a 30ª Conferência das Partes (COP30).  Foto de Ueslei Marcelino/COP30

19.11.2025 - Belém - Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva, talks to COP30 President André Corrêa do Lago Brazil during the 30th Conference of the Parties (COP30). Photo by Ueslei Marcelino/COP30
19/11/2025 - Belém - O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala com o Presidente da COP 30 André Corrêa do Lago durante a 30ª Conferência das Partes (COP30). Foto de Ueslei Marcelino/COP30 19.11.2025 - Belém - Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva, talks to COP30 President André Corrêa do Lago Brazil during the 30th Conference of the Parties (COP30). Photo by Ueslei Marcelino/COP30

A edição de hoje será a última Diálogos da Transição de 2025. Desejo a você que nos acompanhou ao longo deste ano um feliz e saudável período de festas. Voltaremos em fevereiro de 2026 para acompanhar os desdobramentos da transição energética na política, economia e negociações internacionais. Até logo!


O ano de 2025 foi marcado por grandes expectativas, mas também por um ambiente geopolítico cada vez mais tenso. 
 
Da tentativa de aprovar uma política global para descarbonizar o transporte marítimo à definição de um mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, as negociações climáticas ficaram condicionadas a disputas comerciais, preocupações com segurança energética e rearranjos nas cadeias globais de suprimentos — o que contribuiu para travar o avanço dessas pautas.
 
Com a chegada de 2026, elas retornam ao centro do debate sob ainda mais pressão. Inclusive no Brasil
 
A discussão sobre uma taxa de carbono para navios e políticas para combustíveis sustentáveis esbarra em interesses diferentes do Norte e do Sul. 
 
Enquanto isso, a corrida por minerais críticos e o acordo Mercosul–União Europeia expõem os limites entre ambição ambiental e pragmatismo econômico.
 
Paralelamente, a expansão acelerada de data centers e da inteligência artificial adiciona uma nova camada de complexidade à transição, ao elevar a demanda por energia e minerais em um mundo fragmentado. 
 
Juntos, esses cinco temas prometem testar, no próximo ano, a resiliência das políticas climáticas diante de um cenário internacional que redefine prioridades, alianças e os limites da corrida verde.
 
A seguir, um resumo desses cinco pontos-chave para ficar de olho no ano que vem.



O apelo do presidente Lula (PT) por um mapa do caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis deu o que falar nas duas semanas de novembro em que ocorreu a COP30, mas a cúpula de Belém (PA) terminou sem um consenso sobre o tema.
 
Para não perder o momentum, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, assumiu então a missão de elaborar esse roteiro: com Opep, com tudo.
 
O resultado deve ser apresentado até a COP31, da Turquia (co-presidida pela Austrália).
 
Internamente, o governo brasileiro também ganhou um dever de casa. No início de dezembro, Lula assinou um despacho dando 60 dias para MME, MMA, Fazenda e Casa Civil entregarem diretrizes para um mapa do caminho, além de um fundo para transição energética. A conferir nos próximos meses.

Em abril de 2025, a comunidade internacional celebrou o que parecia um grande passo à frente na transição energética de navios.
 
Responsável por cerca de 80% do frete internacional e 3% das emissões de gases de efeito estufa, o transporte marítimo chegou a um acordo histórico para estabelecer padrões obrigatórios de combustível e introduzir um mecanismo de precificação de carbono.
 
Mas o tratado ficou pelo caminho após forte pressão dos Estados Unidos contra sua ratificação e ameaças de retaliação por parte da gestão de Donald Trump.
 
O efeito foi o adiamento da decisão. Na reunião de outubro, quando os 175 Estados-membros da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) deveriam ratificar a decisão de abril, a decisão foi de adiar o tema por um ano — o que significa que teremos novas discussões sobre isso em 2026.
 
O Brasil, aliás, também adiou a entrega de sua proposta para incluir a navegação no Combustível do Futuro, com uma política para incentivar a substituição de fósseis no setor. O novo horizonte também é o ano que vem.

No pano de fundo do tarifaço de Donald Trump que marcou boa parte do noticiário ao longo de 2025, a corrida por minerais críticos e estratégicos para transição energética e digitalização está aquecendo debates sobre os limites do oceano.
 
Enquanto a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, em inglês) discute um código de mineração para regular a exploração mineral em águas profundas, cresce a pressão por uma proibição ou moratória da prática.
 
Em terra, a demanda por esses insumos também é alvo de disputas. Em outubro, a China chegou a aplicar medidas de controle de exportação de terras raras, em meio a uma disputa com os EUA. Elas foram suspensas um mês depois.
 
No Brasil, a expectativa é de um marco legal. Prometida há mais de dois anos pelo governo, a política setorial é aguardada pela indústria para indicar os rumos dos investimentos.

Os minerais críticos também estão no centro das atenções da União Europeia nas negociações do acordo comercial com o Mercosul — também adiado para o ano que vem.
 
Os agricultores europeus conseguiram pressionar a Comissão pelo adiamento da assinatura do tratado, que estava prevista para ocorrer no sábado (20/12) em Foz do Iguaçu (PR), na cúpula do Mercosul.
 
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho da UE, Antonio Costa, haviam planejado viajar até a cidade paranaense se houvesse a maioria necessária no bloco. O que não ocorreu.
 
A Itália manifestou que não aprovaria o texto, pedindo mais tempo para entender a proposta de salvaguardas extras aos produtores agrícolas europeus. França, Polônia e Áustria, que são contra o acordo, completaram o quórum para travar o texto. (DW)
 
As negociações devem ser retomadas no ano que vem, embora o clima para isso esteja esfriando.

volta ao Brasil, a discussão sobre a criação definitiva do Redata (Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center) ficará para 2026, junto com a definição de um marco legal para a inteligência artificial.
 
Na Câmara dos Deputados, os temas estão sob análise do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), relator do PL 2338/2023, já aprovado pelo Senado. O texto, no entanto, ainda carece de acordo entre governo e Congresso.
 
Intensivo no consumo de eletricidade, esse setor deve movimentar o debate energético nacional. Especialmente porque os incentivos do Redata estão atrelados à contratação de energia renovável ou “limpa”, esta última aberta a interpretações, por enquanto.
 
No Congresso Nacional, indústrias de gás natural e nuclear já se movimentam para assegurar seu reconhecimento na política para data centers. 
 
As baterias também entram no jogo, inclusive com seu primeiro leilão à vista.


SAF de resíduos. A Geo biogas quer provar que a vinhaça e a torta de filtro da cana-de-açúcar podem dar origem ao querosene renovável “mais competitivo do mundo”, com menor pegada de carbono e maior aceitação internacional. A rota é uma alternativa para concorrer com projetos baseados em óleo vegetal, como o coprocessado da Petrobras e o SAF de macaúba da Acelen, 
 
Fertilizantes na Bahia. A Petrobras informou nesta sexta-feira (19/12) que iniciou o comissionamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), em Camaçari (BA). A estatal espera retomar em janeiro de 2026 as operações do ativo — parado desde o fim de 2022.
 
Menor consumo. O Brasil consumiu 69.713 MWmed em novembro, queda de 1,8% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo a CCEE. Um dos fatores que levou à retração foram as temperaturas mais amenas em comparação ao mesmo período do ano passado e a consequente menor utilização de aparelhos de refrigeração.
 
Sanção contra petróleo russo. O Reino Unido impôs novas sanções a mais quatro empresas petrolíferas russas, aumentando a pressão ao Kremlin para colocar fim à guerra da Ucrânia. As medidas atingem diretamente as maiores empresas petrolíferas russas ainda não sancionadas: Tatneft, Russneft, NNK-Oil e Rusneftegaz Group.

A Hora do Brasil na atração de investimentos em energia Incertezas e falta de continuidade na política energética norte-americana tornam Brasil destino natural para receber investimentos, escreve Pietro Mendes
 
Inteligência artificial, matriz energética e soberania Ainda tratamos energia como um setor, quando o mundo já a trata como infraestrutura decisória de competitividade, escrevem Bianca Bez e Daniel Becker
 
Leilão de baterias: como garantir flexibilidade ao menor custo Excesso de renováveis, rampas mais íngremes e cortes de geração colocam baterias no centro da estratégia para reduzir custos sistêmicos e evitar a contratação de soluções mais lentas e caras, escreve Bernardo Bezerra
 
2026: o ano da ‘virada de chave’ para o mercado de armazenamento de energia O caminho para o mercado brasileiro de baterias tende a ser bastante promissor nos próximos anos, escreve Gilberto Camargos
 
O novo marco do setor elétrico e o futuro da experiência da conta de luz no Brasil Nova regulação acelera abertura total, reduz distorções e incorpora dados, digitalização e armazenamento para transformar a relação do consumidor com a conta de luz, escreve Eduardo Miranda
 
Petrobras, Lightsource bp e o risco de confundir transição energética com má alocação de capital Entrada na Lightsource bp não é passo óbvio nem inteligente para uma companhia como a Petrobras, escreve Jean Paul Prates
 
Redução do orçamento da ANP: retroceder agora é baixar a guarda no momento decisivo da luta Corte de recursos ameaça avanços recentes contra a evasão fiscal e o crime organizado em um setor que arrecada mais de R$ 350 bi por ano, escreve Leonardo Linden
 
O Fundo Tropical de Florestas é inovador, mas não é uma bala de prata TFFF não substitui nenhum tipo de política pública ou estrutura legal de proteção ambiental, escrevem Felipe Vignoli e Lucas dos Santos Formigoni

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