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CCUS dentro, nuclear fora: Europa define hidrogênio de baixo carbono

Ato Delegado da UE define que hidrogênio de baixo carbono precisa atingir 70% de redução nas emissões

Comissão Europeia publica Ato Delegado com as definições do que é hidrogênio de baixo carbono (Foto: EC-Audiovisual Service)
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (Foto: EC-Audiovisual Service)

NESTA EDIÇÃO. Gás natural com captura de carbono entra no rol de tecnologias que poderão ser apoiadas pela União Europeia para produção de hidrogênio de baixa emissão.

Nuclear fica para depois. Uma consulta pública prevista para 2026 vai analisar impacto da inserção dos reatores na política climática.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A Comissão Europeia publicou esta semana o aguardado Ato Delegado com as definições do que é hidrogênio de baixo carbono, apto a receber incentivos do bloco: precisa atingir 70% de redução nas emissões de gases de efeito estufa em comparação com o uso de combustíveis fósseis.
 
“Isso significa que o hidrogênio de baixo carbono pode ser produzido de várias maneiras, por exemplo, usando gás natural com captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS)”, explica a Comissão em nota.
 
Segundo o braço executivo da União Europeia, a publicação é um sinal verde para desbloquear investimentos e acelerar a expansão da produção de hidrogênio em toda a Europa.
 
No cenário de fundo, há uma preocupação sobre a capacidade de o bloco formado por 27 países conseguir alcançar o objetivo de ter 20 milhões de toneladas de hidrogênio verde sendo consumido internamente até 2030, como previsto no RePowerEU — programa de substituição do gás natural russo.
 
A meta, desenhada para a molécula obtida via eletrólise com energias renováveis, prevê 10 milhões de toneladas supridas pela produção doméstica e outras 10 milhões de toneladas via importação.
 
Mas tanto a produção doméstica como a exterior estão longe desse número mágico. 
 
Os investimentos recuaram no último ano e os desafios vão desde linhas de transmissão para levar eletricidade aos eletrolisadores até infraestrutura para escoamento do gás renovável.

Para aprofundar:



Uma das expectativas em relação ao ato publicado no início da semana era o reconhecimento da geração nuclear como fonte de energia limpa para a obtenção do hidrogênio. Ficou para o futuro.
 
A promessa é de uma consulta pública em 2026, sobre um projeto de metodologia para a utilização de contratos corporativos de aquisição de energia (PPAs) para energia nuclear, “reforçando a clareza para a produção de hidrogênio de baixo carbono a partir de fontes nucleares diretas”.
 
E um prazo até 1 de julho de 2028, para avaliar o impacto da introdução de centrais nucleares na metodologia.
 
O que deve incluir eficiência econômica, potencial de redução de emissões e “a importância de manter condições equitativas com eletricidade totalmente renovável”, sinaliza.

O Parlamento e o Conselho Europeu ainda terão dois meses para analisar o texto da Comissão e aceitar ou rejeitar as propostas — não é possível mudá-las. O prazo ainda pode ser prorrogado por mais dois meses. 
 
Há uma preocupação de ambientalistas sobre a repercussão do apoio ao gás na própria política da UE de redução de dependência de combustíveis fósseis, mas também em torno de uma “brecha para emissões de metano”. 
 
“Tanto o gás canalizado quanto o liquefeito agora veem seus valores padrão de dióxido de carbono reduzidos em um terço, enquanto uma brecha permanente foi criada para emissões de metano resultantes da liquefação, regaseificação e transporte de GNL”, comenta Esther Bollendorff, coordenadora sênior de Política de Gás da Climate Action Network (CAN) Europe.
 
Para Bollendorff, os valores padrão do ato delegado não chegam nem perto das medições científicas reais das emissões de CO2, nem dos vazamentos de metano. 
 
“Essas regras, em última análise, resultarão em greenwashing do hidrogênio fóssil e darão à indústria uma vida útil prolongada para o uso de gás fóssil por meio da captura e armazenamento de carbono”, completa a coordenadora da ONG.


Diretoria de Transição Energética. O Conselho de Administração da Petrobras aprovou nesta sexta (11/7) o nome de Angélica Garcia Cobas Laureano para a diretoria executiva de Transição Energética e Sustentabilidade. Com a nomeação, a estatal tem, pela primeira vez, maioria feminina na direção executiva — são cinco mulheres e quatro homens.

PL do licenciamento ambiental. Em audiência da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Câmara dos Deputados na quinta (10/7), representantes do governo apontaram “dano irremediável” no PL 2159/2021, do novo licenciamento ambiental, e um elevado risco de judicialização do tema. A votação da matéria está prevista para a próxima semana. 

Atraso em obras de transmissão. Das 60 obras de transmissão monitoradas pela Aneel, dez estão atrasadas. Dos empreendimentos, sete estão fora do cronograma por enfrentarem problemas com licenciamento ambiental. Os agentes relataram dificuldades no Ibama e em órgãos ambientais dos estados. 

Motor marítimo a etanol. A Companhia Brasileira de Offshore (CBO) anunciou esta semana a formalização do contrato do Projeto Etanol, para início da conversão de um motor marítimo de grande porte para operar com sistema dual-fuel diesel/etanol. A previsão é que ele entre em operação em 2027. O grupo espera uma redução nas emissões de CO2 entre 15% e 20% por motor convertido.

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