Diálogos da Transição

Brasil registrou recorde de desastres climáticos em 2023

No ano passado, 1.161 ocorrências foram mapeadas pelo Cemaden; impactos das mudanças climáticas são ainda mais severos para pessoas em áreas de risco

Brasil registrou recorde de desastres climáticos em 2023, confirmado pelos cientistas como o ano mais quente da história. Na imagem: Estragos e prejuízos aos moradores causados pelas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que teve diversos pontos de alagamentos com a enchente do rio Botas, em 16/1/2024 (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Estragos e prejuízos aos moradores causados pelas chuvas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que teve diversos pontos de alagamentos com a enchente do rio Botas (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Editada por Nayara Machado
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Confirmado pelos cientistas como o ano mais quente já registrado, 2023 deixou sua marca no Brasil: por aqui, também foi um período de recorde de desastres relacionados ao clima, como deslizamentos, inundações e secas.

No ano passado, 1.161 eventos foram mapeados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Desse total, 716 ocorrências estavam associadas a eventos hidrológicos, como transbordamento de rios. Outras 445 tiveram origem geológica, como deslizamentos de terra.

Segundo o Cemaden, os números superam 2022 e 2020.

“O ano de 2023 foi peculiar em relação ao clima. Em meados do ano, houve uma transição rápida do fenômeno La Niña para o El Niño. Isso ocasionou uma mudança no padrão das chuvas em relação à média histórica. Os índices de chuva registrados em 2023 foram muito superiores no Sul e inferiores no Norte e Nordeste”, avalia a diretora do Cemaden, Regina Alvalá.

Ela explica que a mudança do clima também contribuiu para todo esse processo, já que o oceano mais quente aumenta o volume de vapor de água na atmosfera, intensificando as chuvas.

O balanço dos impactos climáticos sobre as cidades brasileiras foi apresentado durante uma reunião do centro de pesquisa, na semana passada (17/1).

Os pesquisadores destacam que as ocorrências seguem o padrão de envios de alertas, com concentração nas capitais e regiões metropolitanas do leste do país – isto é, o litoral.

A região costeira do Brasil, especialmente a faixa que vai da Bahia até o Rio Grande do Sul, concentra a maior parte das ocorrências e alertas. O topo do ranking, no entanto, foi ocupado por Manaus, que após uma seca recorde, passou por uma temporada de chuvas intensas.

Prejuízos são humanos, materiais e econômicos

Esses eventos deixaram um rastro de 132 mortes, 9,2 mil feridos, 74,7 mil desabrigados e 525 mil desalojados, segundo o MCTI, afetando principalmente pessoas com menos recursos e em áreas de risco.

De acordo com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, há pelo menos 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais severos.

Na semana passada, ao comentar as chuvas que levaram o estado do Rio de Janeiro a decretar emergência em 12 municípios, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, observou que as tragédias expressam também o racismo ambiental, algo que populações vulneráveis do mundo todo vêm alertando há algum tempo.

Em termos de danos materiais, o Cemaden aponta para mais de R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura e instalações públicas e unidades habitacionais. Já os prejuízos econômicos são estimados em quase R$ 25 bilhões, somados gastos públicos e privados.

2024 tem mais

O ano virou, mas as chuvas continuam – e o calor também. A previsão da Organização Meteorológica Mundial (OMM) é que 2024 seja ainda mais quente do que 2023.

No Brasil, as tempestades de janeiro deixaram milhares de pessoas sem energia no Rio Grande do Sul, além de 4 mortos e 545 desabrigados no estado de São Paulo.

Na segunda (22/1), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que até sexta-feira (26), praticamente toda a região Nordeste terá registro de chuvas volumosas, que podem acumular mais de 100 mm, de domingo (21) a sexta-feira. E as chuvas mais expressivas devem atingir, principalmente, os estados da Bahia, Piauí e Ceará.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Comércio verde Brasil-Itália

A agência de fomento ao comércio exterior do Ministério da Economia e Finanças da Itália (Sace) avalia apoiar a compra de minerais críticos e hidrogênio do Brasil, conta a diretora de Negócios Internacionais, Michal Ron, em entrevista à agência epbr.

Os bens integram a lista do programa de “garantia estratégica de importação” da agência, que cobre parte dos empréstimos a fornecedores estrangeiros de matérias-primas e produtos estratégicos para a segurança energética e industrial da Itália.

Mercado de carbono

O Acre é o primeiro estado do Brasil a assinar um termo de compromisso com a Emergent para negociar créditos de carbono de projetos que apoiam os produtores rurais, ribeirinhos, extrativistas e indígenas locais. A Emergent vem celebrando acordos com governos florestais que estão vendendo créditos de um lado, e com compradores corporativos e governos doadores da Coalizão LEAF do outro.

Desmatamento em queda

O desmatamento em áreas protegidas da Amazônia caiu quase quatro vezes (73%) em 2023, na comparação com 2022. Segundo levantamento do Imazon, em 2023 a devastação em terras indígenas e unidades de conservação localizadas na região atingiu 386 km². Trata-se do menor índice desde 2013, quando foram desmatados 178 km².

Exxon versus acionistas ativistas

A petroleira entrou com uma ação judicial contra investidores ativistas dos EUA e da Holanda, em uma tentativa de impedi-los de apresentar propostas climáticas durante a reunião anual de acionistas.

O caso inédito é mais um passo na batalha cada vez mais intensa entre empresas e ativistas ambientais. A queixa foi apresentada no domingo em um tribunal do Texas contra a empresa de investimentos Arjuna Capital, com sede em Massachusetts, e o Follow This, um grupo de investidores ativistas com sede em Amsterdã.

Infraestrutura para eólicas offshore

A ambição europeia para adições eólicas offshore está diante de um enorme desafio na infraestrutura e cadeia de suprimentos. Quase 500 GW de capacidade de geração serão implantados para torná-la a terceira maior fonte de energia até 2050. Mas essas metas exigirão até 54 mil quilômetros de linhas de transmissão adicionais – o suficiente para dar a volta ao planeta 1,5 vezes.

CEOs otimistas

Num contexto de tensões geopolíticas contínuas, rápido aumento da IA ​​generativa e da incerteza econômica global, os CEOs de energia, recursos naturais e indústria química expressam confiança elevada em relação às perspectivas de crescimento das suas empresas e da indústria global, mostra o CEO Outlook 2023 da KPMG.

A pesquisa internacional entrevistou 127 líderes de setores como energia renovável, petróleo e gás, mineração e petroquímica e aponta que três em cada quatro estão confiantes sobre a economia global nos próximos três anos. Os executivos também demonstraram um novo nível de foco na experiência do cliente e na execução de iniciativas ESG.

EDF Renewables Brasil se associa à ABIHV

Segundo a empresa, a adesão à Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV) reforça as ambições da companhia no desenvolvimento de hidrogênio com baixas emissões de carbono no país e amplia sua participação nas discussões sobre o marco regulatório do setor. O objetivo do Grupo EDF é atingir 3 GW de produção de hidrogênio renovável até 2030.