NESTA EDIÇÃO. Brasil pode alcançar emissões negativas no setor aquaviário até 2050 com biocombustíveis e captura de carbono, aponta EPE
País deve seguir defendendo bioenergia como a rota viável de transição para o transporte marítimo.
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Ao substituir totalmente os combustíveis fósseis por 80% de biodiesel e/ou diesel verde e 20% de etanol na cabotagem em 2045; e por uma combinação desses biocombustíveis com derivados de hidrogênio no frete marítimo internacional, o Brasil pode chegar a 2050 reduzindo 81% de suas emissões no setor aquaviário.
Se incorporar a tecnologia de captura e armazenamento de carbono ao etanol (BECCS), o potencial é de emissões negativas (102% de redução), mostra uma nota técnica publicada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), nesta quinta (21/8).
A publicação ocorre a menos de dois meses da votação na Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) do mecanismo para emissões líquidas zero do setor.
Antecede também a apresentação da política brasileira para combustíveis sustentáveis, prometida pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para o primeiro semestre de 2025 (está atrasada).
No estudo da EPE, são detalhados quatro cenários, priorizando diferentes rotas para a descarbonização das embarcações.
Exceto o cenário base (61% de redução de emissões), todos os outros consideram a substituição total de combustíveis fósseis em 2050.
E os biocombustíveis predominam no suprimento da navegação interior, em todas as trajetórias, a partir de 2026, chegando a 100% em 2050, com percentuais distintos de biodiesel e etanol.
Biocombustíveis no horizonte
As variações de rotas estão na cabotagem e na navegação de longo curso.
Nos cenários 2 e 3, o potencial de descarbonização chega a 91% e 90%, respectivamente. Neles, a estratégia adota biodiesel no curto prazo e GNL no médio prazo. Os derivados de hidrogênio entram na matriz, a partir de 2034.
Na trajetória 3, metanol e amônia são priorizados principalmente a partir de 2040, tanto na cabotagem quanto na navegação de longo curso.
Mas o custo desses combustíveis e as incertezas sobre a capacidade de alcançar escala no futuro próximo fazem o Brasil apostar suas fichas nos biocombustíveis — prioridade no quarto cenário, que estima 80% a 102% de descarbonização.
Embora defenda “neutralidade tecnológica”, o documento também é enfático em apontar que o país deve levar a bandeira da bioenergia para os fóruns internacionais.
“Os biocombustíveis apresentam-se como uma solução de descarbonização extremamente atrativa para os armadores, uma vez que elimina a necessidade de investimentos de capital em grande escala, que são necessários para outras opções de descarbonização e, por serem considerados do tipo drop in, ou seja, podem ser utilizados sem necessidade de alterações na infraestrutura existente”, defende a EPE.
No mundo, GNL
Responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, a frota mundial de navios é 98% abastecida por combustíveis fósseis convencionais, como o bunker.
Os outros 2% (2357 navios) usam alternativas de menor emissão, como GNL, motores híbridos com baterias, GLP, metanol, amônia e hidrogênio.
Esse percentual está prestes a aumentar. Ainda de acordo com a EPE, até junho de 2024, cerca de 27% das encomendas (1.630 navios) miram novos combustíveis.
O GNL tem despontado como o favorito: 832 embarcações previstas para entrar em operação vão utilizar o gás sozinho ou na modalidade dual-fuel, junto com o bunker.
Logo atrás vêm os híbridos com baterias (433), seguidos por metanol (233), GLP (96), amônia (25) e hidrogênio (10).
“Devido às incertezas em torno da disponibilidade de combustíveis de baixas emissões, muitos armadores começaram a construir ou modernizar as suas frotas e incluir navios bicombustíveis (dual fuel)”, observa o estudo.
Cobrimos por aqui
Curtas
Soja, etanol e macaúba. Mesmo diante da revisão de incentivos fiscais nos Estados Unidos, que trouxe incertezas ao setor global de renováveis, Brasil e América Latina devem seguir firmes na atração de investimentos em combustíveis sustentáveis, impulsionados pela disponibilidade de insumos. A avaliação é do diretor sênior comercial para América Latina da Honeywell, Willian Luvazio, em entrevista à agência eixos.
Hidrogênio no Plano Clima. A estratégia do Brasil para o hidrogênio de baixo carbono indicada no Plano Clima foi recebida de forma positiva pelo setor, que vê avanços no reconhecimento da importância do energético na transição. No entanto, é preciso avançar na integração de políticas setoriais e desenvolvimento de infraestrutura, avaliam associações.
Risco climático. O TCU apresentou na quarta-feira (20/5) o resultado de uma fiscalização apontando para uma “lacuna estrutural” na governança ambiental e gestão de riscos do país, com a incipiente integração entre a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
LRCAP no TCU. O subprocurador-geral do MPTCU pediu que o tribunal investigue se o atraso no leilão de reserva de capacidade (LRCAP) está ligado ao interesse de empresas que não podem participar da contratação pois ainda têm contratos vigentes. Segundo ele, há “indícios preocupantes” do favorecimento de empresas.
Despacho térmico. O MME abriu, nesta quinta (21/8), uma consulta pública sobre diretrizes para a transparência das decisões do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) sobre o despacho de geração para garantia de suprimento energético.
Frente das terras raras. O Plenário do Senado aprovou na quarta (20/8) a criação da Frente Parlamentar em Defesa das Terras Raras Brasileiras. Proposta pelo senador Nelsinho Trad (PSD/MS), a frente promete promover debate estratégico sobre a exploração das terras raras no Brasil e fortalecimento da soberania nacional.
Mineração em terra indígena. A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado aprovou projeto que regulamenta a pesquisa e o garimpo em terras indígenas, autorizando a pesquisa e a garimpagem por terceiros, desde que haja consentimento das comunidades afetadas.
Poder de polícia. A CDH também aprovou projeto que susta integralmente os efeitos do Decreto 12.373/2025, que regulamenta o exercício do poder de polícia da Funai. O PDL 47/2025, do senador Marcos Rogério (PL/RO) segue para a CCJ. Para a bancada do agro, o decreto prejudica a segurança jurídica e o direito de propriedade dos produtores rurais.
Governança climática. A Associação de Pesquisa Iyaleta está com inscrições abertas, até 10 de setembro, para seu programa online e gratuito de capacitação em governança climática. Com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), a quarta edição do Spring Iyaleta tem como tema “Municipalização dos dados: Por uma adaptação climática equânime”.
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