NESTA EDIÇÃO. Países recém-industrializados da África, Ásia e América do Sul têm condições de desbancar China, EUA e Europa na atração de investimentos em descarbonização.
Amônia verde e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) são duas áreas promissoras.
E ainda: projeto piloto de eólica offshore no RN deve receber a primeira licença ambiental para empreendimentos do tipo no Brasil.
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Um bloco de mercados emergentes, com destaque para Brasil, Índia e Egito, está rapidamente alcançando os países com bases industriais tradicionais no mercado de energia renovável, formando o “novo cinturão industrial solar”, mostra um relatório publicado esta semana pela Mission Possible Partnership (MPP).
Com dados do Global Project Tracker, o levantamento calcula que a China deve continuar liderando o desenvolvimento da indústria renovável no mundo, representando um quarto dos US$ 250 bilhões em investimentos no setor, seguida pelos Estados Unidos (20%) e pela União Europeia (15%).
Mas eles podem, em breve, ser superados por uma série de países recém-industrializados.
Isso, se essas nações emergentes forem capazes de capitalizar suas condições favoráveis para a produção de energia renovável e impulsionar setores como hidrogênio de baixo carbono e captura e armazenamento de CO2 (CCS) – insumos para a indústria verde.
“Essa mudança aponta para um potencial realinhamento industrial, à medida que a produção de materiais, produtos químicos e combustíveis se move entre geografias e novos corredores comerciais emergem”, diz a MPP.
O relatório avalia que um novo “cinturão industrial solar” está no centro dessa mudança: a região que abrange África, Ásia e América do Sul, combinando recursos naturais abundantes e ambiente político favorável.
Amônia e SAF lideram expansão na nova indústria
Entre os países emergentes e em desenvolvimento que compõem o cinturão do estudo, Índia, Brasil, Turquia e os da África Subsaariana respondem atualmente por 30% da base total de projetos considerados como “indústria limpa” planejados e realizados.
A análise observa que garantir investimentos em unidades de produção de baixo carbono nessas regiões é estratégico para atrair aportes diretos do capital internacional, além de abrir novas oportunidades que vão desde modernização da infraestrutura até a qualificação de profissionais locais.
O potencial total de investimento para nações emergentes nessas regiões está em US$ 775 bilhões – quase metade do potencial global de investimento em pipeline, e cerca de um terço (220,32%) de todos os projetos pré-financiados (anunciados) e um décimo (16,12%) dos que chegaram a decisão final (FID).
E pode chegar a US$ 948 bilhões, impulsionado por economias dominadas pela agricultura, que têm na produção de amônia verde para fertilizantes uma alavanca.
A amônia verde, aliás, está entre os setores de indústria limpa de crescimento mais rápido (28 plantas com FID, 344 anunciadas), seguida pelos combustíveis sustentáveis de aviação (22 plantas operacionais, sete com FID e 144 anunciadas).
“Ambos apresentam um forte caso de negócios: a amônia limpa sendo uma solução direta para o setor de fertilizantes – um mercado pré-existente em escala – e os combustíveis de aviação sustentáveis se beneficiam de forte apoio regulatório e político, bem como de uma demanda contínua por viagens aéreas”, analisa.
Mas no geral, o progresso dos investimentos tem sido lento, alerta o relatório.
“Nos últimos seis meses, apenas um dos oito novos FIDs globais ocorreu na região da Índia, indicando um lento avanço dos projetos, apesar da forte representação em pipelines”.
Entre as nações ricas, a Austrália é um destaque positivo, graças aos recentes incentivos fiscais para hidrogênio verde e alumínio. O país soma 46 projetos pré-financiados em busca de US$ 172 bilhões em investimentos.
Cobrimos por aqui
Curtas
Licença para eólica offshore. O Ibama deve anunciar, na próxima semana, a primeira licença ambiental para um projeto de eólica offshore do Brasil. A agência eixos apurou que a licença será para um empreendimento piloto do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), no Rio Grande do Norte.
Transição justa. A transição energética industrial deve respeitar as circunstâncias regionais, indica a quarta carta da presidência brasileira da COP30, publicada nesta sexta (20/6).
- “A natureza multifacetada do desafio climático exige que soluções inovadoras sejam adaptadas de acordo com as circunstâncias regionais, nacionais e locais, de forma a beneficiar mais comunidades e países”, afirma o documento.
E movida a gás. O Congresso Nacional resgatou, esta semana, dois dispositivos legais que posicionam o gás natural e o biometano nas políticas de descarbonização dos transportes. Os parlamentares derrubaram dois vetos – um no Paten e no Mover – que tratam de duas fontes de financiamento diferentes para projetos de transporte a gás.
STF ignora jabutis. Ao serem derrotados mais uma vez no Congresso Nacional, entidades que representam consumidores industriais de energia cogitam recorrer ao Supremo em busca de salvação contra as emendas penduradas na lei que levou à privatização da Eletrobras.
- O novo capítulo ocorreu na terça (17/6), quando o Congresso Nacional derrubou oito vetos na lei inicialmente proposta para ser um marco para construção de eólicas offshore.
CCEE mira hidrogênio. Em meio à reforma do setor elétrico brasileiro (MP 1300/2025), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) se prepara para atuar na certificação do hidrogênio de baixo carbono e do biometano. Um dos trechos da MP prevê que a “CCEE poderá participar em outros mercados de energia ou prestar outros serviços”. Entenda
Petrobras, o SAF coprocessado. A petroleira vai começar a entregar combustível sustentável de aviação (SAF) coprocessado antes dos prazos para descarbonização do setor estipulados pelo Corsia, segundo a presidente da companhia, Magda Chambriard. A estatal prevê entregar querosene de aviação coprocessado com 1,2% de óleo vegetal ao mercado, produzido Reduc.
Foz do Amazonas. A Petrobras também se prepara para a Avaliação Pré-Operacional do Ibama em julho, último rito formal para a licença do bloco FZA-59 na Foz do Amazonas, onde planeja perfurar um poço este ano. A sonda destinada à operação já segue rumo ao Amapá.
Lula insiste no petróleo. O presidente da República defendeu, na quinta (19), a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Brasil, área marítima que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá e onde o Rio Amazonas deságua no Atlântico. Em entrevista ao podcast Mano a Mano, Lula (PT) argumentou que o mundo ainda não está preparado para abrir mão das fontes fósseis. (Agência Brasil)
Mercado de carbono. O governo federal pretende divulgar em julho o plano de implementação do mercado regulado de carbono, previsto na Lei nº 15.042/2024, além de anunciar a criação de um órgão gestor provisório responsável pela governança do novo sistema.
Tarifa de energia. A decisão da Aneel de encontrar um “meio-termo” nos valores que os consumidores devem pagar pelos custos da Rede Básica Sistema Existente (RBSE) vai evitar um aumento médio de 0,36% nas tarifas, estima a Abrace. O impacto aos consumidores pode variar de acordo com o estado.
Artigos da semana
Hidrogênio arco-íris: diversificar para ganhar escala Quando se pensa em desenvolver uma economia global do hidrogênio, a combinação de diferentes rotas pode ajudar no ganho de escala, escreve Gabriel Chiappini
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