NESTA EDIÇÃO. No grupo de Energia do bloco, posição do governo brasileiro está alinhada com a de produtores de petróleo: é preciso atacar a demanda e descarbonizar a oferta
Ministro defende licença para exploração na Foz do Amazonas antes da COP30 em nome do combate à pobreza.
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Os onze países do Brics devem se unir para “atacar a demanda” de petróleo e gás ao mesmo tempo em que buscam soluções para descarbonizar sua produção de combustíveis fósseis, defendeu nesta quinta (20/3) o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), durante a abertura da 2ª Reunião de Energia do Brics, em Brasília.
“No setor de óleo e gás, o planeta clama por redução nas emissões de gases de efeito estufa. Precisamos, juntos, atacar a demanda do petróleo e gás”, discursou no encontro dedicado a discutir o futuro da cooperação energética do bloco.
“O petróleo brasileiro possui uma das menores emissões do planeta. Mesmo assim, queremos ampliar a aplicação de tecnologias como captura e estocagem de CO2 (CCUS), para redução da queima de gás, e a eletrificação das operações offshore”, completou.
Segundo Silveira, o objetivo é manter a relevância do O&G brasileiro no curto e médio prazo.
Atualmente, o Brics é um grupo de países do Sul Global formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e, mais recentemente, Indonésia.
O bloco soma uma produção conjunta de 42 milhões de barris de petróleo por dia (boe/dia), segundo dados do Departamento de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês). É o correspondente a pouco menos da metade da produção mundial de cerca de 100 milhões de boe/dia.
Para o governo brasileiro, os países ricos devem ser os primeiros a abandonar os combustíveis fósseis, permitindo que as nações em desenvolvimento explorem seus recursos naturais para desenvolvimento econômico e investimentos para transição energética justa.
Fósseis na transição justa
Além de ser composto por grandes produtores de petróleo, o bloco foi formado por economias altamente dependentes de carvão, o que adiciona alguns graus de dificuldade quando o tema é abandonar combustíveis fósseis.
Desde a presidência do G20, em 2024, o Brasil tem adotado o discurso da transição justa e gradual, sinalizando demandas de países que ainda precisam combater a pobreza e expandir o acesso a energia – um fator de desenvolvimento econômico.
“A energia é estratégica, imprescindível em nossas economias e sociedades. Juntos, países do Brics, representamos 50% da produção e do consumo global. É nossa responsabilidade buscar um equilíbrio entre segurança energética e desenvolvimento sustentável, com uma transição para o futuro da economia de baixo carbono”, disse o ministro na abertura da reunião.
Pode frustrar organizações preocupadas com a influência do lobby dos combustíveis fósseis na conferência climática das Nações Unidas, marcada para novembro em Belém, no Pará.
Presidente da COP30, o Brasil já expressou que pretende utilizar a articulação do Brics para alcançar resultados na cúpula do clima, especialmente em relação ao financiamento para emergentes.
O tema também entrou no discurso de Silveira nesta manhã.
“O financiamento da transição energética, por exemplo, é um desafio central para todos. Serão necessários recursos para viabilizar investimentos em infraestruturas, energias renováveis e pesquisa mineral para substituir as cadeias essenciais à transição. Sem financiamento adequado, a transformação dos nossos sistemas energéticos será mais lenta e desigual”.
Foz do Amazonas antes da COP30
Ainda nesta quinta, Silveira disse a jornalistas que espera que a licença para a Petrobras perfurar a Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, saia antes da COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém.
“Quem tem fome tem pressa. E o Brasil é um país com muitas desigualdades, com muitas necessidades, em especial de investimentos em áreas prioritárias, que são inclusive dever funcional do Estado”, afirmou a jornalistas após a abertura da 2ª Reunião de Energia do Brics.
O ministro tem pressionado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pela autorização da perfuração exploratória na região.
“Estou esperando, como eu disse, de forma serena, mas ansiosa. Porque, repito, o governo do presidente Lula tem um foco que é combater a fome, a miséria, fazer inclusão social, construir uma sociedade mais justa”.
Cobrimos por aqui
Curtas
Renováveis na Amazônia. A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) anunciou a criação do Centro Amazônico de Energias Renováveis. Desenvolvido pelo Laboratório de Sistemas Embarcados (LSE-HUB) da Escola Superior de Tecnologia, o projeto quer estabelecer um hub para pesquisa, desenvolvimento e inovação em soluções energéticas limpas na região. (Jornal do Commercio)
Do Brasil para a Europa. A petroleira francesa TotalEnergies está planejando importar hidrogênio verde produzido no Brasil para abastecer suas refinarias na Europa, noticiou esta semana a Bloomberg, a partir do relato de fontes que pediram anonimato. O projeto, que ainda está em fase de desenvolvimento, faz parte de uma parceria com a Casa dos Ventos.
Leilão das térmicas. O MME alterou nesta quinta-feira (20/3) as diretrizes do leilão de reserva de capacidade (LRCAP 2025) e reestabeleceu o custo variável unitário (CVU) inicialmente previsto para as termelétricas a biodiesel em R$ 2.639,99 por megawatt/hora (MWh). O assunto foi alvo de uma liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), após o MME fixar o teto em R$ 1.711,18 por MWh em fevereiro.
UTE Brasília. O deputado distrital Gabriel Magno (PT/DF) convocou uma audiência pública para debater os impactos da Usina Termelétrica Brasília (UTE), da Termo Norte Energia, para sexta (21/3), às 19h, no Auditório do Instituto Federal de Brasília (IFB) – Ceilândia (QNN 26). O empreendimento é alvo de críticas pela Arayara e outras ONGs que apontam potenciais danos ambientais e sociais. Na eixos: Térmica em Brasília vira nova trincheira ambiental
Aço verde. A subsidiária brasileira da siderúrgica Aperam levantou € 250 milhões, cerca de R$ 1,5 bilhão, para reforçar a produção de aço verde e descarbonização das suas operações. A maior parte do financiamento é da International Finance Corporation, braço do Banco Mundial focado em investimentos em empresas, que vai aportar até € 150 milhões. O restante virá de outros credores privados. (Reset)
Mercado de carbono. A Grã-Bretanha está considerando ativamente a possibilidade de vincular seu Sistema de Comércio de Emissões (ETS) ao mercado de carbono da União Europeia antes da Cúpula Reino Unido-UE em maio, disse o governo nesta quinta (20/3). A Grã-Bretanha busca maior cooperação em segurança, aplicação da lei e remoção de barreiras comerciais com a UE. (Reuters)
Outono mais quente. O outono no Brasil começou nesta quinta-feira (20) no dia 20 de junho, com previsão de temperaturas acima da média em todas as regiões, segundo o Inmet. (Agência Brasil)