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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB) firmaram um acordo nesta sexta (14/4) para captação de até US$ 1,3 bilhão para financiar infraestrutura e economia verde no Brasil.
Embora a declaração das instituições dê destaque à agenda de sustentabilidade ambiental e transição energética, os recursos também poderão ser aplicados em setores como saneamento, petróleo e gás, agricultura e mineração, entre outros.
As condições serão detalhadas em dois documentos: um destinando US$ 800 milhões para investimentos de longo prazo e outro de US$ 500 milhões para aplicações de curto prazo.
A linha de longo prazo, de até 10 anos, terá como foco o financiamento de projetos de infraestrutura, energia, manufatura, petróleo e gás, agricultura, mineração, saneamento, agenda ESG (ambiental, social de governança), mudança climática e desenvolvimento verde, prevenção a epidemias, economia digital, alta tecnologia, gestão municipal e outros segmentos no Brasil.
“Investimentos de longo prazo costumam ser um gargalo para o desenvolvimento do país e por isso a ideia é que a maior parte dos recursos tenham esse foco”, explicou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Já na linha de curto prazo, de três anos, o montante será utilizado como parte do orçamento de investimentos do BNDES, podendo apoiar o comércio bilateral Brasil-China, entre outras frentes de financiamento.
Em fevereiro, Mercadante tomou posse como presidente do banco brasileiro prometendo fomento às exportações e uma agenda de apoio à “nova indústria”, economia verde e infraestrutura, sem repetir o “padrão de subsídios” do passado.
“O BNDES do futuro será verde, inclusivo, digital e industrializante”, afirmou, em seu discurso de posse.
Na pauta da reindustrialização, o discurso é que o desenvolvimento do país passa pelo aumento da competitividade da indústria nacional.
Segundo Mercadante, a constituição de um Eximbank — instituição financeira que oferece soluções para empresas locais que desejam vender seus produtos no exterior — será uma “pauta fundamental” do banco, nesse sentido.
“Não se trata da velha indústria. Trata-se da nova indústria, digital e descarbonizada, baseada em circularidade e intensiva em conhecimento. Isso exigirá inovação e grande investimento em pesquisa aplicada”.
Agenda bilateral
A cooperação entre os bancos foi firmada durante a viagem do presidente Lula (PT) à China com comitiva de dezenas de políticos e a expectativa de fechar mais de 20 acordos com o seu principal parceiro comercial — mas cujo crescimento econômico vem desacelerando.
Nesta sexta-feira (14), Lula e o presidente chinês, Xi Jinping, assinaram 15 acordos em diversas áreas.
Em uma declaração conjunta, os governos afirmam concordar em incentivar empresas a fazer investimentos na área de transição energética e dizem que querem trabalhar juntos em renováveis, “com ênfase em bioenergia, hidrogênio e combustíveis sustentáveis para aviação”.
“As duas partes reconheceram a importância de que a transição energética e a mitigação das emissões no plano doméstico e global de maneira justa e equitativa, que leva em consideração as especificidades das realidades nacionais, o aumento da demanda por energia e o imperativo da segurança energética”, diz um trecho do documento.
Também esta semana, Lula anunciou que a transição será um dos seis eixos do novo PAC, o programa de investimentos estratégicos em infraestrutura que vem sendo desenhado com os ministérios e estados.
Agendas bilaterais do Brasil em clima, meio ambiente e transição:
- Brasil e EUA desenham termos de agenda bilateral climática
- Noruega ajudará Brasil a captar doadores para o Fundo Amazônia
- Hidrogênio verde é central na colaboração Brasil-Alemanha
- Clima e comércio na agenda Brasil-União Europeia
Bom negócio
De 2019 até o final de 2022, investidores de ações do mercado privado triplicaram os ativos globais relacionados a sustentabilidade ambiental, social e governança (ESG), passando de US$ 90 bilhões para mais de US$ 270 bilhões, mostra um levantamento da McKinsey.
Energia foi a maior destinatária dos investimentos de capital orientados para o clima, absorvendo cerca de 50% do volume implantado de 2019 a 2022. O capital mais que dobrou, de US$ 40 bilhões para US$ 100 bilhões, impulsionado por projetos renováveis em larga escala.
O transporte ficou em segundo lugar, com aumento de 370% durante o período, de US$ 6 bilhões para US$ 30 bilhões. Aqui, a bola da vez é o mercado de veículos elétricos.
Projetos de hidrogênio e gestão de carbono – as duas tecnologias emergentes da moda – receberam, cada, 3% do total de investimentos de capital do mercado privado com foco no clima em 2022.
Pode parecer pouco, mas foram os que registraram o crescimento mais significativo nos fluxos de investimento desde 2019: 460% para o hidrogênio (de menos de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões) e 1.400% para carbono (de menos de US$ 500 milhões para US$ 7 bilhões).
E mais: os investimentos em renováveis alcançaram os fósseis em 2022. Dados da BloombergNEF mostram que o volume de recursos canalizados para a indústria de combustíveis fósseis e para a geração de energia a partir de petróleo, gás e carvão foi de US$ 1,1 trilhão no ano passado.
Da mesma forma, o investimento em energia renovável, transporte eletrificado e armazenamento de energia e outras tecnologias atingiu o mesmo patamar, de US$ 1,1 trilhão.
Cobrimos por aqui:
- Para onde vão os investimentos climáticos?
- Mudança climática é desafio crítico para o FMI, diz diretora-geral
- Investidores sugerem restringir novos negócios em upstream
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