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Biomassa e etanol são apostas para destravar oferta de SAF

“Precisamos desenvolver tecnologias com matérias-primas mais baratas. Os custos do óleo de cozinha usado para a HEFA estão altos, mas a biomassa continua barata”, diz presidente da Honeywell UOP

Biomassa e etanol são apostas para destravar oferta de SAF, diz Rajesh Gattupalli [na imagem], presidente da Honeywell UOP, durante evento em San Antonio, Texas (Foto Divulgação Honeywell)
Rajesh Gattupalli, presidente da Honeywell UOP, durante evento em San Antonio, Texas (Foto Divulgação Honeywell)

NESTA EDIÇÃO. Multinacional de tecnologia mira novas rotas de produção de combustíveis para aviação, olhando para a disponibilidade e custo de matérias-primas.

Projetos ainda devem levar alguns anos para ganhar escala comercial. Enquanto isso, baixa oferta de SAF vai desafiando metas de descarbonização.


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Este ano a oferta de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) está prevista para alcançar 2,5 bilhões de litros, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). 
 
O SAF é uma estratégia importante para a aviação reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), mas as projeções para 2025 significam apenas 0,7% do consumo global de combustível das companhias aéreas.
 
oferta é escassa, há poucas biorrefinarias em operação, apenas uma rota de produção (HEFA) se provou comercialmente viável até agora e ela usa uma matéria-prima que também está ficando disputada e cara: os óleos residuais. 
 
Para escalar essa indústria, será preciso avançar com novas rotas de produção, abrindo o leque de matérias-primas. E a biomassa é uma delas.
 
Rajesh Gattupalli, presidente da Honeywell UOP, divisão de negócios que fornece soluções para o biorrefino, conta que a multinacional está formando parcerias para desenvolver tecnologias para a rota Fischer-Tropsch (FT), que utiliza biomassa e resíduos sólidos urbanos – abundantes no mercado.
 
Em maio, o grupo anunciou um acordo para aquisição do segmento de tecnologias de catalisadores da Johnson Matthey por £ 1,8 bilhão. Segundo Gattupalli, essa aquisição deve ajudar a companhia a desenvolver soluções para produzir SAF pela rota FT.
 
Ele explica que a rota consiste em gaseificar tanto biomassa como resíduos sólidos urbanos, para depois transformá-los em líquidos aptos à conversão em SAF, por meio do hidroprocessamento.
 
Por trás deste interesse está uma questão econômica importante: a matéria-prima é mais barata.
 
“Precisamos desenvolver tecnologias com matérias-primas mais baratas. Os custos do óleo de cozinha usado para a HEFA estão altos, mas a biomassa continua barata”, disse em entrevista à agência eixos.



Outra grande aposta é a rota ATJ, que utiliza o etanol como matéria-prima. Ela está mais próxima de sair do papel, com alguns projetos a caminho da decisão final de investimento (FID).
 
Para o executivo da Honeywell, depois que o primeiro empreendimento comercial começar a ofertar o combustível, novos projetos devem decolar. Isso deve levar alguns anos ainda, no entanto.
 
“Os projetos de etanol para jato ainda estão em andamento. Temos um projeto aqui nos EUA passando por FID. No geral, a demanda existe. Mas o que a ATJ precisa é basicamente que a primeira unidade dê partida para que ela realmente passe para a próxima marcha. Porque a maioria dos clientes busca a experiência comercial. Precisamos dessa experiência comercial para podermos levar isso para o próximo estágio”, conta.
 
Há pelo menos dois projetos nos EUA apostando nesta rota: um da Lanzajet e outro da Granbio. Ambos devem utilizar etanol de 2ª geração, baseado em resíduos.
 
Gattupalli também enxerga potencial na Ásia, com destaque para a Índia, além do Brasil, onde a oferta do biocombustível é relevante. Já na Europa, o metanol é que prepara para decolar.
 
“A Ásia é outro lugar onde temos muito interesse. Na Europa, estamos vendo um mercado muito maior de metanol para aviação. Mas em países onde há muito mais etanol disponível, como Brasil, Índia, na Ásia, potencialmente, um pouco na China, estamos vendo um interesse significativo em etanol”, lista.
 
“A Índia está tentando produzir biocombustíveis para segurança energética, porque ela importa 80% do petróleo bruto do exterior. O mesmo vale para a China. Cada país tem seus próprios cenários sobre por que deseja produzir biocombustíveis”, comenta.

Nos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump, o cenário está ficando dia a dia conturbado para quem investe em energias renováveis.
 
No final de maio, a Câmara dos EUA aprovou o “One Big Beautiful Bill Act”, eliminado incentivos criados pela Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês) do presidente anterior, Joe Biden.
 
O texto ainda está em discussão no Senado e o mercado parece confuso sobre os rumos da economia norte-americana. 
 
Gattupalli evitou comentar a política republicana, mas disse que está confiante com o desenvolvimento de projetos para SAF, e enxerga que, assim como em outras tecnologias, os custos devem cair conforme os empreendimentos ganham escala e maturidade.
 
“Acredito que o IRA pode mudar muitas coisas diferentes. Acho que alguns projetos podem ser econômicos, outros podem não ser. Em última análise, o que outros governos estão tentando fazer é dar a eles alguns incentivos para que consigam sobreviver pelos próximos 5 a 10 anos. E então, como acontece com qualquer tecnologia, a tecnologia se desenvolverá e reduzirá os custos”, analisa. 
 


*A jornalista viajou para o Honeywell Users Group em San Antonio, Texas, a convite e com despesas pagas pela Honeywell


R$ 46 bi para transição. BNDES e Finep divulgaram nesta quinta-feira (12/6) a seleção de 56 propostas de negócios voltadas à transformação de minerais estratégicos ligados à transição energética. Os projetos, escolhidos por meio de chamada pública, somam R$ 45,8 bilhões em investimentos previstos em áreas como terras raras, lítio, grafite, cobre e silício. 
 
Bandeira vermelha. O acionamento da bandeira vermelha pela Aneel em 2025 ocorreu mais cedo em comparação com 2024, refletindo maior aversão ao risco na gestão do setor elétrico e da alta nos preços da energia. Consumidores de energia elétrica terão bandeira vermelha no patamar 1 na tarifa a partir de 1º de junho, o que significa cobrança extra de R$ 4,46 a cada 100 kWh.
 
Gap de gênero. A disparidade global de gênero fechou em 68,8% em 2024, marcando o maior avanço anual desde a pandemia da Covid-19. No entanto, a paridade total ainda está a 123 anos de distância nas taxas atuais, de acordo com o Relatório Global de Disparidade de Gênero de 2025 do Fórum Econômico Mundial. 

  • Islândia lidera o ranking pelo 16º ano consecutivo, seguida pela Finlândia, Noruega, Reino Unido e Nova Zelândia.
  • As mulheres superam os homens no ensino superior, mas apenas 28,8% alcançam a liderança sênior.
  • empoderamento político apresenta os maiores ganhos, mas, com apenas 22,9% da lacuna global fechada até o momento, ele continua sendo a maior barreira ao progresso da paridade em todo o mundo.

O mar também é delas. Programa destinado a fomentar a equidade de gênero, capacitação e empregabilidade feminina no ambiente offshore, O Mar Também é Delas tem um novo site com uma curadoria de conteúdo relacionada a boas práticas e a oportunidades no setor de petróleo, gás e energia.

  • O público também encontrará uma agenda online com o progresso das etapas da iniciativa, além de uma galeria com mulheres que são inspirações para todos os jovens talentos do segmento de O&G. 

IA com renováveis. A empresa de energia alemã RWE e a Amazon Web Services (AWS) anunciaram nesta quinta (12/6) um acordo para fornecer eletricidade livre de carbono para os data centers em troca de serviços de nuvem. A AWS tem sete PPAs de energia renovável com o grupo alemão.
 
Prêmio carbono zero. O governo de São Paulo lançou esta semana o Prêmio SP Carbono Zero, que vai reconhecer as iniciativas em andamento que contribuem para a descarbonização e a adaptação às mudanças climáticas no estado. A premiação busca soluções práticas desenvolvidas por empresas e organizações da sociedade civil.
 
Escola de eletricistas. A EDP Espírito Santo está com inscrições abertas para um curso gratuito de eletricista que acontecerá na cidade de Serra, na Grande Vitória. Os interessados poderão se cadastrar online até o dia 23 de junho. São 16 vagas para capacitação no Senai do município.

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