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Bioenergia ganha peso na transição global, e Brasil é destaque

Relatório indica experiências bem sucedidas no mercado brasileiro para expandir a participação de biocombustíveis na matriz

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e o diretor-executivo da Irena, Francesco La Camera, na pré-COP em Brasília (Foto: Global Renewables Alliance)
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e o diretor-executivo da Irena, Francesco La Camera, na pré-COP em Brasília (Foto: Global Renewables Alliance)

NESTA EDIÇÃO. Relatório da Irena encomendado pela Presidência da COP30 aponta o Brasil como referência mundial em biocombustíveis.

Em meio à corrida por soluções verdes, país tenta expandir bioenergia, mas enfrenta cobranças sobre uso da terra e crise interna no setor de combustíveis.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Na trajetória global de substituição de combustíveis fósseis para limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100, a bioenergia precisará dar um salto na matriz energética — especialmente em setores como aviação e navegação —, demandando coordenação de ações dos setores públicos e privados, um território que o Brasil desbrava há décadas.
 
Esta é uma das conclusões de um relatório divulgado hoje (16/10) pela Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês), sob encomenda da Presidência Brasileira da COP30
 
O Brasil quer mobilizar adesões ao compromisso apresentado esta semana para quadruplicar a produção e consumo de combustíveis sustentáveis até 2035, mirando especialmente setores onde a eletrificação ainda é um desafio.
 
É também uma estratégia para romper resistências e ampliar mercados para biocombustíveis tradicionais como etanol e biodiesel, além de se posicionar como futuro fornecedor de SAF (aviação).
 
No estudo divulgado nesta quinta, a Irena aponta que a bioenergia precisará contribuir com 12% do consumo final de energia até 2030 e 15% até 2050 no cenário de 1,5°C.
 
No entanto, a concretização de todo o potencial requer uma abordagem abrangente.
 
Estrutura institucional adequada, metas de longo prazo consistentes, engajamento produtivo, cooperação internacional e inovação são os pré-requisitos listados pela agência para superar barreiras como incerteza política, prontidão tecnológica, custos, complexidades da cadeia de suprimentos e riscos à sustentabilidade.
 
É aí que o Brasil entra como um case a ser considerado por outras economias.
 
“Alinhada à perspectiva global da Irena, a experiência do Brasil, particularmente com o bioetanol, exemplifica um modelo convincente para a descarbonização sustentável”, diz o relatório (.pdf)
 
“Oferece um caminho competitivo e de baixo custo, contribuindo significativamente para as transições energéticas globais”, completa.



Cana-de-açúcar, lenha, milho, soja e outras biomassas responderam por quase 33% da produção de energia primária do Brasil em 2024, sendo as indústrias sucroalcooleira e de biodiesel respondem por 19%. 
 
É quase três vezes a média global. No mundo, a bioenergia representou aproximadamente 11% do consumo final total de energia em 2022, de acordo com o estudo.
 
A diferença é ainda maior no setor de transportes. Enquanto a média global de participação renovável representou 3,9% no mundo em 2021, o Brasil atingiu 25,7% em 2024.
 
Para a agência, marcos legais como o RenovaBio, que remunera a eficiência energética-ambiental dos biocombustíveis e a lei do Combustível do Futuro, que estabelece mandatos, são exemplos de ferramentas para alavancar a participação de renováveis na matriz de transportes,
 
“À medida que a demanda global por energia renovável cresce, a experiência brasileira fornece insights para outras nações que desenvolvem seus setores de bioenergia”, diz a Irena.

O documento chega em um momento delicado tanto no ambiente doméstico quanto internacional.

Internamente, o Brasil atravessa uma crise no setor de combustíveis marcada por fraudes, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, além de inadimplências no RenovaBio e esquemas para burlar o cumprimento de metas e mandatos das políticas de biocombustíveis.

Ao mesmo tempo, enquanto tenta vender sua bioenergia como solução climática, o país enfrenta o escrutínio internacional sobre a sustentabilidade do seu agronegócio. (Bloomberg)

No relatório, a Irena destaca como essencial garantir que a indústria emergente de biocombustíveis adote práticas ​​transparentes e rastreáveis ​​em relação ao meio ambiente e à sociedade. E defende a certificação independente da produção.

Outro ponto é a cooperação internacional. A agência enxerga que parcerias como a Aliança Global para os Biocombustíveis (GBA) são importantes para intercâmbio de tecnologias, remoção de barreiras comerciais e regulatórias e criação de padrões de sustentabilidade.


Por falar em fraudes no setor de combustíveis… Mandados judiciais estão sendo cumpridos na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro dentro da Operação Primus, realizada pela Polícia Civil da Bahia. 

  • A investigação aponta para postos de combustíveis no estado usados para ocultação patrimonial de uma liderança criminosa originária de São Paulo. A ação solicitou ao Poder Judiciário o bloqueio de até R$ 6,5 bilhões em bens dos investigados.

Secretaria para mercado de carbono. O governo federal publicou nesta quinta (16/10) o decreto que cria a Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono. De caráter provisório, ela ficará sob o chapéu do Ministério da Fazenda.

Foz do Amazonas. A Petrobras informou que se reuniu com o Ibama na quarta-feira (15/10) para esclarecimentos técnicos sobre o licenciamento do bloco FZA-M-59, na Margem Equatorial brasileira. 

  • Segundo a estatal, as dúvidas foram sanadas e, ao final da reunião, o Ibama informou que “todos os pontos foram esclarecidos e que foram suficientes para dar seguimento ao processo”.

UTE Brasília. O Ibama negou, na quarta (15/10), o pedido de licença prévia para a instalação, no Distrito Federal, da termelétrica da Termo Norte. O projeto da geradora que tem como sócio o empresário Carlos Suarez prevê a construção e conexão de uma térmica a gás natural de 1.470 MW. A empresa estuda possibilidade de recurso.
 
Hidrogênio a bordo. O Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro, assinou Memorando de Entendimento (MoU) com a JAQ Apoio Marítimo para estudar como viabilizar embarcações movidas a hidrogênio produzido a bordo. A JAQ já está desenvolvendo dois barcos que serão operados a hidrogênio verde. 
 
Trainee em energia. As empresas do grupo Engie e Jirau Energia estão com inscrições abertas para o Programa Trainee Técnico 2026, voltado para recém-formados em cursos técnicos que queiram atuar no setor de energia. A iniciativa tem 39 oportunidades, com vagas afirmativas para mulheres, pessoas negras e pessoas com deficiência. Inscrições até 24 de novembro

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