newsletter
Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Relatório da BloombergNEF mostra que empresas privadas e instituições públicas assinaram contratos de compra de energia (PPA, na sigla em inglês) para garantir um recorde de 36,7 gigawatts (GW) de energia renovável para suas operações em 2022, um aumento de 18% em relação a 2021.
No topo da lista estão os grupos de tecnologia. A Amazon ficou em primeiro lugar com 10,9 GW de PPAs assinados em 2022, seguida pela Meta (2,6 GW), Google (1,6 GW) e Microsoft (1,3 GW).
No total, a Amazon anunciou 24,8 GW de contratos de compra de energia até o momento, o sétimo maior portfólio de energia limpa do mundo, incluindo serviços públicos.
Com demanda por eletricidade em rápido crescimento, a tendência é que as big techs continuem recorrendo à compra de energia limpa – tanto para cumprir metas de descarbonização, quanto para amenizar riscos em meio a crises geopolíticas e energéticas.
Google e Microsoft, por exemplo, se comprometeram a atender suas necessidades de eletricidade com energia livre de carbono em todos os momentos do dia – elevando a necessidade de PPAs.
Entre os grandes consumidores de eletricidade estão os data centers. Hoje, eles já são responsáveis por 2,5% de todo o dióxido de carbono (CO2) produzido pela humanidade – superior ao emitido pela indústria da aviação (2,1%), segundo o Fórum Econômico Mundial.
E a previsão é que o uso de energia desses centros de processamento de dados aumente significativamente nos próximos anos, podendo chegar a 8% do consumo global em 2030.
PPAs avançam
Ao todo, 167 empresas de diferentes ramos de negócios anunciaram contratos em 36 mercados mundiais no ano passado.
Os PPAs já somam 148 GW de energia limpa desde 2008 — mais do que a capacidade total de geração de energia da França.
Kyle Harrison, head de pesquisa de sustentabilidade da BNEF, explica que a corrida por energia limpa tem um sentido econômico: “em meio à turbulência nos mercados de energia, os PPAs se tornaram ferramentas úteis de mitigação de riscos para CFOs”.
As atividades foram aceleradas em duas das três principais regiões.
Os contratos nas Américas totalizaram o recorde de 24,1GW, um aumento de 18% em relação ao ano anterior, com crescimento nos EUA e na América Latina.
Na AL, o impulso veio das mineradoras que buscam energia limpa para alimentar suas operações em áreas remotas do Chile e do Brasil.
Na região Ásia-Pacífico, os PPAs corporativos mais do que dobraram para 4,6 GW, liderados por Índia e Austrália. Agora, o modelo está disponível nos principais mercados da região do Japão, China e Coreia do Sul — o que não era o caso até um ano atrás.
Já na região da Europa, Oriente Médio e África (EMEA) o cenário foi de queda – 8,1 GW, 7% a menos em relação ao ano anterior –, principalmente pela crise energética da região.
Mas a BNEF acredita na possibilidade de recuperação em 2023, com a baixa nos preços do gás natural e as reformas no mercado de energia elétrica propostas pela Comissão Europeia.
“Estamos vendo uma evolução nas compras corporativas de energia, com empresas caminhando em direção a metas de energia livre de carbono por hora e outras assinando contratos de energia limpa por razões de confiabilidade”, comenta Harrison.
Outros destaques da BNEF:
- As empresas que assinaram contratos para receber energia limpa em 2022 fizeram parcerias com pelo menos 135 desenvolvedores de projetos de energia elétrica diferentes;
- AES Corporation, sediada na Virgínia, encabeça a lista de vendedores em 2022 com 2,8 GW de novos PPAs;
- 56 novas empresas aderiram à iniciativa global RE100, prometendo atingir 100% do consumo de energia limpa em uma data futura;
- Os 397 membros da RE100 adquiriram um total estimado de 249 TWh de energia limpa até o momento, mas precisarão de mais 290 TWh até 2030 para cumprir suas metas.
Abertura no Brasil
No Brasil, consumidores industriais devem impulsionar o mercado livre de energia a partir de 2024.
Um dos motivos é a mudança regulatória que abriu a possibilidade para as empresas de alta tensão migrarem em 1º de janeiro de 2024. Outro é o PL 414/2021, aguardando votação na Câmara, também com medidas para expansão do mercado livre.
A expectativa é que o texto possa ser aprovado ainda este ano, com potencial de colocar o país ao lado de Japão, Alemanha e Coreia do Sul na liderança de participação no mercado livre de energia, afirma Luiz Fernando Leone Vianna, vice-presidente Institucional e Regulatório da Delta Energia.
“O Brasil foi um dos pioneiros na abertura do mercado. Em 1995, tivemos a aprovação de uma lei que falava que, após oito anos, 100% dos consumidores poderiam ser livres. Posteriormente, houve um movimento em todo o mundo Europa, Estados Unidos e Japão. O Brasil saiu na frente, mas não avançou”.
“Hoje, por exemplo, 36 países no mundo já são 100% livres. Na Europa, existe um direcionamento para que todos os países sejam livres e tenham a figura do consumidor livre e o mercado também. Poderíamos estar já com 20 anos de abertura. A gente acredita que daqui para frente vai acontecer”, comenta.
Cobrimos por aqui:
- CMU planeja R$ 6 bi para atender mercado livre até janeiro de 2024
- Shell vê PL 414 como “conforto jurídico” para investir em renováveis
- Subsídios e mercado livre na agenda das eleições para o setor de energia
Energia solar atinge 25 GW de potência instalada no Brasil
Somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica em telhados, fachadas e pequenos terrenos, a fonte responde por 11,6 % da matriz elétrica do país.
Segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em um ano, o crescimento foi de aproximadamente 76%, saltando de 14,2 GW para 25 GW.
Desde julho do ano passado, a fonte solar tem crescido, em média, 1 GW por mês.
Atualmente, são cerca de 7,8 GW de potência instalada em usinas solares de grande porte. E mais 17,2 GW no segmento de geração própria.
- Viu isso? Energia cara dá força para geração solar
Açu quer atrair fertilizantes, siderurgia e transição energética
Na última quarta (8/2), o porto em São João da Barra (RJ) inaugurou o segundo de três armazéns de carga previstos para entrar em operação até o segundo semestre de 2023, no Terminal Multicargas (T-MULT).
José Firmo, CEO do Porto do Açu, conta que este é apenas um primeiro passo. O segundo será atrair indústrias para beneficiar as cargas que chegam ali.
Os planos incluem “colocar o Rio no mapa de fertilizantes”, aumentar as operações de lítio e cobre, minerais críticos essenciais para a transição energética, e estabelecer um hub de hidrogênio. Leia na reportagem de Gabriel Chiappini
Gostou? Compartilhe no WhatsApp!
Artigos da semana
— Brasil está dez anos atrás do mercado de biocombustíveis nos EUA Integração latina favoreceria o aumento da oferta de combustíveis de fontes renováveis e a transição energética, escreve Erasmo Carlos Battistella
— Desafios para a comercialização de petróleo e GNL com carbono neutro Apesar dos desafios para sua implantação, a comercialização de petróleo e GNL com carbono neutro representa uma vantagem competitiva para as empresas, avaliam Camila Mendes Vianna e Paulo Campos Fernandes
— A região amazônica e o setor elétrico brasileiro: breve reflexão sobre aspectos sociais Aproveitar de forma inteligente, integrada e moderna o potencial energético do país é uma oportunidade para a região amazônica e para o Brasil, por Solange David
— Que diesel é esse? Entenda as diferenças entre Diesel A, B, R, biodiesel, diesel verde e HVO Entender o significado de cada termo ou palavra nova é parte da mudança em curso no mercado de combustíveis, escreve Marcelo Gauto