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Aviação vê oferta de SAF em risco por falta de apoio político

Iata projeta que oferta de SAF alcançará 2,5 bilhões de litros ou 0,7% do consumo total de combustível das companhias aéreas em 2025

Aeronave no pátio de aeroporto aguardando conexão da ponte de embarque (ou finger), para embarque de passageiros no terminal (Foto Dominic Wunderlich/Pixabay)
Aviação civil internacional tem meta de emissões líquidas zero até 2050 (Foto Dominic Wunderlich/Pixabay)

NESTA EDIÇÃO. Iata critica mandato europeu e levanta preocupações sobre escala e custo de combustíveis sustentáveis para aviação.

Presidente da COP30 afirma que biocombustíveis serão um tema central na cúpula climática de Belém.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, em inglês) alertou no domingo (1/6) que deficiências nas políticas de incentivo ao redor do mundo ameaçam o ganho de escala na produção de combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês) — indispensáveis para o setor cumprir suas ambições climáticas.
 
A expectativa é que a oferta de SAF alcance 2,5 bilhões de litros ou 0,7% do consumo total de combustível das companhias aéreas em 2025. 
 
“Embora seja encorajador que a produção de SAF deva dobrar em 2025, isso representa apenas 0,7% das necessidades totais de combustível da aviação. E mesmo essa quantidade relativamente pequena adicionará US$ 4,4 bilhões globalmente à conta de combustível”, aponta o diretor geral da Iata, Willie Walsh.
 
“O ritmo do progresso no aumento da produção e no ganho de eficiência para reduzir custos precisa ser acelerado”, defende.
 
A associação que representa cerca de 350 companhias aéreas em mais de 120 países, pede a governos que foquem em políticas eficazes para reduzir a diferença de custo entre o combustível sustentável e o fóssil — o que inclui o redirecionamento de parte do US$ 1 trilhão em subsídios que os governos concedem globalmente para petróleo, gás e carvão.
 
Além de garantir que as biorrefinarias tenham acesso a uma parcela da capacidade de geração renovável que está sendo construída para atender novas indústrias.
 
“Em primeiro lugar, o avanço da produção de SAF exige um aumento na produção de energia renovável da qual o SAF é derivado. Em segundo lugar, também são necessárias políticas que garantam que o SAF receba uma parcela adequada da produção de energia renovável”, aponta. 



De acordo com a Iata, a maior parte do SAF produzido até agora está a caminho da Europa.
 
Em 1 de janeiro de 2025, entraram em vigor na União Europeia e no Reino Unido mandatos de substituição de 2% do querosene de petróleo por soluções de baixo carbono.
 
O problema é que as taxas de conformidade cobradas pelos fornecedores para cumprir com as regras ambientais da UE estão elevando ainda mais os custos para as aéreas, ao passo que o derivado de petróleo está 13% mais barato.
 
A associação calcula que serão necessários um milhão de toneladas de SAF para cumprir os mandatos europeus em 2025, a um custo de US$ 1,2 bilhão. Mas as taxas de conformidade devem adicionar mais US$ 1,7 bilhão — um montante que poderia ter reduzido 3,5 milhões de toneladas adicionais de emissões de carbono. 
 
“Em vez de promover a utilização do SAF, os mandatos europeus de SAF tornaram o SAF cinco vezes mais caro do que o combustível de aviação convencional”, critica.
 
“Isso destaca o problema da implementação de mandatos antes que haja condições de mercado suficientes e antes que sejam implementadas salvaguardas contra práticas de mercado irracionais que elevam o custo da descarbonização. A Europa precisa perceber que sua abordagem não está funcionando e encontrar outra saída”, completa Walsh.

Este é justamente um tema que o Brasil vem atacando desde o G20, em 2024, e pretende levar à COP30, marcada para novembro em Belém (PA).
 
O país defende que a produção de biocombustíveis como etanol e biodiesel, além de SAF a partir de rotas agrícolas entre no leque de soluções climáticas, beneficiando o Sul Global e combatendo a resistência europeia.
 
Nesta segunda (2/6), o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse à agência eixos que os biocombustíveis serão um tema central na cúpula do clima
 
“Os biocombustíveis são um tema central, porque o Brasil tem mostrado que o mundo tem que encontrar soluções compatíveis com as circunstâncias de cada país”, defendeu.
 
O país tem costurado alianças, especialmente entre os Brics, em busca de apoio nessa agenda. Uma delas é a Aliança Global de Biocombustíveis, proposta pela Índia em 2023, com Brasil e EUA como cofundadores e que atraiu o apoio do setor aéreo.
 
A própria Iata afirma que está trabalhando com a Associação Indiana de Fabricantes de Açúcar e Bioenergia (ISMA) e a Praj Industries Limited para fornecer orientações sobre as melhores práticas globais para a avaliação do ciclo de vida do uso de matérias-primas no país.


Foz do Amazonas. Mais de 60 caciques de povos indígenas do Oiapoque assinam uma carta de repúdio à campanha do presidente Lula (PT) pela exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Os indígenas pedem a suspensão imediata do processo de licenciamento do bloco FZA-M-59, e de todos os blocos incluídos no próximo leilão da ANP, previsto para 17 de junho. 
 
Pesquisa na Margem Equatorial. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, anunciou nesta segunda (2/6), um pacote de fomento a ações pela preservação da biodiversidade marinha e ao desenvolvimento sustentável da economia do mar, com R$ 350 milhões. Entre eles, o mapeamento de atividades no litoral Norte, o que pode subsidiar a discussão sobre a exploração de petróleo e gás na região da Margem Equatorial.
 
Bandeira vermelha. O mês de junho começa com uma piora nas perspectivas para os reservatórios das usinas hidrelétricas no Brasil, o que levou a Aneel a acionar a bandeira tarifária vermelha no patamar 1 para as contas de luz. Com isso, as tarifas terão cobrança adicional de R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos.
 
Reidi para biometano. O MME aprovou o Reidi para dois projetos de biometano, um deles em Nova Alvorada do Sul (MS) e outro em São Leopoldo (RS). No RS, o projeto da Biometano São Leopoldo vai produzir biocombustível a partir de gás de aterro sanitário, com capacidade de 36,7 mil m³/dia. Já a Atvos Bioenergia, no MS, está implantando uma unidade com capacidade de 110,1 mil m³/dia a partir do aproveitamento da vinhaça e da torta de filtro da cana.
 
Térmica a gás. Maior usina a gás natural do Brasil, a termelétrica GNA II, no Rio de Janeiro, teve operação comercial autorizada pela Aneel na sexta (31/5) e acrescentou 1,673 GW de potência ao SIN. Mesmo com a expansão recorde na capacidade de geração termoelétrica no Brasil, a potência nova é insuficiente para atender a demanda do sistema.

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