NESTA EDIÇÃO. Relatório da Iata mostra potencial de 400 milhões de toneladas de combustíveis sustentáveis até 2050 com biomassa e e-SAF…
…mas déficit de 100 Mt desafia neutralidade climática.
Para alcançar sua meta de neutralidade climática até 2050, a aviação civil internacional precisará de 500 milhões de toneladas de combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês), o que pode ser alcançado do ponto de vista de matérias-primas disponíveis.
No entanto, o ritmo de implementação das diferentes tecnologias de biorrefino ainda é uma barreira.
Nesta terça (23/9), a Associação de Transporte Aéreo Internacional (Iata) divulgou um estudo (.pdf) em parceria com a Worley Consulting mostrando que, na avaliação global da disponibilidade de matéria-prima e do potencial de produção de SAF, cerca de 400 Mt podem ser produzidos em 2050.
É uma conquista importante, mas ainda faltam 100 Mt de SAF.
Fechar a conta, aponta a Iata, depende de avançar com certificações para ampliar o leque de biomassa sustentável apta ao biorrefino, assim como ganhos de eficiência e melhorias tecnológicas ao longo das próximas décadas.
Uma das recomendações é reforçar a infraestrutura da cadeia de suprimento de matéria-prima, expandindo novas fontes que atendam aos critérios de sustentabilidade.
Outra é acelerar a adoção de tecnologias para viabilizar a produção de combustíveis sintéticos (e-SAF), que dependem de acesso confiável a eletricidade renovável de baixo custo, hidrogênio e infraestrutura de captura de carbono.
No caso da biomassa, o potencial calculado é de 300 milhões de toneladas em 2050. Outros 200 Mt podem ser fornecidos por rotas que utilizam hidrogênio verde e CO2, o e-SAF.
“Em todos os cenários, para maximizar a produção de SAF, será essencial melhorar a eficiência de conversão, acelerar a adoção de novas tecnologias, aprimorar a logística de matéria-prima e investir em infraestrutura capaz de expandir instalações comerciais em todas as regiões”, diz a Iata.
Brasil na rota do etanol
América do Norte, Brasil, Europa, Índia, China e nações do sudeste asiático são os principais impulsionadores da produção global de SAF.
O Brasil ainda não produz o combustível em escala, mas está se preparando para isso.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, os investimentos anunciados atualmente levarão a uma oferta de 1,7 bilhão de litros em 2030 e cerca de 2,8 bilhões de litros em 2035.
O volume anunciado até agora será insuficiente para cumprir a legislação doméstica e o acordo internacional ao mesmo tempo, mas o relatório da Iata enxerga grande potencial no Brasil.
“O Brasil tem potencial para se tornar um grande produtor de SAF, alavancando seus vastos recursos de matéria-prima, especialmente do setor agrícola. Dada a sua indústria de etanol consolidada, cadeia de suprimentos madura e ampla experiência operacional na produção de etanol, espera-se que o Brasil favoreça a rota ATJ”, diz o documento.
A estimativa é que o país poderá fornecer mais de 120 Mt de biomassa para SAF até 2030 e 180 Mt até 2050, incluindo etanol, óleos, resíduos e culturas energéticas emergentes.
Cobrimos por aqui
Curtas
Nuclear no CNPE. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse nesta terça (23/9) que o governo tem uma “grande ideia” para remodelar o setor nuclear brasileiro, e pretende apresentá-la na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética. Segundo o ministro, a reunião prevista para outubro tem Angra 3 na pauta, mas a discussão deve ir além da retomada da usina.
MP do licenciamento. A senadora Tereza Cristina (PP/MS) foi eleita presidente da Comissão Mista da Medida Provisória 1308. O deputado Zé Vitor (PL/MG) será o relator. A MP foi editada pelo governo como alternativa a trechos vetados da nova lei do licenciamento ambiental.
- A votação da presidente e relator – ambos integrantes da bancada ruralista – foi apenas protocolar, pois já havia acordo quanto aos nomes e a definição de que a presidência ficaria com o Senado, enquanto a relatoria seria da Câmara.
Lula e Trump em NY. O presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça (23/9) que o presidente Lula (PT) é “um cara legal” e disse que os dois devem se encontrar na semana que vem. O breve encontro entre os dois presidentes foi confirmado pela assessoria de Lula em seguida. (BBC News Brasil)
Gás do Povo. O programa do governo para distribuição de botijões exigirá ajuste na margem das empresas que atuam no mercado de GLP, mas, ao fim, o aumento esperado nas vendas deve compensar, avalia o diretor administrativo da Consigaz, Riad Kadri.
- Em entrevista ao estúdio eixos, durante a Liquid Gas Week 2025, o executivo da Consigaz afirmou que o saldo do programa é “bem positivo”.
- Já a Copa Energia avalia recorrer à importação de botijões de gás para atender ao crescimento da demanda gerado pelo programa.
Leilão dos sistemas isolados. A Aneel anunciou nesta terça (23/9) a retirada do lote mais expressivo do leilão de sistemas isolados, que será realizado na próxima sexta. A decisão foi tomada após pedido do MME e identificação de “imprevisibilidade” quanto ao cálculo da tarifa de transporte e “incerteza” quanto à evolução dos preços de transporte do gás natural.
Leilão de transmissão. A Aneel também aprovou o edital do leilão de transmissão que ocorrerá em 31 de outubro, na sede da B3, em São Paulo. Serão ofertados 11 lotes de concessões para construção, operação e manutenção de linhas de transmissão, com investimentos estimados em R$ 7,89 bilhões.
Mandato de biometano. Para o presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri, a regulamentação da lei do Combustível do Futuro, que obriga produtores e importadores de gás natural a adquirirem biometano para reduzir as emissões das suas atividades, pode pressionar os preços do gás renovável em um mercado ainda com pouca oferta.
- A Yara opera em Cubatão (SP) a única unidade de produção de amônia renovável da América Latina, feita a partir de biometano. Mas a baixa oferta do combustível limita a escala da operação.
Carbono no solo. A Atvos assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com a green tech NetZero para desenvolver um projeto-piloto de produção de biochar na sua usina de etanol de cana em Caçu (GO). O insumo será usado para reduzir a aplicação de fertilizantes e, ao mesmo tempo, capturar carbono. Previsão de investimentos é de R$ 30 milhões.
IPCC recebe comentários. O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) busca especialistas técnicos interessados em contribuir com a revisão da primeira versão do relatório especial sobre mudança do clima e cidades. Para participar, é preciso fazer cadastro on-line até 30 de novembro. A primeira versão do documento ficará disponível para comentários de 17 de outubro a 12 de dezembro de 2025.