diálogos da transição

Ambição climática pede embarque de grandes emissores e troika com Brasil

Mudança de rumos só será efetiva com compromissos e políticas dos sete maiores emissores: China, EUA, Índia, UE, Indonésia, Japão, Austrália

COP29 segue até dia 22 de novembro com discussão sobre financiamento
COP29 segue até dia 22 de novembro com discussão sobre financiamento | Foto: UN Climate Change/Kiara Worth

NESTA EDIÇÃO. Perspectivas de aquecimento do planeta estagnaram acima de 2,5°C.
 
Mudança de rumos só será efetiva com compromissos e políticas dos sete maiores emissores: China, EUA, Índia, UE, Indonésia, Japão, Austrália.
 
Organização enxerga contradição nos planos exploratórios da troika formada por Brasil, Emirados Árabes e Azerbaijão para incentivar NCDs alinhadas com 1,5°C.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Análise do Climate Action Tracker (CAT) sobre as metas climáticas atualizadas até agora indica um aquecimento de 2,7°C até 2100 – com 33% de chance de superar 3°C e 10% de chance de bater os 3,6°C – e pede liderança dos grandes emissores junto com a troika formada por Emirados Árabes, Azerbaijão e Brasil (presidentes das COP28, COP29 e COP30, respectivamente.
 
Divulgada na última semana, enquanto negociadores internacionais discutem em Baku as novas metas de financiamento climático para países de renda baixa – e às vésperas da cúpula de líderes do G20 – a avaliação é de que à medida que a crise climática piora, as perspectivas de aquecimento estagnam.
 
Além disso, critica o aumento de subsídios destinados aos combustíveis fósseis – na contramão dos compromissos assumidos nos fóruns internacionais.
 
A perspectiva é que as emissões atingirão o pico até o final da década, mas em um nível muito mais alto do que há três anos.

Reverter essa curva depende de políticas adotadas internamente por sete dos maiores emissores do mundo (China, EUA, Índia, União Europeia, Indonésia, Japão, Austrália). Juntos, eles foram responsáveis ​​por 60% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2022. 
 
China, por exemplo, precisa de uma meta de corte de 78% de suas emissões até 2035.
 
O país caminha para um pico de emissões ainda nesta década, justamente pelos esforços para reduzir sua dependência de petróleo, a partir da expansão da frota elétrica, mas ainda tem um longo caminho pela frente para substituir o carvão na matriz energética.
 
Embora as licenças de energia a carvão tenham caído 83% no primeiro semestre de 2024, a construção de novas usinas continua alta devido aos mais de 100 GW autorizados entre 2022 e 2023. 
 
As taxas de utilização de usinas a carvão estão diminuindo, por outro lado, e a participação do fóssil na matriz caiu para 53% em maio de 2024, ante 60% em maio de 2023.


Publicidade evento Dialogos da Transição 2024 - In-article e newsletters

“A China superou sua meta NDC para capacidade eólica e solar seis anos antes do previsto, atingindo 1.206 GW em julho de 2024, com previsões prevendo 1.310 GW até o final do ano. A capacidade de geração de energia não fóssil do país agora excede a de combustíveis fósseis”, diz o think tank.
 
Ainda assim, a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, em inglês) atual é classificada como altamente insuficiente pelo CAT, levando a mais de 4°C.
 
Segundo maior emissor do mundo, os Estados Unidos devem experimentar retrocessos em políticas ambientais e de descarbonização sob a presidência de Trump, a partir de janeiro de 2025, mas as projeções indicam apenas um ligeiro aumento no aquecimento, de 0,04°C.
 
Isso porque há uma leitura de que será difícil reverter a Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês), cujos subsídios bilionários beneficiam até quem nega as mudanças climáticas e o papel das renováveis.
 
Além disso, mesmo durante a gestão atual de Joe Biden a produção de petróleo e gás esteve em alta e sem indicativos de recuo.
 
Um abandono permanente da meta de zero líquido dos EUA, no entanto, se servir de motivação para outros desembarques (vide Argentina que abandonou a COP29), teria um impacto negativo maior sobre a média de temperatura.
 
“A questão principal é se os países permanecerão unidos e continuarão avançando com ações. Um retrocesso de Trump nas políticas dos EUA, por mais prejudicial que seja, pode ser superado”, comenta Bill Hare, CEO da Climate Analytics.

Outro grupo com potencial de impactar a próxima rodada de negociações de NDCs, tema da COP30 que será presidida pelo Brasil em 2025, é a troika formada por ele, Emirados Árabes e Azerbaijão com a missão 1,5°C.
 
A aliança lançada na COP28, em Dubai, no final de 2023, se propôs a incentivar os países a construírem ambições para 2035 alinhadas com o objetivo de limitar a temperatura a 1,5°C até o fim do século.
 
Na tentativa de liderar pelo exemplo, Emirados Árabes e Brasil anteciparam suas NDCs, só que desalinhadas com a missão que propuseram.
 
“Os países da Troika, que divulgaram um Roteiro para 1,5˚C, planejam todos extrair mais combustíveis fósseis: uma enorme incompatibilidade entre palavras e ações”, critica o CAT. 
 
Esses três países respondem por cerca de 3% das emissões globais e têm no petróleo uma importante fonte de receitas.
 
O Brasil, no entanto, depende fortemente da redução do desmatamento para atingir suas metas climáticas, o que tem sustentado o discurso do governo a favor de novos investimentos em exploração.


Noruega defende tratamento diferenciado. O primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Støre, destacou a urgência da transição energética e disse que é preciso tratamento diferenciado entre países ricos e pobres neste processo. Neste domingo, o país anunciou a doação de mais US$ 60 milhões (cerca de R$ 350 milhões) ao Fundo Amazônia, de combate ao desmatamento no bioma.

Biocombustíveis contra dependência dos fósseis. O secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), João Paulo Capobianco, defendeu que os países desenvolvidos devem liderar a transição para o fim dos combustíveis fósseis. E destacou que o Brasil pode fazer este processo mais rápido, com ajuda dos biocombustíveis.

US$ 10 bi para bioeconomia. Na primeira visita de um presidente dos Estados Unidos à Amazônia, o democrata Joe Biden anunciou no domingo (17/11), em Manaus (AM), uma coalizão para acelerar a conservação e a restauração das florestas brasileiras, a partir de aportes na bioeconomia. A Coalizão Brasil para o Financiamento da Restauração e da Bioeconomia (Coalizão BRB) planeja investimentos de pelo menos US$ 10 bilhões até 2030.

Agricultura familiar. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, afirmou que a pasta vem trabalhando para  maior inclusão dos agricultores familiares na produção de etanol, combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), e energia solar.  O tema faz parte da agenda do Brasil no G20, de defesa de uma transição energética justa.

Lula reconhece papel urbano no combate às mudanças climáticas. O presidente defendeu que as cidades precisam ser contempladas nos mecanismos de financiamento da transição climática. Em discurso na abertura do Urban 20, grupo de engajamento do G20 sobre cidades, Lula lembrou que as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito de estufa e por 75% do consumo global de energia.

Cidades pedem fundo para adaptação. Representantes de mais de cem cidades ao redor do mundo entregaram, no domingo (17/11), uma carta ao presidente Lula, com a proposta de criação de um fundo garantidor para facilitar a chegada de US$ 800 bilhões anuais em financiamento às cidades, direcionados a projetos de adaptação e mitigação climática.

Parceria Brasil-China. Os dois países lançaram no G20 a Aliança para Inovação e Compartilhamento Tecnológico no Setor Elétrico (Eisa, na sigla em inglês), iniciativa que reúne 16 empresas, universidades e centros de pesquisa para cooperação tecnológica na modernização do setor elétrico.

Hidrogênio na COP29. O lançamento da Hydrogen Declaration pela presidência da conferência é um passo, ainda tímido, mas importante para o desenvolvimento de um mercado global de hidrogênio limpo, em mais uma COP marcada pela presença intensa de representantes do setor de óleo e gás. A iniciativa, apresentada durante a reunião ministerial sobre iniciativas energéticas, busca acelerar a produção de hidrogênio de baixo carbono e renovável. Leia na coluna de Gabriel Chiappini.

Fome de quê? A COP30, em Belém, promete priorizar alimentação saudável, de qualidade, em quantidade e a preço justo, segundo a diretora de Operações da Secretaria Extraordinária para a COP30, Nilza de Oliveira. Como parte dos preparativos, foi realizado um mapeamento da produção agrícola familiar na região metropolitana de Belém.