diálogos da transição

Adição x substituição energética: em que fase estamos?

Perspectivas de aumento acelerado da demanda trouxeram à tona o desafio de mudar as fontes que abastecem a economia global

Complexo eólico Folha Larga Sul da Casa dos Ventos (Foto Divulgação)
Complexo eólico Folha Larga Sul da Casa dos Ventos (Foto Divulgação)

NESTA EDIÇÃO. Aumento da demanda por energia desafia transição: agora se fala em adição.

Países ricos já conseguiram equilibrar demanda e expansão de renováveis, mas na média global, substituição fóssil deve demorar mais um pouco, analisa bp.


Faz algum tempo, o termo “adição energética” começou a ficar cada vez mais frequente nos discursos de empresários e governos quando o assunto é transição energética e a capacidade de diferentes nações de abandonar gradualmente sua dependência de combustíveis fósseis.
 
As perspectivas de aumento acelerado da demanda trouxeram à tona o desafio de mudar as fontes que abastecem a economia global, quando mais e mais energia e combustíveis são consumidos.
 
Enquanto alguns já superaram essa fase de adição, outros só vão alcançá-la nas próximas décadas.
 
Publicado nesta quinta (25/9), o Energy Outlook 2025 da petroleira bp mostra que União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos já saíram da “adição” e iniciaram o movimento de “substituição energética”.
 
Significa que, nesses países, a expansão renovável está acompanhando o crescimento da demanda total de energia.
 
Vale dizer que os EUA, sob a administração Trump, estão trabalhando para retornar aos fósseis, apelando justamente para as projeções de consumo impulsionado por data centers. (Reuters)

Na média global, o momento ainda é de adição — com destaque para as necessidades de nações emergentes.
 
China e Brasil, por exemplo, só devem passar de fase nas décadas de 2030 e 2040, respectivamente.



Grande consumidora de carvão, a China apresentou sua ambição climática ontem (24), comprometendo a alcançar mais de 30% de fontes não fósseis no consumo total de energia até 2035 e expandir a capacidade de energia eólica e solar para mais de seis vezes o nível de 2020, chegando a 3.600 GW. 
 
Embora o país asiático seja o que mais investe em renováveis no mundo, sua economia ainda depende fortemente de carvão e ainda não conseguiu equilibrar a balança — mas está perto.
 
Brasil, por outro lado, tem uma matriz elétrica com cerca de 90% de participação renovável, mas enxerga espaço para ampliar a contribuição fóssil sob a justificativa de segurança energética.
 
Dados do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2025 ilustram a complexidade dessa equação: em 2024, a indústria consumiu mais energia, mas a participação de renováveis recuou ligeiramente de 64,7% em 2023 para 64,4% naquele ano. 

A bp — que recentemente decidiu voltar o foco ao petróleo, com cortes em projetos de combustíveis sustentáveis, hidrogênio e renováveis —, fez um exercício de traçar dois cenários até 2050.
 
O relatório explica que não são previsões nem “o que a bp gostaria que acontecesse”, mas uma forma de explorar a transição energética, sob a ótica da trajetória atual (que levaria o mundo a quase 3ºC de aquecimento) e uma abaixo de 2ºC.
 
Em ambos os cenários, a demanda por eletricidade dobra até 2050. A seguir, 11 tendências do relatório:

  • demanda global por energia será impulsionado por economias emergentes, fora a China. Melhora nos padrões de vida da população nesses países é o principal fator;
  • Essa expansão requer eficiência energética, que pode ter um impacto importante no consumo e nas emissões de carbono;
  • papel dos combustíveis fósseis diminui à medida que as economias ficam cada vez mais eletrificadas e solar e eólica ganham participação nas matrizes; 
  • Ainda assim, os fósseis seguem relevantes no sistema energético global pelo menos nos próximos 10 a 15 anos;
  • A perspectiva para a demanda por petróleo é moldada por duas forças contrárias: a diminuição do papel do petróleo no transporte rodoviário é compensada pela petroquímica, predominantemente para a produção de plásticos;
  • As quedas na demanda por petróleo são suportadas desproporcionalmente por produtores não pertencentes à Opep+, fazendo com que a participação na produção de petróleo da Opep+ aumente ao longo do tempo;
  • consumo de carvão cai, impulsionado pela redução do uso na geração de energia, especialmente na China;
  • Solar e eólica crescem rapidamente, tornando-se a fonte dominante de geração de energia, apoiadas por uma competitividade sustentada.
  • O aumento ou diminuição da demanda por gás natural – e GNL – nos próximos 25 anos dependerá do ritmo da transição energética. Em trajetórias de transição acelerada, as importações em economias emergentes são compensadas por alternativas de baixo carbono;
  • O uso de biocombustíveis líquidos e biometano crescerá nos próximos 25 anos. Mas a escala dessa expansão depende da extensão das políticas e mandatos;
  • Hidrogênio de baixo carbono e CCUS só alcançam escala significativa em trajetórias de descarbonização mais profundas e após 2035.

Fraudes em combustíveis. Uma operação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e da Receita Federal, deflagrada na manhã desta quinta-feira (25/9), cumpre 25 mandados de busca e apreensão, numa nova investida contra venda de combustível adulterado. 

  • Batizada de Spare, a operação é um desdobramento da Carbono Oculto e investiga lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio por meio de postos de combustíveis, além de motéis, franquias e empreendimentos imobiliários.
  • O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (25/9) que a pasta estuda estruturar uma delegacia especializada no combate ao crime organizado.

Operação Rejeitos. A Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara dos Deputados, aprovou nesta quarta (24/9), a realização de uma audiência pública que poderá levar a propostas legislativas em reação à operação Rejeitos. Segundo o presidente do colegiado, Diego Andrade (PSD/MG), é preciso “modernizar” o setor de mineração.
 
Lei anti-desmatamento. A União Europeia vai adiar, pela segunda vez, a entrada em vigor da lei que proíbe a importação de produtos provenientes de desmatamento, confirmou a comissária do meio ambiente, Jessika Roswall, a jornalistas em Bruxelas. Segundo ela, um novo adiamento de um ano seria necessário devido a problemas técnicos. (Reset)

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