Diálogos da Transição

A agenda verde brasileira em Nova York

Na assembleia geral da ONU, governo Lula busca investimentos sustentáveis

A agenda verde brasileira em Nova York

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Editada por Nayara Machado
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O governo brasileiro está em Nova York (EUA), esta semana, com a missão de promover o país como um ambiente seguro para investimentos “verdes”, isto é, com foco em novas energias e descarbonização.

A cidade sediará a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas marcada para começar na próxima quarta (20). Em meio a guerra, crises energéticas e eventos climáticos extremos, o encontro de líderes globais promete ser palco para discussões envolvendo desenvolvimento sustentável.

Nesta segunda (18/9), o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão correndo o risco de serem deixados para trás, com apenas 15% das metas no caminho certo para alcançar o alvo até 2030.

O Brasil tem própria agenda. Lula (PT) tem cobrado a responsabilidade de países ricos sobre seu impacto no clima e financiamento para que economias de renda média e baixa possam fazer sua transição.

Além disso, tenta posicionar o país como um território fértil para fornecer energia descarbonizada – e competitiva – para o mundo, dada sua vocação para geração eólica, solar e biocombustíveis.

Pelo lado das finanças, uma das primeiras iniciativas inclui o plano de captar US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) com a emissão de títulos verdes na Bolsa de Nova York (NYSE). Os valores ainda não estão definidos, pois dependem de uma decisão do Tesouro Nacional e do interesse dos investidores estrangeiros. As informações são da Agência Brasil.

Road show

Em encontros com empresários e autoridades do governo dos EUA, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sondaram o interesse pelos títulos verdes em mais de 30 eventos diferentes.

“Já atendemos mais de 60 fundos de investimento. A receptividade é a melhor possível, sobretudo porque esse recurso fica carimbado para financiar projetos sustentáveis, com taxas de juros mais convidativas do que nós temos hoje”, informou o ministro.

Os R$ 10 bilhões são uma estimativa da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que defende a captação como um dos caminhos para deixar de financiar indústrias do passado — suja e poluentes — e direcionar os esforços para o futuro — a bioeconomia.

Haddad não crava um número, mas diz que é o “começo de um processo”. A Fazenda considera que o arcabouço está pronto e bastam as condições adequadas de mercado para fazer a primeira emissão, entre o fim deste ano e o início se 2024

“É um recurso inicial, muito pequeno, porque o Brasil tem condição de captar muitos recursos no exterior, uma vez que temos a melhor matriz energética do mundo”, disse Haddad a jornalistas em Nova York.

Foco em biocombustíveis

Durante um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na NYSE, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o rumo que o Brasil quer seguir na descarbonização dos transportes é híbrido.

Citou o exemplo da Aliança Global de Biocombustíveis fechada em encontro lateral à cúpula do G20 na Índia, este mês, e a entrega do projeto de lei do Combustível do Futuro ao Congresso Nacional.

“[Ambas iniciativas] apontando para o rumo que nós queremos, os veículos híbridos-flex, porque são as nossas grandes potencialidades, sem exclusão da cadeia de eletrificação que, com certeza, no médio prazo, virá”.

Rating com custo de descarbonização

No final de julho, a agência de classificação de risco Fitch elevou o rating soberano do Brasil, de BB- a BB. Seguiu o movimento da Standard & Poor’s, que um mês antes alterou a perspectiva de estável para positiva – o que não ocorria desde 2019.

Na agência de risco Moody’s, a classificação do Brasil está um patamar acima, Ba2, e pode alcançar o grau de investimento se subir dois degraus. Essas classificações são uma nota de crédito, avaliam a capacidade e disposição de um país de pagar suas dívidas.

Mas ainda não olham para questões como risco climático e custo de transição. Para Luciana Costa, diretora de Infraestrutura e Transição Energética do BNDES, o rating do país poderia ser elevado considerando o baixo custo de descarbonização.

“Diferente de outros países, o custo de descarbonização do Brasil é muito mais barato porque vai vir de combater o desmatamento. Isso é mais barato do que mudar a matriz elétrica e os processos industriais”, explicou no evento da CNI.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Ainda em NY

O presidente Lula (PT) deve anunciar a correção da meta climática brasileira na Cúpula da Ambição Climática da ONU, no próximo dia 20. Na última quinta-feira (14/9), o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) aprovou uma resolução determinando o ajuste da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês).

A proposta é retornar à ambição depositada na ONU em 2015, no Acordo de Paris, enquanto o governo recalcula como melhorar sua NDC. É uma correção da meta apresentada em 2020, durante a gestão Bolsonaro, que permitia ao Brasil emitir mais do que havia sido proposto originalmente. Com informações do MMA e do Observatório do Clima

Green major

A Eletrobras deu um passo significativo para zerar as emissões líquidas de carbono com a venda este mês para a Âmbar Energia da termelétrica a carvão Candiota – que respondia, sozinha, por um terço das emissões totais da companhia.

O desinvestimento concretiza um dos principais alvos no plano de descarbonização do grupo. Depois de ser privatizada em 2022, a Eletrobras assumiu a ambição de se tornar uma líder mundial em soluções renováveis, junto com a expansão do portfólio de geração limpa para 24 GW.

Do etanol para a GD solar

A empresa de bioenergia Cocal vai inaugurar sua primeira usina solar fotovoltaica no município de Pirapozinho (SP) em outubro de 2023. Com uma capacidade média de produção de 3.500 MWh e investimento de R$ 10 milhões, o empreendimento vai fornecer eletricidade para os pequenos negócios da região.