NESTA EDIÇÃO. Petrobras quer retornar à distribuição de GLP em um momento de reformulação das regras do setor.
Presidente da Petrobras acredita que a companhia está “perto de um consenso” para a licença de exploração da Bacia da Foz do Amazonas.
Lula veta 63 dos 400 dispositivos da Lei Geral do Licenciamento Ambiental.
Créditos de descarbonização do RenovaBio sofrem desvalorização acentuada em 2025.
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Vem aí um novo mercado para o gás de botijão e a Petrobras está de olho nele
O conselho de administração da Petrobras aprovou o retorno da estatal ao segmento de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), o “gás de botijão”, em meio às discussões sobre uma reforma regulatória no segmento.
- A proposta partiu da conselheira representante dos trabalhadores, Rosangela Buzanelli, e foi apoiada por todo o conselho. O movimento está ancorado no aumento das margens do segmento nos últimos anos.
- As margens líquidas do setor dispararam 188% entre 2010 e 2023, segundo cálculos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Como comparação, a inflação, medida pelo IGP-M, apresentou um aumento de 48% no período.
- “Qual foi o negócio que em tão curto período de tempo aumentou sua atratividade em 188%? É disso que nós estamos falando. Nós não vamos, de jeito nenhum, nos autolimitar”, disse a presidente da estatal, Magda Chambriard na sexta-feira (8/8).
Por se tratar de um setor que cresce abaixo do PIB e exige capital inicial alto, a Petrobras é vista como uma das poucas companhias que de fato teriam estrutura para entrar no segmento no Brasil hoje.
- “Além da Petrobras, vemos perspectivas limitadas para novas entradas significativas, já que barreiras estruturais e longos horizontes de retorno continuam a impedir a entrada de potenciais participantes no mercado”, afirmam os analistas do BTG Pactual, Luiz Carvalho e Gustavo Cunha, em relatório elaborado ao final de julho, antes da decisão da estatal de retornar ao segmento.
- A Petrobras deixou essa área em 2021, com a venda da Liquigás.
O retorno não agradou ao mercado financeiro: asações da Petrobras tiveram forte queda na sexta (8).
- Parte do movimento também reflete a expectativa de maior pagamento de dividendos, que acabou frustrada.
- Chambriard minimizou: “Quem apostar contra a Petrobras vai perder dinheiro”, afirmou.
A decisão da companhia ocorre num momento em que a ANP debate uma ampla reforma no segmento, que inclui a recarga fracionada dos botijões de uso doméstico, além da possibilidade de enchimento por marcas diferentes daquela que consta no rótulo. Entenda quais são as propostas.
O mercado financeiro alerta que as alterações nas regras podem pressionar as margens na distribuição de GLP.
- Os analistas apontam que as altas margens são resultado justamente de décadas de investimento em cilindros que agora estão totalmente depreciados.
- “Longe de promover a concorrência ou a acessibilidade, as mudanças regulatórias podem abrir caminho para a informalidade, comprometer a segurança e prejudicar o próprio investimento necessário para expandir o acesso por meio de programas como o Gás para Todos”, diz o BTG.
Por falar nisso… Em paralelo, o governo trabalha para lançar um novo programa para ampliar o subsídio na compra de botijões para a população, o Gás para Todos.
- O novo modelo do vale-gás estava nas pautas de discussão da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) prevista para 5 de agosto — que foi adiada justamente a pedido de Chambriard.
- A expectativa é da publicação de uma medida provisória para a ampliação do programa, o que pode ocorrer sem passar pelo CNPE.
É um segmento estratégico para o país: tem impacto direto na vida do consumidor, sobretudo da população mais pobre, e está ligado não apenas à pobreza energética, mas também à segurança alimentar.
- Vale lembrar que o assunto também tende a ganhar destaque em 2026, ano de eleições.
- O Brasil tem o maior volume de botijões de toda a América Latina, com 130 milhões de unidades em circulação, ante 20 milhões no México.
Venda de ativos da Braskem. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, definiu como uma “surpresa ruim” a notícia de que a Braskem está em conversas com a Unipar sobre potenciais oportunidades para vendas de ativos.
- “Temos direito a veto desse negócio. Estranhei muito não dar ciência à Petrobras. O que fizemos foi oficiar a Braskem para sinalizar que os sócios estão aqui e não vamos deixar passar”, disse a CEO.
Consenso na Margem Equatorial. A presidente da Petrobras também acredita que a companhia está “perto de um consenso” para a licença de exploração da Bacia da Foz do Amazonas. A expectativa é que em uma reunião da próxima terça-feira (12/8) sejam definidas as condições e a data para a Avaliação Pré-Operacional (APO).
- “Já conversei pessoalmente com o presidente do Ibama, que está ciente de tudo que estamos apresentando, de todos os condicionamentos operacionais”, afirmou.
Licenciamento ambiental. O presidente Lula (PT) vetou 63 dos 400 dispositivos do PL 2159/2021, da Lei Geral do Licenciamento Ambiental.
- Entre os trechos vetados estão o texto sobre a ampliação para atividades de médio potencial poluidor; a transferência a cada ente federado da responsabilidade por estabelecer critérios e procedimentos de licenciamento; a restrição da consulta aos órgãos responsáveis pela proteção de povos indígenas e comunidades quilombolas.
- A secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, avaliou que “avanços relevantes” para a celeridade do processo ambiental foram mantidos, declarando que há unanimidade dentro do governo sobre a necessidade de agilizar esse trâmite. A discussão é sobre a forma como isso ocorrerá.
Fraudes no setor de combustíveis. O presidente da FPBio, deputado Alceu Moreira (MDB/RS), subiu o tom nas críticas contra o entendimento da Receita Federal que veda o acesso à ANP a documentos fiscais para fiscalização do mercado de combustíveis.
- “O não fornecimento da nota pela Receita [Federal] é quase uma confissão de crime, prevaricação”, disse o deputado durante evento do setor.
- O deputado é autor do PLP 109/2025, projeto de lei complementar que autoriza a agência a obter os dados junto aos órgãos fazendários.
Preço do barril. Os contratos futuros de petróleo fecharam sem direção única na sexta-feira (8/8), após seis sessões consecutivas de baixa, em meio à renovada fraqueza do dólar e avanços para uma conversa entre os líderes da Rússia e dos EUA, bem como as novas ameaças de Israel sobre a Faixa de Gaza.
- O Brent para outubro teve alta de 0,24% (US$ 0,16), a US$ 66,59 o barril. Já o WTI para setembro fechou estável, a US$ 63,88 o barril. Na semana o Brent cedeu 4,42% e o WTI, 5,12%.
Padrão de qualidade do QAV. A ANP aprovou na quinta-feira (7/8) uma nova resolução para incluir oficialmente o SAF e o diesel verde no programa RenovaBio. A agência também abriu uma consulta pública para alinhar as especificações do QAV comercializado no país às normas internacionais.
Preço dos CBIOs. Os créditos de descarbonização do RenovaBio vem sofrendo com uma desvalorização de mercado acentuada em 2025.
- O ativo que já chegou à máxima histórica de R$ 204, em 2022, fechou a semana na sexta-feira (8/8) abaixo dos R$ 60. Há três anos, o CBIO oscilava numa faixa de preço entre R$ 100 e R$ 140.
- A perda de valor coincide com decisões judiciais que livram agentes obrigados da compra dos créditos.
Disputa pelo gás da União. O direcionamento do gás no leilão da União para a produção de fertilizantes em Uberaba (MG) frustra as pretensões da indústria, que vê no leilão estruturante uma forma de acessar um gás mais barato e ganhar competitividade.
- Em paralelo, há uma disputa pelo gás da União no Congresso Nacional, onde diferentes parlamentares, por meio das emendas à Medida Provisória 1304/2025, tentam redesenhar o modelo do leilão. Leia na gas week.
Hidrogênio em foco. A indústria de hidrogênio verde, ainda em fase embrionária, se vê diante de um duplo desafio com a publicação de duas medidas provisórias: a MP 1307/2025, chamada “MP das renováveis”, e a MP 1300/2025, que trata da reforma do setor elétrico.
- A obrigação de energia renovável adicional para ZPEs e fim “de desconto no fio” podem comprometer a viabilidade econômica dos projetos. Leia na coluna de Gabriel Chiappini.