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Minerais críticos expõem bastidores das tensões comerciais entre Brasil e EUA

Recursos são estratégicos para cadeias industriais dos EUA na transição energética

Minerais críticos expõem bastidores das tensões comerciais entre Brasil e EUA (Foto: Official White House/Joyce N. Boghosian)
Donald Trump durante AI Summit da Casa Branca, em Washington (Foto: Official White House/Joyce N. Boghosian)

NESTA EDIÇÃO. Pano de fundo de tarifas dos EUA contra o Brasil envolve acesso a matérias-primas para transição energética. 
 
ANP abre consultas públicas sobre elevação do percentual da mistura de etanol anidro à gasolina e critérios para cálculo das tarifas de transporte de gás
 
Demora na definição do leilão de reserva de capacidade leva New Fortress Energy a transferir navio regaseificador para o Egito.

Barragem em Brumadinho tem nível de emergência elevado; famílias do entorno são evacuadas.

Com atraso na eletrificação de ônibus, São Paulo mira biometano como alternativa para redução das emissões no transporte público.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

O principal representante diplomático dos Estados Unidos no Brasil confirmou que a negociação das taxas impostas pelo presidente Donald Trump passa pelo acesso privilegiado a recursos estratégicos brasileiros para a transição energética.

  • Em reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, vinculou a negociação das taxas a acordos para minerais críticos. (O Globo)

O movimento indica uma estratégia mais ampla: usar tarifas como moeda de troca para garantir o suprimento de matérias-primas que hoje dependem fortemente da China.

  • Revela, assim, que as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros vão além de medidas protecionistas e questões de política interna, conforme vinham indicando as falas de Trump. 
  • Demonstra ainda o peso dos recursos minerais nas estratégias de política dos EUA e a busca por manter o posicionamento histórico do Brasil no mercado internacional, como exportador de matérias-primas

Na prática, é um movimento para garantir acesso privilegiado a insumos brasileiros para reduzir a vulnerabilidade da indústria dos EUA na competição com a China. 

  • O Brasil é considerado um fornecedor estratégico — com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e terras raras, e a terceira de níquel
  • São matérias-primas cruciais para a fabricação de baterias, turbinas eólicas e motores de veículos elétricos, por exemplo. 

Leia também: De olho nos minerais críticos, Europa promete cooperar com Japão enquanto EUA avança sobre a Ásia

A aproximação não é novidade, muito menos exclusividade do governo republicano. 

  • No ano passado, ainda sob a gestão de Joe Biden, Brasil e EUA já haviam anunciado a criação da “Nova Parceria Brasil-EUA para a Transição Energética”. 
  • O acordo assinado durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, inclui o fortalecimento da cadeia de suprimento de tecnologias limpas — com destaque para minerais estratégicos. 
  • Em junho, logo antes do anúncio das tarifas, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e a U.S. Chamber of Commerce entregaram aos governos brasileiro e norte-americano uma proposta conjunta de cooperação estratégica para o fortalecimento da cadeia de minerais críticos. 

Antes mesmo de assumir o segundo mandato como presidente dos EUA, Trump já vinha indicando que o tema seria uma das chaves da geopolítica durante seu governo. 



Tarifas condicionadas. Trump declarou que os EUA só reduzirão tarifas se outros países “abrirem seus mercados”; caso contrário, impõe taxas que podem variar entre 15% e 50%. As declarações foram publicadas após acordo com o Japão, que inclui redução tarifária para 15% em certos produtos e imposição de fundo de US$ 550 bi em investimentos.

  • A União Europeia aprovou na quinta (24/7) uma lista de contratarifas que podem aplicar até € 93 bilhões em produtos dos EUA, como resposta preventiva às ameaças norte-americanas de tarifas de 30% a partir de 1º de agosto. Em paralelo, o bloco segue buscando um acordo bilateral ainda em agosto.

Preço do barril. Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta na quinta-feira (24/7), após três dias seguidos de queda, reflexo das negociações entre EUA e União Europeia.O Brent para outubro teve alta de 0,78% (US$ 0,53), a US$ 68,36 o barril.

  • Também influenciaram o mercado as informações de que os EUA devem permitir que a Chevron seja liberada novamente para extrair petróleo na Venezuela.

Foz do Amazonas. O Ibama solicitou à Petrobras os planos para simulação de emergência na Foz do Amazonas, que serão discutidos em 12 de agosto. O cronograma frustrou as expectativas da petroleira de realizar a operação ainda este mês, para pleitear a licença para o início da perfuração.

Aumento da octanagem. A ANP avançou nas discussões sobre a elevação do percentual da mistura de etanol anidro à gasolina, de 27% para 30% (E30). A agência aprovou a realização de consulta pública, por cinco dias

  • A redução do prazo, geralmente de 45 dias, foi motivada pela urgência da medida, pois a nova composição da gasolina C entrará em vigor a partir de 1º de agosto.

Tarifas de gasodutos. A ANP também aprovou na abertura de consulta pública, por 45 dias, sobre a regulamentação dos critérios para cálculo das tarifas de transporte de gás natural.

  • Na prática, é a revisão da Resolução 15/2014, para atualizar as regras ao modelo de entrada e saída e à Lei do Gás de 2021.

Plano de expansão. O planejamento de longo prazo das transportadoras de gás inclui 30 projetos de expansão da malha. O plano coordenado colocado em consulta pública reúne interiorização e intervenções estratégicas regionais, para ampliar capacidade e atender demanda crescente do setor. Conheça os projetos

Novo vale-gás. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD) , confirmou o lançamento em 5 de agosto do novo desenho do vale-gás para famílias de baixa renda. A meta é alcançar 17 milhões de beneficiários até 2027. A Caixa fará os repasses diretamente aos revendedores de GLP. 

Ajuste de rota. Com o leilão de reserva de capacidade indefinido, a New Fortress Energy transferiu o navio regaseificador FSRU Energos Winter do terminal de GNL de Santa Catarina para o Egito. A expectativa da empresa é retomar o projeto no Brasil após a definição da nova licitação. 

Redução dos cortes de geração. O MME publicou as regras para que termelétricas inflexíveis reduzam a geração em momentos de sobra de energia. A expectativa é que os agentes possam ir ao mercado comercializar gás natural por preços mais vantajosos do que a geração de energia.

  • Além disso, a expectativa é de um melhor aproveitamento da geração eólica e solar, diminuindo os cortes de geração (curtailment).

Leilão de reserva de capacidade. Todos os custos dos projetos, incluindo o transporte de gás, devem ser considerados na elaboração do LRCAP, sob o risco de comprometer a segurança jurídica do certame, defende o diretor de comercialização e novos negócios da Eneva, Marcelo Lopes. O executivo concedeu entrevista ao estúdio eixos durante o Sergipe Oil & Gas.

Evacuação em Brumadinho. A ANM elevou o nível de emergência da barragem B1-A para nível 2, em Brumadinho, no interior de Minas Gerais. A medida é preventiva. Estudos conduzidos por auditores e projetistas não foram conclusivos sobre a segurança da estrutura.
 
Expansão da geração hidrelétrica. A Estratégia Nacional de Mitigação prevista para o Plano Clima inclui uma meta de 6,3 GW em repotenciação de hidrelétricas, três vezes menor do que o potencial mapeado pelo mercado. Segundo a Abrage, a possibilidade de expansão chega a 18,5 GW, a partir de motorização de poços vazios, modernização de equipamentos e ampliação de casas de força.
 
R$ 454 bilhões em investimentos em hidrogênio. O Brasil tem 111 empreendimentos de hidrogênio verde, amônia, e-metanol e aço verde em curso, espalhados em 15 estados, segundo a consultoria Clean Energy Latin America (Cela). Essas iniciativas devem demandar cerca de 90 GW de capacidade instalada de energia renovável.
 
Impacto do clima. Incêndios provocaram cerca de 65 mil interrupções no fornecimento de energia no primeiro semestre de 2024. Levantamento da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) aponta que a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos estão, cada vez mais, impactando a infraestrutura elétrica do país.
 
Etanol de milho cresce. O milho já representa 20% da produção nacional do biocombustível, somando 7,55 bilhões de litros no ano. O crescimento é impulsionado pela safra do Centro-Oeste, a introdução do percentual de 30% de mistura na gasolina e o reconhecimento da sua safrinha como insumo para o combustível sustentável de aviação (SAF). 
 
Transporte limpo. Diante do atraso da eletrificação da frota de ônibus, São Paulo passa a mirar o biometano como alternativa. Um edital para o fornecimento do combustível deve ser lançado até 20 de agosto.

  • Na quarta (23/7), a prefeitura entregou mais 120 novos ônibus elétricos para o transporte público da cidade, elevando para 841 o número de veículos de baixo carbono na frota pública, o equivalente a 6,3% dos 13.336 ônibus que fazem o transporte de passageiros.

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