Energia

Na transição, sai à frente quem descobrir como montar o quebra-cabeça

Entrevista com Bob Ell, diretor global de Marketing para Óleo e Gás da Honeywell

Bob Ell, diretor de marketing de óleo e gás da honeywell (Foto: Honeywell/Divulgação
Em entrevista à epbr, Bob Ell elenca cinco peças que precisam se encaixar no quebra cabeça da transição (Foto: Honeywell/Divulgação)

ORLANDO — A transição energética é um quebra-cabeça e as empresas de energia estão tentando entender como montá-lo, afirma Bob Ell, diretor global de Marketing para Óleo e Gás da Honeywell. Em entrevista à agência epbr, o executivo elenca cinco peças que precisam se encaixar: pessoas, segurança cibernética, infraestrutura, processos e automação.

“A história está preocupada com o que vamos fazer com todas essas pessoas que estão se aposentando e como administrar as operações no futuro”, diz.

Um desafio é atrair os jovens e treiná-los para serem tão eficientes quanto as pessoas que estão saindo.

“A indústria de petróleo e gás pode não ser tão atraente para os jovens quanto, digamos, Google, Facebook ou Amazon. Esse tem sido outro problema: como atrair jovens para me ajudar a administrar esta organização?”

Para Ell, a transição é sobre entender o que isso significa. E para cada parte envolvida — sociedade, empresas e governo — ela pode ter um significado diferente.

“Quando consideramos as empresas de energia, a transição significa agora, o que fazer como uma empresa de energia, qual é minha responsabilidade e como lidar com isso”.

Mudanças no padrão de consumo de energia

Ell afirma que, nesse movimento, os jovens estão assumindo mais o protagonismo, e colocando na mesa questões como: o que poderíamos fazer para ser mais responsáveis? Como isso é percebido pelos meus acionistas e minha comunidade de investidores? Como é percebido pelo público em geral?

“Há muitos estudos agora que dizem que nossas necessidades de energia como sociedade e como negócios serão quase as mesmas até 2050. E parte desse raciocínio é que, na maioria das vezes, a sociedade não está mudando o consumo“.

Mesmo acreditando na substituição dos veículos a combustão por elétricos de forma significativa nos próximos anos, o especialista aponta que há muitos desafios pela frente, como garantir energia firme e ao mesmo tempo renovável para gerar a eletricidade que será consumida pelos novos motores, por exemplo.

“Precisamos de um equilíbrio de múltiplas fontes de energia. Muito se fala na transição para o hidrogênio e o transporte com amônia. Mas todos esses mecanismos de transporte ainda não foram totalmente desenvolvidos. Ainda temos alguns desafios técnicos para resolver”.

Além de encontrar o caminho para levar hidrogênio aos centros de consumo, será preciso também trabalhar a aceitação do público.

“É bastante aceitável para a maior parte das pessoas pensar em ter um caminhão-tanque que ande na rua hoje com gasolina ou óleo diesel. Mas como será a aceitação desse mesmo caminhão-tanque cheio de hidrogênio? É basicamente uma grande bomba. Parte desse quebra-cabeça é “o quê”, “como”?”

A seguir, os principais pontos da entrevista:

Onde estão as empresas de petróleo e gás hoje?

“Elas estão em muitos lugares diferentes. É uma resposta difícil. Todas as majors e super majors já possuem programas, estão mudando de nome ou criando uma divisão. Elas querem ter um grupo de pessoas focadas em fazer as coisas de forma diferente, porque, como acabamos de falar, é difícil. Ainda não sabermos exatamente o que tudo isso significa”. 

Com várias alternativas à mesa, como solar, eólica, baterias, hidrogênio, Ell afirma que “todo mundo está de olho em todo mundo”, tentando descobrir qual a melhor aposta.

“Algumas [majors] são mais progressistas e estão à frente da curva, realmente fazendo e testando [vários] tipos de coisas. Pegando seus gastos de capital e direcionando para algumas dessas outras atividades. Já outras, que eu diria que são mais conservadores em sua abordagem e, portanto, não estão gastando necessariamente tanto [com transição]”.

São empresas que estão preferindo assegurar seu portfólio baseado em petróleo e gás, alterando pouco — ou nada — as projeções para 2030 e 2050 e deixando para revisar os planos estratégicos à medida que o mercado se resolve. 

“Minha preocupação é: vamos supor que uma dessas empresas acontece de investir e ser inteligente sobre o que está fazendo em relação a outro concorrente. O que aconteceu quando a Amazon apareceu? O mercado do varejo mudou da noite para o dia”, pontua.

“E se alguém descobrir o cenário do hidrogênio, ou esse equilíbrio renovável, ou sobre créditos de carbono e resolver esse quebra-cabeça? De repente, eles serão a empresa de primeira linha e também terão uma percepção muito grande no mercado e pelos investidores”.

Ambiente regulatório e políticas de incentivo também ajudam a juntar as peças. 

Alguns governos são muito proativos nesse novo espaço, e outros não. Alguns estão fornecendo incentivos, outros não. Isso adiciona outra camada de peças que são consideradas nas decisões de negócios”.

A transição não é uma resposta simples

Na visão de Ell, toda a transição está ligada à transformação digital e gerenciamento de energia, e todo mundo tem uma ideia diferente sobre o que isso significa.

“Quando a alta administração dessas empresas está tomando essas decisões e escolhas, elas estão entendendo que esta é uma jornada que vai modificar a empresa por um longo período de tempo. Preciso pensar no meu pessoal dentro desta empresa”.

É aí que as diferentes peças — pessoas, segurança cibernética, infraestrutura, processos e automação — precisam se encaixar.

Antigamente, comprávamos uma torradeira e recebíamos uma torradeira padrão. Hoje ela vem com um chip conectado à rede ou à minha geladeira que me envia uma lista quando estou no supermercado dizendo para não esquecer de pegar manteiga e açúcar”.

Segundo Ell, a mesma coisa está acontecendo na automação industrial. A inteligência artificial deve se tornar cada vez mais relevante para a eficiência das empresas e fornecimento de dados para tomadas de decisões. Mas é preciso estabelecer confiança.

“Se eu perguntar: Você confiaria entrar em um carro autônomo e deixar que ele te conduzisse pela rua? A resposta de muitas pessoas seria não. E isso não é porque é uma tecnologia ruim, é apenas porque não descobrimos uma maneira de confiar nela”. 

* A jornalista viajou a convite da Honeywell