Diálogos da Transição

Mundo precisa de 80 milhões de km de redes para escoar energia limpa até 2040

Transmissão de energia corre risco de ser ‘elo fraco’ da transição, diz IEA

Leilão de transmissão de energia, marcado para março de 2024, prevê R$ 20,5 bilhões de investimentos. Na imagem: Central elétrica com grandes torres e linhas de transmissão de energia de alta tensão; ao fundo, densas nuvens brancas, na parte de baixo, e céu azul acima (Foto Agência Senado)
Central elétrica de alta tensão (Foto: Agência Senado)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Uma das expectativas em relação à Conferência Climática da ONU (COP28) marcada para o final do ano, nos Emirados Árabes Unidos, é que os líderes globais abracem a ambição de triplicar a produção de energia renovável e dobrar a produção de hidrogênio até 2030 como estratégia para limitar o aquecimento do planeta.

Algo que vai demandar trilhões de dólares em investimentos em adições globais de capacidade renovável.

E outros US$ 600 bilhões por ano até 2030 em linhas de transmissão e distribuição para escoar toda essa eletricidade.

Novo estudo da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra que as redes elétricas não estão acompanhando o rápido crescimento de tecnologias de energia limpa, como solar, eólica, carros elétricos e bombas de calor.

“Sem maior atenção política e investimento, deficiências na extensão e qualidade da infraestrutura de rede podem tornar inatingível o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C e minar a segurança energética”, alerta o relatório.

Pelos cálculos da agência, alcançar todas as metas nacionais de clima e energia exigirá adicionar ou substituir 80 milhões de quilômetros de linhas de energia até 2040 – quantidade equivalente à rede global existente.

Embora o investimento em energias renováveis tenha quase dobrando desde 2010, o investimento global em redes ficou estático em cerca de US$ 300 bilhões por ano.

“Devemos investir em redes hoje ou enfrentar um impasse amanhã”, resume o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.

“O recente progresso nas energias limpas que vimos em muitos países é sem precedentes e motivo de otimismo, mas isso pode ser colocado em risco se governos e empresas não se unirem para garantir que as redes elétricas do mundo estejam prontas para a nova economia global”, completa.

Elo fraco

O risco é que as redes se tornem o elo fraco da transição, em meio à expansão acelerada das renováveis, com impacto nas emissões de CO2.

A IEA estima que atrasos no investimento e na reforma das redes podem aumentar as emissões de CO2 em até 58 bilhões de toneladas até 2050 – equivalente às emissões totais de energia dos últimos quatro anos.

Também significaria que o aumento da temperatura global a longo prazo ultrapassaria significativamente 1,5 °C, com 40% de chance de superar 2 °C, aponta.

A fila está grande

O relatório mapeou pelo menos 3 terawatts (TW) de projetos de energia renovável, dos quais 1,5 TW estão em estágios avançados, aguardando conexão à rede.

Para dar uma dimensão: esse valor equivale a cinco vezes a quantidade de capacidade solar fotovoltaica e eólica adicionada em 2022.

O número de projetos aguardando conexão em todo o mundo pode ser maior – os dados sobre as filas encontrados pela agência são de países que representam metade da capacidade global de energia eólica e solar fotovoltaica.

É uma corrida contra o tempo. Até ficar pronta, a nova infraestrutura pode levar de 5 a 15 anos para ser planejada, autorizada e concluída – em comparação com 1 a 5 anos para novos projetos de energias renováveis.

E nem todo mundo está no mesmo ritmo. Em países emergentes, exceto a China, os investimentos em redes caíram nos últimos anos, apesar do crescimento da demanda por eletricidade.

Como resolver?

A IEA pede colaboração internacional e financiamento para colocar todo mundo no mesmo caminho – em direção a 1,5°C.

“Garantir que o mundo em desenvolvimento tenha os recursos necessários para construir e modernizar redes elétricas é uma tarefa essencial para a comunidade internacional”, diz Birol.

“Ao mobilizar financiamento, fornecer acesso à tecnologia e compartilhar as melhores práticas em políticas, as principais economias podem ajudar a melhorar a vida das pessoas, fortalecer o desenvolvimento sustentável e reduzir os riscos das mudanças climáticas”.

E o Brasil?

Por aqui, um apagão no dia 15 de agosto que afetou todas as regiões do Brasil e deixou 30 milhões de pessoas sem luz trouxe à tona uma série de problemas nos sistemas de transmissão e distribuição do país.

Relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) que avaliou as causas do problema aponta centenas de correções e providências a serem tomadas por 122 agentes que de alguma forma não tiveram desempenho satisfatório durante o apagão.

A ações incluem ajustes em proteções, soluções para problemas na comunicação entre os agentes e a validação dos modelos matemáticos de todos os geradores eólicos e fotovoltaicos.

Enquanto isso… governo e BNDES estudam o financiamento de empresas que atuem na construção de linhas de transmissão de energia elétrica, com foco na transição.

A ideia é atuar no incremento da infraestrutura de escoamento de energia renovável produzida especialmente no norte de Minas Gerais e na região Nordeste.

Leia também:

Curtas

Proteção contra o clima

O governo de Joe Biden, nos EUA, vai fornecer US$ 3,5 bilhões em subsídios para projetos de proteção à envelhecida rede elétrica do país contra condições climáticas extremas e incêndios. Também prevê a conexão da nova capacidade renovável aos sistemas de transmissão. De acordo com informações da Reuters, serão 58 projetos financiados em 44 estados pela lei bipartidária de infraestrutura.

Expansão solar

No Brasil, o grupo Delta Energia está ampliando seu portfólio solar com um plano com a construção de fazendas fotovoltaicas que somarão 110 megawatts-pico (MWp) de potência instalada quando entrarem em operação até junho de 2024.

Serão cerca de 30 a 35 usinas fotovoltaicas instaladas em nove estados do Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal. A previsão da companhia é atender cerca de 60 mil unidades consumidoras de baixa tensão no país.

Eletrificando

A Stellantis iniciou na última semana a produção de veículos equipados com tecnologias bio-hybrid e 100% elétricas no Polo Automotivo de Goiana, no Nordeste. Os motores híbridos estarão disponíveis a partir de 2024. São três sistemas diferentes combinando motores a combustão, flex e etanol com elétricos.

SAF

A Emirates anunciou nesta quarta (18/10) a ampliação do seu acordo com a Neste para o fornecimento de mais de 3 milhões de galões (11 milhões de litros) de combustível sustentável da aviação (SAF, em inglês) em 2024 e 2025. O volume equivale a uma mistura de mais de 30% de SAF puro combinado com combustível Jet A-1 convencional.

O produto renovável será adicionado ao querosene convencional que abastecerá os voos da Emirates partindo dos aeroportos de Schiphol em Amsterdã (Holanda) e Changi em Singapura.

Para a agenda

Na próxima semana, de 25 e 26 de outubro, a Federação na Indústria do Ceará (Fiec) promove a segunda edição do Fiec Summit Hidrogênio Verde, com investidores interessados no hub do estado. O Ceará planeja ser um hub de energias renováveis, com fornecimento para a indústria local e exportação de derivados de H2 para a Europa. Inscrições gratuitas no site fiecsummit.org.br