Energia

Mulheres transmitindo energia: uma reflexão sobre a presença feminina no setor elétrico 

Ainda há baixa representatividade e um importante caminho para ampliar a participação feminina nesse ambiente de maioria masculina, escreve Gabriela Desirê

Mulheres transmitindo energia - uma reflexão sobre a presença feminina no setor elétrico 
"Na maioria das salas de engenharia elétrica ainda somos minoria", afirma Gabriela Desirê, diretora executiva de operações da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do Brasil
Mulheres transmitindo energia - uma reflexão sobre a presença feminina no setor elétrico 
“Na maioria das salas de engenharia elétrica ainda somos minoria”, afirma Gabriela Desirê, diretora executiva de operações da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do Brasil

Neste mês em que comemoramos a história e a luta das mulheres no mundo, também reforçamos a importância de um olhar crítico para as questões de igualdade, de equidade de direitos e de oportunidades às mulheres, de forma justa, em todas as esferas, principalmente no mercado de trabalho.

Há séculos, batalhamos para diminuir os abismos e as disparidades que dificultam a muitas de nós o desenvolvimento profissional.

Ainda num passado recente, em 1975, foi “necessária” a oficialização do Dia Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU), para que a isonomia fosse defendida e para que as pessoas fossem “educadas” sobre a luta, os direitos e as conquistas das mulheres.

Depois disso, foi instituído o mês de março como o “mês das mulheres”, em comemoração aos marcos da luta da mulher por seus direitos em todo o mundo.

Embora saibamos que, por muito tempo, o acesso ao ensino superior e ao voto nos foi negado, até o presente momento, vemos os impactos que a ausência desses direitos básicos causou e seus reflexos em nossa sociedade.

E, quando olhamos para frente, é perceptível que ainda há um longo caminho para percorrer e avançar.

Baixa representatividade

De acordo com o relatório Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2021 (WESO Trends 2021, da OIT), neste período pandêmico, mulheres foram atingidas de forma desproporcional em relação à contratação e à inatividade, tendo menos oportunidades de trabalho.

Sem falar na violência física, psicológica ou sexual que atingiu mais de 20% das mulheres acima de 16 anos no Brasil, em 2020, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.

Quando analisamos o setor elétrico, ainda identificamos uma baixa representatividade e um importante caminho a percorrer para ampliar a participação feminina, em um ambiente profissional predominantemente masculino.

“Na maioria das salas de engenharia elétrica ainda somos minoria”

A origem também está na formação: na maioria das salas de engenharia elétrica, por exemplo, ainda somos minoria.

Historicamente, as escolas de engenharia surgem a partir das academias militares. Assim sendo, a primeira escola de engenharia no Brasil foi a Academia Real Militar, criada em 4 de dezembro de 1810.

Já em 1913, surgiu a primeira instituição brasileira dedicada à Engenharia Elétrica — o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (MG) —, que só formou a primeira engenheira eletricista, Maria Luiza Soares Fontes, em 1950.

Segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), quase 19% dos profissionais ativos no sistema da instituição são mulheres, em um universo de mais de 980 mil inscritos. Ou seja, somente 184.881 são do gênero feminino.

Ainda de acordo com o Confea, entre 2016 e 2018, houve um crescimento de 42% no número das profissionais registradas no segmento energético. Entretanto, apenas 19% dos cargos do setor eram exercidos por elas.

Apenas 6% de mulheres em lideranças no setor elétrico

Afunilando para cargos de liderança no setor elétrico, os números são ainda mais alarmantes e caem para 6%, de acordo com um estudo realizado em 2021 pela Fesa Executive Search, empresa de seleção de executivos do Grupo Fesa.

A grande questão é que a falta de representatividade em cargos de alta liderança, principalmente em um setor majoritariamente masculino, não dá visibilidade e pode desencorajar outras mulheres a trilharem suas próprias carreiras.

Como engenheira eletricista, com mais de 25 anos de experiência no setor elétrico, atualmente à frente da diretoria de operações de uma transmissora de energia que possui 60% da diretoria executiva composta por mulheres, posso afirmar que a jornada nesta profissão exige não só encorajamento e persistência.

Mas também que sejamos resilientes e usemos nossas habilidades agregadoras para apoiar e inspirar outras mulheres, transmitindo a mensagem positiva de que podemos, sim, ser representantes e representadas nesse setor ainda tão masculino.

Mais oportunidades

Nesse sentido, é notória a necessidade de impulsionar rapidamente as oportunidades em que as mulheres possam desenvolver todo o seu potencial.

O ponto alto da discussão é que, além da importância de investir no recrutamento de mais mulheres, haja uma mudança cultural nas organizações, com a criação de programas de diversidade, equidade e inclusão.

Outro ponto preponderante está no estímulo ao ingresso feminino em cursos nos quais a predominância também é masculina, para que elas possam, cada vez mais, ocupar o setor e alcançar novas lideranças.

Em direção à igualdade de gênero, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para a Agenda 2030 se refere à mobilização das esferas social, acadêmica e institucional e, principalmente, à ação para uma sociedade mais inclusiva e oportuna para meninas e mulheres conquistarem o que quiserem.

Gabriela Desirê é diretora executiva de operações da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do Brasil. Tem mais de 25 anos de experiência no setor de energia, iniciando a carreira como Operadora do Sistema, em Furnas, passando à Operadora Nacional do Sistema Elétrico, no ONS.

Em 2011, assumiu a Gerência de Operações na State Grid e, posteriormente, a Gerência de Relacionamento Operacional na Neoenergia.

Em sua mais recente posição, atuou como Diretora de Operações na Evoltz Participações.

Gabriela é graduada em Engenharia Elétrica e Sistemas Elétricos de Potência pela Universidade Federal do Ceará, possui Especialização em Sistemas de Controle pelo Instituto Militar de Engenharia e é ainda especialista em Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá.