Neste mês em que comemoramos a história e a luta das mulheres no mundo, também reforçamos a importância de um olhar crítico para as questões de igualdade, de equidade de direitos e de oportunidades às mulheres, de forma justa, em todas as esferas, principalmente no mercado de trabalho.
Há séculos, batalhamos para diminuir os abismos e as disparidades que dificultam a muitas de nós o desenvolvimento profissional.
Ainda num passado recente, em 1975, foi “necessária” a oficialização do Dia Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU), para que a isonomia fosse defendida e para que as pessoas fossem “educadas” sobre a luta, os direitos e as conquistas das mulheres.
Depois disso, foi instituído o mês de março como o “mês das mulheres”, em comemoração aos marcos da luta da mulher por seus direitos em todo o mundo.
Embora saibamos que, por muito tempo, o acesso ao ensino superior e ao voto nos foi negado, até o presente momento, vemos os impactos que a ausência desses direitos básicos causou e seus reflexos em nossa sociedade.
E, quando olhamos para frente, é perceptível que ainda há um longo caminho para percorrer e avançar.
Baixa representatividade
De acordo com o relatório Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo: Tendências 2021 (WESO Trends 2021, da OIT), neste período pandêmico, mulheres foram atingidas de forma desproporcional em relação à contratação e à inatividade, tendo menos oportunidades de trabalho.
Sem falar na violência física, psicológica ou sexual que atingiu mais de 20% das mulheres acima de 16 anos no Brasil, em 2020, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.
Quando analisamos o setor elétrico, ainda identificamos uma baixa representatividade e um importante caminho a percorrer para ampliar a participação feminina, em um ambiente profissional predominantemente masculino.
“Na maioria das salas de engenharia elétrica ainda somos minoria”
A origem também está na formação: na maioria das salas de engenharia elétrica, por exemplo, ainda somos minoria.
Historicamente, as escolas de engenharia surgem a partir das academias militares. Assim sendo, a primeira escola de engenharia no Brasil foi a Academia Real Militar, criada em 4 de dezembro de 1810.
Já em 1913, surgiu a primeira instituição brasileira dedicada à Engenharia Elétrica — o Instituto Eletrotécnico de Itajubá (MG) —, que só formou a primeira engenheira eletricista, Maria Luiza Soares Fontes, em 1950.
Segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), quase 19% dos profissionais ativos no sistema da instituição são mulheres, em um universo de mais de 980 mil inscritos. Ou seja, somente 184.881 são do gênero feminino.
Ainda de acordo com o Confea, entre 2016 e 2018, houve um crescimento de 42% no número das profissionais registradas no segmento energético. Entretanto, apenas 19% dos cargos do setor eram exercidos por elas.
Apenas 6% de mulheres em lideranças no setor elétrico
Afunilando para cargos de liderança no setor elétrico, os números são ainda mais alarmantes e caem para 6%, de acordo com um estudo realizado em 2021 pela Fesa Executive Search, empresa de seleção de executivos do Grupo Fesa.
A grande questão é que a falta de representatividade em cargos de alta liderança, principalmente em um setor majoritariamente masculino, não dá visibilidade e pode desencorajar outras mulheres a trilharem suas próprias carreiras.
Como engenheira eletricista, com mais de 25 anos de experiência no setor elétrico, atualmente à frente da diretoria de operações de uma transmissora de energia que possui 60% da diretoria executiva composta por mulheres, posso afirmar que a jornada nesta profissão exige não só encorajamento e persistência.
Mas também que sejamos resilientes e usemos nossas habilidades agregadoras para apoiar e inspirar outras mulheres, transmitindo a mensagem positiva de que podemos, sim, ser representantes e representadas nesse setor ainda tão masculino.
Mais oportunidades
Nesse sentido, é notória a necessidade de impulsionar rapidamente as oportunidades em que as mulheres possam desenvolver todo o seu potencial.
O ponto alto da discussão é que, além da importância de investir no recrutamento de mais mulheres, haja uma mudança cultural nas organizações, com a criação de programas de diversidade, equidade e inclusão.
Outro ponto preponderante está no estímulo ao ingresso feminino em cursos nos quais a predominância também é masculina, para que elas possam, cada vez mais, ocupar o setor e alcançar novas lideranças.
Em direção à igualdade de gênero, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para a Agenda 2030 se refere à mobilização das esferas social, acadêmica e institucional e, principalmente, à ação para uma sociedade mais inclusiva e oportuna para meninas e mulheres conquistarem o que quiserem.
Gabriela Desirê é diretora executiva de operações da ISA CTEEP, maior transmissora privada de energia elétrica do Brasil. Tem mais de 25 anos de experiência no setor de energia, iniciando a carreira como Operadora do Sistema, em Furnas, passando à Operadora Nacional do Sistema Elétrico, no ONS.
Em 2011, assumiu a Gerência de Operações na State Grid e, posteriormente, a Gerência de Relacionamento Operacional na Neoenergia.
Em sua mais recente posição, atuou como Diretora de Operações na Evoltz Participações.
Gabriela é graduada em Engenharia Elétrica e Sistemas Elétricos de Potência pela Universidade Federal do Ceará, possui Especialização em Sistemas de Controle pelo Instituto Militar de Engenharia e é ainda especialista em Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Itajubá.