Diálogos da Transição

Mudança climática é desafio crítico para o FMI, diz diretora-geral

Haddad pede cooperação mais estreita no financiamento climático; e G7 discute eliminação gradual do carvão na geração de energia

Mudança climática é desafio crítico para o FMI, diz diretora-geral. Na imagem: Kristalina Georgieva, Diretora-geral do Fundo Monetário Internacional – FMI (Foto: Kim Haughton/FMI)
Diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva (Foto: Kim Haughton/FMI)

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Editada por Nayara Machado
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A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, disse na segunda (10/4) que a mudança climática é um dos desafios macroeconômicos mais críticos que os membros da organização — criada em 1945 para ajudar na reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial — estão enfrentando.

A política búlgara abriu a reunião de primavera do FMI reconhecendo que a lacuna de financiamento climático é “particularmente grande”, especialmente em países emergentes e vulneráveis, e que os governos não serão capazes de mobilizá-los sozinhos.

“Devemos encontrar maneiras de aumentar substancialmente o financiamento privado”, destacou Georgieva.

“Para fazer isso, os países devem adotar políticas climáticas transformadoras e implementar reformas regulatórias e institucionais para ajudar a criar um ambiente propício para o financiamento climático privado”, completou.

Em meio a várias crises que afetam o mundo em desenvolvimento — clima, alimentos e dívida — o FMI calcula que serão necessários de US$ 3 trilhões a US$ 6 trilhões por ano até 2050 em investimentos para enfrentar o desafio climático.

Mas, até o final do ano passado, só US$ 630 bilhões desse total foram aplicados — e uma parte pequena foi destinada aos países emergentes.

‘Recuperação rochosa’: O panorama econômico deste ano mostra que a inflação global está caindo lentamente, mas o crescimento econômico permanece historicamente baixo e os riscos financeiros aumentaram.

No ano passado, o fundo criou um mecanismo de financiamento de longo prazo para ajudar os países a criar resiliência a choques externos e garantir o crescimento sustentável, o RST (Resilience and Sustainability Trust).

Com cinco programas em vigor, Georgieva afirma que a demanda é forte: cerca de 44 países estão interessados ​​em aderir aos pacotes.

“As reformas sob nosso Mecanismo de Resiliência e Sustentabilidade visam aumentar a responsabilidade e a transparência das estruturas de investimento dos países. Nossos programas — apoiados por atividades de capacitação — ajudam a remover obstáculos ao investimento privado, adotando políticas favoráveis ​​ao clima, como reformas de subsídios a combustíveis fósseis, divulgações relacionadas ao clima e mudanças regulatórias”, contou.

Até o momento, Ruanda, Barbados, Costa Rica, Bangladesh e Jamaica estão inseridos no RST.

Barbados propõe reforma

Em uma entrevista à Al JazeeraAvinash Persaud, enviado climático de Barbados, observa, no entanto, que os limites de cotas são insuficientes para empréstimos de emergência.

No RST, por exemplo, o financiamento do país é limitado a 150% de seus compromissos de capital no fundo.

“Isso restringe a quantidade de empréstimos para emergências fiscais e climáticas. Em vez disso, o fundo deveria tentar desempenhar um papel semelhante ao do Fed (o banco central dos EUA) nas últimas semanas, ou seja, um credor provisório com poucas condições de empréstimo”.

A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley é uma das líderes na luta por financiamento para lidar com as mudanças climáticas. Em 2022, lançou a Iniciativa Bridgetown, uma agenda de reformas financeiras internacionais paralela aos mecanismos de adaptação e de perdas e danos — aqueles US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos e ainda não cumpridos.

Vale dizer: poucos estarão imunes aos riscos climáticos.

Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial de 2023 aponta que nos próximos 10 anos, a falta de mitigação e adaptação climática lideram, com a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema vistos como um dos riscos globais de deterioração mais rápida na próxima década.

Além disso, o painel de cientistas da ONU alerta que quase metade da população global é altamente vulnerável à emergência climática.

A nação insular está na lista dos que menos contribuíram para o aquecimento do planeta, mas são os mais vulneráveis ao caos climático.

Haddad pede cooperação mais estreita

Em carta encaminhada à reunião do FMI, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobrou dos países ricos o financiamento climático para apoiar os esforços de mitigação, adaptação e transição dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento.

“Isso está de acordo com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas”.

Para o ministro brasileiro, a pandemia de covid-19 mostrou “o potencial e as deficiências da cooperação global” diante de um “desafio esmagador”.

“O Fundo desempenhou um papel particularmente construtivo nesse período. No entanto, estamos convencidos de que uma cooperação internacional mais estreita teria resultado muito melhor, especialmente para os países mais pobres e populações mais vulneráveis”.

Cobrimos por aqui:

G7 discute carvão

As nações ricas que compõem o G7 discutem o cronograma de eliminação gradual do carvão na geração de energia que será apresentado na cúpula dos principais ministros de energia e meio ambiente do próximo fim de semana.

Em 2021, o grupo formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá se comprometeu a interromper, até o final daquele ano, os subsídios públicos para a geração térmica a carvão.

A agenda elencou a transição do carvão para outras fontes de energia com menor intensidade de carbono como crucial para os planos de emissões líquidas zero até 2050.

Para isso, indicou a necessidade de mobilizar US$ 10 bilhões em cofinanciamento, com participação do setor privado, para apoiar a implantação de energia renovável em economias em desenvolvimento e emergentes.

Quase dois anos (e uma crise energética) depois, os países voltam a discutir os caminhos dessa transição.

Documentos preliminares do comunicado vistos pela Bloomberg News mostram que a União Europeia, os EUA e o Japão expressaram reservas sobre uma proposta do Reino Unido para estabelecer um prazo de 2030 para a eliminação progressiva da geração doméstica de energia a carvão.

Curtas

Cientista brasileira na presidência do IPCC

O Brasil apresentou, na segunda (10/4), a candidatura da cientista Thelma Krug à presidência do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), para mandato de 2023 a 2028.

As eleições ocorrerão na 59ª Sessão Plenária do IPCC, em Nairóbi, Quênia, de 24 a 28 de julho de 2023. Caso a eleição de Krug se confirme, será a primeira mulher e representante da América Latina a presidir o IPCC. Folha

Financiamento verde na Índia

O Reserve Bank of India está estabelecendo uma estrutura para a aceitação de depósitos verdes para desenvolver um ecossistema financeiro ecológico no país, que entrará em vigor a partir de 1º de junho.

O setor financeiro pode desempenhar um papel fundamental na mobilização de recursos e sua alocação para atividades e projetos verdes ou ecologicamente responsáveis, disse o regulador bancário. Reuters

SAF nos EUA

Aliança formada por Bank of America, Boston Consulting Group, Boeing, Deloitte, JPMorgan Chase, McKinsey, Microsoft, Netflix e Salesforce anunciou na semana passada a compra coletiva de certificados para mais de 2,5 mil toneladas de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês).

O SAF será produzido pelo produtor de combustível de baixo carbono World Energy para a JetBlue, uma transportadora de baixo custo dos EUA. A estimativa é que será possível reduzir as emissões de CO2 em 8.500 toneladas, ou 84% em comparação com o combustível de aviação convencional com base no ciclo de vida. Argus