BRASÍLIA – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta quarta (29/8) que a reinjeção de gás natural nos campos operados pela companhia passará por uma “correção de rumo” sob a sua gestão, mas que há limites para tanto.
Ela pontuou que o aumento do aproveitamento do gás será feito nas novas plataformas e que não será possível mudar projetos de plataformas já entregues ou contratadas.
“Nós não podemos fazer isso onde não há mais viabilidade técnica. Mas uma coisa que eu gostei demais do decreto foi endereçar alguma coisa que é cara para todos os países do mundo: nós não podemos ter um projeto de petróleo com gás associado em alto mar que não enderece a possibilidade de exportação de gás para a costa”, disse a executiva, após reunião de empresários do G20, ao responder perguntas de jornalistas sobre o novo decreto regulamentador da Lei do Gás.
O decreto reforça o papel da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) no controle da reinjeção e permite que o regulador reveja planos de desenvolvimento para reduzir os volumes injetados “ao mínimo necessário”.
A percepção de risco de mudar o que foi aprovado (e levou às decisões de investimento) é uma das principais queixas das petroleiras. O próprio decreto, no entanto, prevê que seja observada a viabilidade técnico-econômica da reavaliação da reinjeção.
Na segunda (26/8), o secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes, afirmou que a redução dos índices de reinjeção de gás natural não se dará ao custo de uma “destruição de valor” dos projetos e da própria arrecadação da União.
Petrobras avalia mais gás em Búzios
Como mostrou a agência eixos, a companhia participou das discussões que levaram à edição do decreto pelo governo que alterou a regulamentação da Lei do Gás.
A Petrobras avalia internamente ampliar a capacidade de exportação de gás natural em Búzios, com a entrada de uma 12ª plataforma. O campo de Búzios, no pré-sal, foi concebido para ter 12 FPSOs; atualmente, 11 estão em operação ou contratados.
As plataformas mais recentes de Búzios têm sido contratadas com foco na reinjeção de gás para maximização da produção de petróleo. Nos últimos anos, houve uma mudança no perfil de reinjeção nos campos do pré-sal.
Os FPSOs mais recentes passaram a ser planejados com capacidades cada vez maiores de produção de petróleo.
Ao menos quatro das plataformas mais recentes, contratadas pela Petrobras, preveem a reinjeção total do gás e uma produção de 225 mil barris/dia – ante os patamares usuais, até então, de 180 mil barris/dia.
A expectativa, dada as características geológicas das reservas, no entanto, é que o ativo produza cada vez mais gás. A Petrobras já avalia há alguns anos tecnologias para lidar com o aumento da relação gás-óleo (RGO) a partir da próxima década no campo.
Segundo a CEO da companhia, Búzios caminha para ser o maior campo do Brasil. “Nós estamos chegando a 800 mil barris por dia e vamos ultrapassar a marca de 1 milhão [de barris/dia]. E não está proibido pensar que o campo de Búzios, no futuro, pode chegar a 1,5 milhão [de barris/dia]”, prevê.
Rota 3 ajudará a reduzir reinjeção
Magda Chambriard afirmou que a inauguração do Gasoduto Rota 3, em setembro, vai possibilitar uma redução imediata da reinjeção – e, por consequência, aumentar a oferta de gás natural ao mercado brasileiro.
Ela reiterou que a companhia mira os setores de fertilizantes e petroquímica como parte da estratégia de ampliação do mercado de gás.
Nas contas da CEO da Petrobras, a autossuficiência brasileira no consumo de fertilizantes nitrogenados demandaria um volume de gás natural da ordem de 30 milhões de m³/dia.
“O que nós não temos hoje para disponibilizar. Então, quando a gente olha o mercado brasileiro, é um mercado enorme, imenso, vamos dizer assim, ávido por combustível”, disse a executiva, ao responder se vê a PPSA, agora autorizada a vender gás da União diretamente ao mercado, como uma concorrente.
O volume reinjetado representa cerca de metade da produção de gás natural no Brasil. De acordo com a ANP, no primeiro semestre, a reinjeção totalizou 60 milhões de m3/dia – descontado do cálculo o CO2 injetado por questões técnicas.