Mercado de armazenamento de energia vai deslanchar, mas tributação é empecilho no Brasil, diz diretor da BYD

Sistema de armazenamento de energia da BYD
Sistema de armazenamento de energia da BYD

A indústria de armazenamento de energia fechou 2020 com 9,4 GWh (gigawatts-hora de potência) de sistemas instalados no mundo. Para 2021, a projeção é alcançar 14,4 GWh, um crescimento de mais de 50% no ano. Entre 2023 e 2025, o crescimento projetado é de 125% ao ano.

As estimativas da consultoria Wood Mackenzie animam fabricantes globais de equipamentos para o mercado de energia como a BYD, que inaugurou uma fábrica em Manaus em 2020 para produção de baterias de lítio para veículos.

A empresa também tem como meta começar a fabricar, ainda este ano, os primeiros sistemas de armazenamento de energia, diz Adalberto Maluf, diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios da BYD, em entrevista à epbr.

Para o mercado deslanchar no Brasil, contudo, é preciso mudar a tributação, diz o executivo.

“O Brasil ainda engatinha em relação ao uso do armazenamento em comparação com o resto do mundo, basicamente por conta da nossa estrutura tributária. O sistema de armazenamento paga mais de 80% de impostos, o que dificulta muito o uso da tecnologia, mesmo com a queda do preço da bateria”, explica.

Adalberto Maluf vê no país um “potencial enorme” para os sistemas de armazenamento, por sua rede integrada e a matriz energética predominantemente renovável, com crescimento da geração eólica e solar.

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Além disso, cita que a tecnologia chegou a um ponto de maturação tecnológica que permite diferentes aplicações.

“Primeiramente, a gente tinha baterias mais para regulagem de frequência, de voltagem, backups, uso em horários de pico. Mas o que  vem crescendo muito no mundo, além da regulagem de frequência e da estabilização da rede, é o uso com renováveis”, relata.

Em novembro, a BYD lançou um projeto com a Canadian Solar para instalação de um sistema de armazenamento de 300 MWh em uma usina solar de 100 MW em Kings County, Califórnia.

O uso da bateria faz com que a usina tenha uma capacidade de produção muito maior, porque ela armazena o excedente e depois, quando não há mais sol, consegue expandir o fornecimento de energia.

No caso do projeto da Califórnia, a autonomia é de quatro horas.

“Isso mostra, do ponto de vista técnico, que a tecnologia se consolidou e cresceu muito. A gente não está mais falando de um ou dois projetos pequenos, pesquisa e desenvolvimento, como no caso do Brasil”, comenta.

Segundo o diretor da BYD, o Brasil tem hoje em torno de 6 MWh de bateria de lítio instalada, principalmente em sistemas off grid e sistemas isolados, onde não há muita opção.

Já os grandes containers estão alocados em projetos de pesquisa e desenvolvimento.

O primeiro sistema de armazenamento de energia em larga escala do país em uma usina fotovoltaica está instalado em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Cemig e a Alsol Energia Renováveis, com baterias BYD, tem potência máxima de 1,26 MVA e capacidade de armazenamento de 1,36 MWh.

Tributação e regulamentação

A redução de 90% do custo das baterias nos últimos anos não representou um ganho de escala relevante no Brasil, tanto pela desvalorização do real frente ao dólar, quanto pela questão tributária.

Para Adalberto, a ausência de uma política industrial e de um plano de uso de renováveis com armazenamento, e essa situação tributária deixam a tecnologia quase restrita a projetos pilotos, pesquisa e desenvolvimento.

“Na ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), a gente fez uma sugestão no projeto de revisão do código elétrico brasileiro do deputado Lafayette, porque tem um artigo que proíbe a inserção da energia do veículo para a rede”, cita.

A expectativa do relator do PL 5829/19, Lafayette Andrada (Republicanos/MG), é que o projeto que cria um novo marco regulatório para a geração distribuída esteja pronto para entrar na pauta da Câmara já em fevereiro.

“É um exemplo de medida que precisa ser atualizada para poder incorporar todas as inovações em andamento no setor elétrico, como o uso do armazenamento residencial, behind the meter, com baterias ou veículos elétricos”, conta.

Outra questão é a falta de regulamentação do Inmetro em relação aos inversores híbridos, que permitem o uso de sistemas de armazenamento em larga escala e eventual inserção de energia na rede.

“Algumas regulamentações da Aneel precisam ser mudadas. Por exemplo, no Brasil, se eu tiver um sistema solar e uma bateria e faltar energia da rede, o sistema é desligado. Isso não precisaria acontecer. A gente tem que criar regulamentações que permitam e incentivem cada vez mais o consumidor a ser autossustentável do ponto de vista energético”, argumenta.

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