RIO – O BNDES vai realizar estudos sobre a exploração de petróleo e gás na Margem Equatorial, disse o presidente do banco Aloizio Mercadante nesta sexta-feira (2/6) a jornalistas.
“Queremos entrar nesse debate, porque o BNDES foi historicamente um grande centro de formulação de políticas públicas e vai voltar a ser”, disse.
O tema vai ser debatido no âmbito do grupo de trabalho do banco a Petrobras a respeito da transição energética da petroleira. Segundo Mercadante, a ideia é que a o banco haja como “ponte”, dado que está em diálogo com a petroleira e com o Ministério do Meio Ambiente, como gestor do Fundo Amazônia.
“Muita gente discutia que não se tinha que produzir o pré-sal, hoje isso está superado(…). O BNDES vai estudar com cuidado, sempre olhando a perspectiva histórica como referência”, disse em entrevista coletiva no Rio, junto ao governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Mercadante não detalhou como vai ocorrer a participação do banco no tema. “A resposta vai vir devagar, porque o BNDES é sólido, consistente e vai se manifestar num momento oportuno”, acrescentou.
O presidente do BNDES defendeu que é necessário aguardar os estudos do Ibama sobre o assunto e que o debate “tem que ser feito de forma sustentável”.
Ele citou que a Guiana viu um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 4,3 bilhões em 2015 para R$ 7,7 bilhões em 2021 com o desenvolvimento das reservas na região.
“O petróleo continuará a ser uma matriz presente nas próximas décadas. Falei aqui do gigantes esforço que temos que fazer para ter ônibus elétrico. Não temos ainda combustível de aviação, inclusive o BNDES está entrando nessa área. Mas há um período histórico ainda em que o petróleo vai ser importante”, afirmou.
Questionado sobre a negativa do Ibama para o pedido de licenciamento da Petrobras para perfurar na Margem [Equatorial], o governador do Pará defendeu que a transição não pode ser excludente e que o desenvolvimento sustentável precisa conjugar os âmbitos econômico e social.
“Nesse momento, que não se discuta ser favorável ou não, mas discutir, através de pesquisa, se tem viabilidade econômica ou ambiental. A partir daí, o estado brasileiro terá que decidir se vai avançar ou não nessa matriz”, disse.
O que aconteceu na Foz do Amazonas?
Em maio, o Ibama negou o pedido de licença da Petrobras para perfurar um poço no FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas, em águas profundas no Amapá. Seria a primeira etapa de uma campanha com diversos poços de exploração para, futuramente, produzir petróleo nessa nova fronteira.
O Ibama entendeu que é preciso realizar a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) da Foz do Amazonas. É um estudo que precisa ser contratado pelo governo federal, não pela Petrobras. O órgão ambiental também listou outras lacunas no plano apresentado pela Petrobras.
A AAAS é uma responsabilidade conjunta do Meio Ambiente (MMA) e de Minas e Energia (MME). O MME, contudo, discorda do entendimento do Ibama e do MMA. Para a pasta, a AAAS é um instrumento restrito à decisão de licitar ou não blocos em uma determinada região. Na Foz do Amazonas, o leilão já ocorreu, em 2013.
Em 25 de maio, a Petrobras apresentou um pedido de reconsideração da decisão do Ibama. Quatro dias depois, iniciou o trabalho para desmobilizar a sonda de perfuração que seria utilizada na campanha no Amapá. A companhia, no entanto, mantém o interesse em obter a licença e explorar a região.
R$ 5 bilhões para COP30 em Belém
O BNDES vai destinar R$ 5 bilhões para viabilizar a realização da COP30 em Belém, anunciaram Mercadante e Barbalho. A escolha da cidade paraense para sediar a conferência em 2025 foi anunciada na semana passada.
O valor vai ser destinado a projetos de infraestrutura, além de iniciativas de bioeconomia e de transição energética, como a substituição da frota urbana de ônibus da capital paraense.
“Estamos muito motivados a transformar Belém no primeiro case de transporte público 100% a partir de energias renováveis, seja a partir de gás ou elétrico”, disse o governador.
O presidente do BNDES disse que o banco quer impulsionar a eletromobilidade. “Ônibus é muita manufatura, gera muito emprego”, afirmou.
“Se nós não migrarmos para o ônibus elétrico, vamos perder presença na região”, acrescentou.
Nesse contexto, Mercadante lembrou que o Brasil precisa aproveitar o momento de transição energética para se reindustrializar.
“O esforço do BNDES não é que a gente simplesmente compre ônibus elétricos, a gente tem que trazer investimentos ou reformar as fábricas que nós temos”, disse.
Ele lembrou que 52% dos ônibus que rodam atualmente na América Latina foram produzidos no Brasil, mas que nos últimos anos países como o Chile têm buscado alternativas para a mobilidade urbana na China.