Empresas

LUZ quer captar 15% dos novos clientes no mercado livre com venda digital de energia

Em entrevista, Rafael Maia, CEO da LUZ, fala sobre os investimentos em tecnologia para atrair consumidores

LUZ quer captar 15% dos novos clientes no mercado livre com digitalização da venda de energia. Na imagem: Rafael Maia, CEO da LUZ. Homem branco, cabelos castanhos e curtos, de camisa de gola cinza, sorri para a câmera; ao fundo, painel nas cores cinza e roxo, com a palavra "LUZ" iluminada em laranja (Foto: Divulgação)
Rafael Maia, CEO da LUZ (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA – Com três fazendas solares em operação no Brasil e outras 47 em construção ou negociação, a LUZ espera chegar ao final de 2024 com uma capacidade de 200 a 250 megawatts e captar uma fatia dos consumidores previstos para migrar do mercado regulado de energia para o ambiente de contratação livre.

As operações da empresa começaram em outubro de 2022, com fornecimento de energia solar por geração distribuída (GD) compartilhada na área da CPFL Paulista. Hoje atende clientes de Brasília, Mato Grosso do Sul e São Paulo também pelas redes de distribuição da Neoenergia Brasília e Elektro, alcançando 463 cidades brasileiras.

“A GD compartilhada foi o nosso piloto para o lançamento de alta tensão. Pensando na abertura do mercado, nos perguntamos: como experimentar um sistema que possa atender 72 mil consumidores?”, conta Rafael Maia, CEO da LUZ, em entrevista à agência epbr.

O mercado livre está aberto atualmente para consumidores com demanda acima de 500 kW. A partir de janeiro de 2024, será liberado para todos os consumidores do grupo A, independentemente da demanda.

Os novos entrantes poderão fechar contratos com comercializadoras varejistas.

Mapeamento da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) indica que cerca de 72 mil novas unidades consumidoras classificadas como alta tensão têm potencial de entrada no mercado livre. São negócios como fábricas, escritórios, açougues, padarias, entre outros estabelecimentos industriais e comerciais.

“Nosso objetivo é ter 15% desse mercado daqui a um ano”, diz Maia. “Nossa estratégia inicial foi aproveitar a GD para montar sistema. E hoje estamos 100% prontos para o mercado de alta tensão”, completa.

Em maio, a LUZ lançou oficialmente a possibilidade de o consumidor de alta tensão contratar o fornecimento online. A aposta é que o modelo digital, ao desburocratizar o processo de migração, é mais um fator positivo na captação de clientes.

“A gente entende que a maneira de crescer e oferecer uma solução para o consumidor de alta tensão é ter um sistema que seja fácil para ele contratar”, defende.

O sistema da LUZ permite a contratação em quatro telas. O cliente coloca suas informações e fotografa a conta de eletricidade. O sistema faz a leitura e define o perfil de consumo. Com base nisso, apresenta uma proposta de desconto.

“Ele então consegue contratar na quarta tela e nós fazemos todo o processo burocrático da transição. Essa fase burocrática leva, no mínimo, cerca de seis meses, por uma questão de processos”.

Investimento em tecnologia

A LUZ é uma empresa do grupo Delta Energia, que está há 21 anos no mercado de comercialização de energia.

Nos últimos cinco anos, o grupo passou a estudar a entrada no varejo, de olho na abertura total do mercado livre de energia. Além da construção e arrendamento de parques solares para fornecer eletricidade renovável, a Delta está investindo no tripé tecnologia, marketing e recursos humanos.

“Tem que ter muito investimento para poder se preparar para o varejo”, comenta Luiz Fernando Leone Vianna, vice-presidente Institucional e Regulatório da Delta.

A companhia adquiriu uma empresa de tecnologia para desenvolver software e hardware para a LUZ poder atender os diferentes perfis de clientes que virão com a abertura do mercado no ano que vem.

Hoje, o perfil de consumidor no mercado livre são grandes empresas, com contas de energia na faixa de R$ 50 mil. A partir do ano que vem, com a portaria 50/2022, consumidores que gastam até R$ 10 mil também poderão migrar.

Caso avance a abertura do mercado livre, discutida no PL 414/2021, para todos os consumidores, a carteira de clientes poderá atender também a baixa tensão, um tipo diferente de público.

E mesmo considerando apenas a alta tensão, os os perfis de clientes variam.

É aí que entra a estratégia que combina tecnologia e marketing para atrair os novos entrantes no mercado livre.

“Uma empresa que gasta R$ 50 mil com energia elétrica geralmente tem um funcionário que olha para eficiência energética, sabe como o mercado funciona. Mas quando você fala de um dono de comércio menor, que tem uma câmara fria, por exemplo, e gasta R$ 10 mil por mês, ele nem sempre tem esse conhecimento técnico”, explica o CEO da LUZ.

Inteligência artificial para consumo inteligente

Outra vantagem é a possibilidade de acompanhar o consumo e saber quais equipamentos estão pesando na fatura de energia elétrica.

Além de oferecer a GD, a LUZ instala um medidor na residência do cliente que mostra o consumo de eletricidade em tempo real.

“A gente acredita que não só o consumidor ele pode economizar pagando o kWh contratado, mas também usando a conta de energia elétrica de maneira inteligente”, diz Maia.

Aplicativo permite acompanhar o consumo de energia (Foto: Divulgação LUZ)
Aplicativo permite acompanhar o consumo de energia (Foto: Divulgação LUZ)

O medidor usa a inteligência artificial desenvolvida pela própria empresa, que mostra o consumo nos diferentes cômodos da casa, por hora.

“Ele agrega e mostra pro consumidor os grupos de aparelho que estão gastando mais ou menos, quanto que ele está gastando no freezer e na geladeira, quanto que ele gasta em outras coisas de cozinha, de lavanderia”.

Segundo Maia, com a IA lançada em março, há casos de consumidores que já conseguiram economizar 30% só usando a energia elétrica de maneira mais consciente.

“Em 2030, o mundo vai precisar produzir duas vezes mais energia de fonte renovável. É uma forma de pensar em como oferecer ao consumidor uma maneira de controlar seus gastos e entender que ele, não só está consumindo energia de maneira não inteligente, mas também jogando dinheiro fora”.