Diálogos da Transição

Leilão contrata óleo e diesel para suprir capacidade de energia

Usinas a gás representaram 90% da potência ofertada no leilão de reserva. Na foto, usina termelétrica Euzébio Souza, em Cubatão (SP)
Usinas a gás representaram 90% da potência ofertada no leilão. Na foto, usina termelétrica Euzébio Souza, em Cubatão (SP)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 21/12/21

Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Realizado nesta terça (21), o primeiro leilão de reserva de capacidade de energia do país contratou 5,1 GW de potência, com predominância de térmicas a gás natural e combustível fóssil.

A concorrência, aberta apenas a termelétricas, teve 17 usinas vencedoras para fornecimento de energia, sendo nove delas a gás natural.

Óleo combustível teve cinco vencedoras, diesel duas e biomassa apenas uma.

O início do suprimento dessa energia está previsto para 2026 e 2027, com contratos de 15 anos de duração.

O leilão foi desenhado para prevenir a necessidade de contratação de eletricidade em caráter excepcional, a valores elevados, como aconteceu este ano durante a crise hídrica. Mas, ao priorizar as térmicas, deixa a transição para fontes limpas para mais tarde.

Uma análise prévia publicada na véspera pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)  já alertava para o peso do gás natural na concorrência e os impactos desta fonte de geração.

“Em relação ao consumo de água, por exemplo, estima-se que uma usina a gás natural, de ciclo combinado com resfriamento úmido demande cerca de 1000 litros de água por MWh”, diz o instituto.

Embora seja menos poluente que outras opções, como carvão, óleo combustível e diesel, o gás natural também emite gases de efeito estufa (GEE) e poluentes atmosféricos, como material particulado (MP), monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e óxidos de enxofre (SOx).

“A crise hídrica e as lacunas no planejamento do setor deixaram clara a necessidade de potência para garantir a oferta de eletricidade em momentos de grande demanda. Assim, a iniciativa de organizar um novo modelo de leilão é bem-vinda, mas deveria abrir o espaço a todas as fontes capazes de contribuir a esse requisito”, ressalta Ricardo Baitelo, coordenador de projetos do IEMA.

Para o IEMA, o ideal seria um modelo que ampliasse a integração das fontes renováveis.

“Essa configuração pode ampliar a resiliência do sistema à variabilidade dos recursos naturais e aos eventuais impactos das mudanças climáticas sobre a sua disponibilidade”, diz a análise. Veja na íntegra (.pdf)

Vencedores do leilão de reserva

Biomassa

A única usina de energia renovável vencedora do certame é o empreendimento Cidade do Livro (da UTLP), que investirá R$ 502 milhões em uma usina de bagaço de cana em Barra Bonita (SP) e potência de 80 MW.

O preço médio ficou em R$ 877,3 mil/MW.ano

Gás Natural

Juntas, as térmicas a gás natural contratadas somam 4,1 GW do total de 5,1 GW do leilão.

O maior investimento foi de Portocem, com R$ 4,2 bilhões previstos para uma nova usina de gás natural, no Porto do Pecém, no Ceará. A potência contratada é de 1.571,888 MW.

Azulão (AM), Delta Geração (MS), LGSA (ES), Parnaíba II (MA), Petrobras (MG e RJ), Termopernambuco (PE) e Trombudo (SC) também tiveram empreendimentos vencedores.

A energia mais barata virá de Termopernambuco, no Porto de Suape (PE). A usina negociou 550 MW ao preço médio de R$ 487.4 mil/MW.ano

Óleo combustível

As usinas a óleo combustível somam quase 780 MW de potência, com dois empreendimentos no Norte (Maranhão), dois no Nordeste (Bahia) e um no Sudeste (Espírito Santo).

As duas usinas no Maranhão são da Geramar, com potência de 165,87 MW cada.

Na Bahia, ambas são da Global Participações, com 136,4 MW de potência cada.

A energia de todas as cinco usinas ficou acima do preço médio do leilão de R$ 824,5 mil/MW.ano.

Óleo diesel

Mais poluente que a geração de energia a gás natural, as térmicas a diesel tiveram quase 100 MW de potência contratada.

As usinas Potiguar e Potiguar III, no Rio Grande do Norte, negociaram 48,140 MW e 51,460 MW respectivamente, ao preço médio de R$ 873,7 mil/MW.ano.

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Biometano no RS… A Sulgás e a SebigasCótica firmaram nesta segunda (20) o primeiro contrato de suprimento de biometano do Rio Grande do Sul, com vigência prevista para dez anos a contar do início do fornecimento.

Uma central de tratamento integrado de resíduos (CTIR) em grande escala instalada na cidade de Triunfo vai receber resíduos da agroindústria para transformação em biocombustível.

O volume inicial para os cinco primeiros anos do contrato de suprimento com a Sulgás é de 15 mil m³/dia, a contar de 2024, ano previsto para o início da entrega, com possibilidade de ampliação da capacidade para 30 mil m³/dia a partir do sexto ano.

Serão investidos R$ 150 milhões pela SebigasCótica e mais R$ 9 milhões em obras e equipamentos para a interligação da usina com a rede canalizada de distribuição de gás, pela Sulgás.

…E hidrogênio pelo mundo. A Comissão Europeia aprovou nesta segunda (20) a liberação de € 900 milhões para financiar projetos de produção de hidrogênio verde (H2V) em países fora da União Europeia (UE).

Os recursos fazem parte da estratégia da Alemanha para o hidrogênio, que prevê um total de investimentos de € 2 bi em parcerias internacionais com países onde o H2V pode ser produzido com menor custo, a exemplo do Brasil. No total, o pacote alemão vai destinar € 9 bi para o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde.

A estratégia é um caminho para a UE reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, substituindo os combustíveis fósseis por hidrogênio limpo, no transporte, energia e indústria.

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