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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 28/09/21
Editada por Nayara Machado
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“Ainda estamos distantes de uma integração maior entre os setores de energia e gás. O mais importante é entender o senso de urgência: se demorarmos muito tempo para equacionar essas questões, pode ser que tenhamos que pular do gás natural direto para o hidrogênio”, avalia Claudia Brun, conselheira sênior de Novas Cadeias de Valor da Equinor.
Se, por um lado, o gás natural pode desempenhar um papel importante na confiabilidade do sistema elétrico, complementando a intermitência das fontes renováveis e levando energia para os sistemas isolados…
Por outro, incertezas sobre oferta e demanda, necessidade de desenvolver infraestrutura sem onerar o consumidor de energia, e um contexto global de emergência climática reduzem a janela temporal para novos investimentos em infraestrutura para o gás.
Esse foi o tom do debate que abriu a série Diálogos da Transição nesta terça (29).
Um dos gargalos é desenvolver infraestrutura e entregar o combustível a um preço que faça sentido para o consumidor.
Será preciso inovar em modelos de negócios capazes de remunerar o investidor sem que isso represente um alto custo para o consumidor de energia, diz Lavínia Hollanda, diretora executiva da Escopo Energia .
“Modelos de negócios que talvez não sejam tão intensivos em infraestrutura”, completa.
E cita o exemplo da Eneva, que vai transportar por carretas o gás produzido no campo de Azulão, na Bacia do Amazonas, até Boa Vista, capital de Roraima, para geração de energia na termelétrica (UTE) Jaguatirica II.
Oferta e demanda são duas incertezas
Internacionalmente, o gás vem sendo considerado o combustível da transição, pela maior facilidade e agilidade em converter processos industriais baseados em carvão e óleo combustível.
Diferente do Brasil, onde a falta de perspectiva de crescimento da indústria nos próximos anos coloca em dúvida a capacidade de absorção desse combustível pelo segmento.
“Podemos tentar pensar o setor elétrico como um potencial motor para esse desenvolvimento, porque de fato as térmicas têm e vão ter um papel muito importante para o setor elétrico e essa crise hídrica mostrou um pouco isso. A questão é que o setor elétrico tem sua maneira muito particular de funcionar e tem muito a resolver por si só”, explica Hollanda.
“A energia do futuro vai ser uma energia muito mais cara”, afirma Ieda Gomes, consultora independente.
Na visão da especialista, a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias com menor intensidade de carbono deixa uma brecha para o gás natural desempenhar o seu papel no suprimento de energia.
Tanto aqui, quanto no mercado europeu, que têm metas de emissões líquidas zero até 2050, com metas intermediárias até 2030, o gás natural tem sido um complemento da energia renovável.
“O gás continua sendo importante na transição energética, continua sendo complemento que vai ser utilizado, até porque existe disponibilidade, existem terminais ociosos que podem ser reativados”.
Mas, para o Brasil, fazer uma transição sem precisar depender de combustíveis fósseis, o governo vai precisar trabalhar no aumento da oferta para ter capacidade extra “muito maior” do que a demanda, destaca Gomes.
“Hoje, os leilões têm sido feitos muito em função da demanda. Se quer entrar realmente em um processo de descarbonização e depender menos de térmicas, precisa aumentar muito a capacidade de energia renovável e salvar água”.
Outro ponto é considerar as mudanças climáticas no planejamento energético.
Com secas prolongadas e eventos climáticos extremos sendo cada vez mais comuns, a consultora defende o uso de térmicas a gás para complementar a oferta de energia em momentos de crise como a atual.
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Preço do carbono
Para a Equinor, alcançar as metas do Acordo de Paris exige incentivos para que as empresas possam ir além das energias renováveis e investir em novas tecnologias.
Vai em linha com o que diz a Agência Internacional de Energia (IEA), cujos relatórios indicam que, para o mundo alcançar a neutralidade de carbono até 2050, metade da redução das emissões depende de tecnologias que ainda não estão disponíveis no mercado.
“A viabilidade de projetos de captura e armazenamento de carbono ainda depende muito de incentivos governamentais para a adequada precificação de emissões de carbono”, exemplifica Brun.
Ela acredita que a regulamentação do mercado de carbono no Brasil será fundamental para viabilizar novas tecnologias no setor de óleo e gás.
“No Brasil, a descarbonização deve acontecer principalmente pelo lado da demanda. Mas, para que a gente consiga atingir essas metas, o governo precisa desenvolver mecanismos de incentivos. Aí sim, poderíamos desenvolver soluções de mercado para que as empresas possam fornecer soluções energéticas mais neutras em carbono”.
Brun indica algumas sinalizações do Brasil que podem ajudar o setor neste sentido, como a recente adesão da Petrobras à meta de carbono neutro da OGCI (Iniciativa Climática para Óleo e Gás, na sigla em inglês), que poderia contribuir para a escalada global nos mercados de carbono.
Assim como o programa Floresta+ do governo federal, e iniciativas como o Programa Nacional de Hidrogênio e a possibilidade de o Brasil monetizar a reinjeção de CO2 nos reservatórios — uma expertise tecnológica desenvolvida por causa do pré-sal.
Curtas
Mercado regulado. Parlamentares devem seguir pressionando o governo e a presidência da Câmara para conseguir votar o projeto que regula o mercado de carbono antes da realização da COP26, marcada para novembro…
…O vice-presidente da Câmara e autor do texto principal (PL 528/21), Marcelo Ramos (PL/AM), avalia que há chances de a matéria ter uma tramitação mais acelerada e seguir direto para o plenário. Estratégia ESG
… Na sexta (1º), a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados promove audiência pública para discutir o PL de Ramos.
Risco climático. A maior seca dos últimos 91 anos é a principal ameaça à próxima safra de grãos do país. O plantio no Centro-Sul de culturas como a soja começa neste mês, mas, por conta da falta de chuvas, enfrenta dificuldades em vários locais…
…O risco climático já entrou no radar de economistas como um fator que pode pressionar os preços da comida e elevar os índices de inflação no ano que vem. Broadcast
Pactos de Energia. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está costurando parceria com a Eletrobras para estudar a substituição do óleo diesel por fontes renováveis na geração elétrica na Amazônia. Acordo de cooperação faz parte dos “Pactos de Energia”, um compromisso público assumido por empresas na ONU. Valor
Geração distribuída. Bradesco e Enel X firmaram contrato para construção de nove usinas fotovoltaicas nos estados do Rio de Janeiro, Ceará e Goiás. Com capacidade instalada total de 11 MWpm, as plantas serão responsáveis por gerar energia limpa para mais de 300 agências do Bradesco nos três estados.
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