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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Publicada no início de fevereiro, a segunda edição do Scorecard de Política de Aço da E3G mostra que o mundo fez alguns progressos políticos para tornar a transição da siderurgia viável, mas será necessária uma ambição muito maior para alinhar o setor à meta global de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C até o fim do século.
A indústria de aço responde por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa – mais do que a aviação civil e o transporte marítimo juntos – e está entre as mais difíceis de descarbonizar, pela dependência de combustíveis fósseis no seu processo produtivo.
O relatório (.pdf em inglês) do think tank sobre mudanças climáticas cobra mais ação dos países ricos que compõem o G7, alertando que a janela para viabilizar a siderurgia do futuro é estreita.
“Enquanto a economia real está se afastando da produção intensiva em carbono, o progresso político está ficando para trás. Os países industrializados e os principais produtores de aço precisam fazer esforços coordenados em 2024 para reverter essa situação. Fabricantes de aço, comunidades e metas climáticas dependem disso”, dizem os analistas.
Globalmente, a capacidade de produção de aço de alta emissão em andamento é sete vezes maior do que a de aço de emissão quase zero, o que demonstra a urgência de mudar o rumo dos investimentos.
O grupo recomenda ao G7 adoção de medidas políticas coerentes para apoiar a transição do aço, o que pode garantir competitividade a longo prazo – além de empregos ao longo da cadeia de valor industrial.
Entre elas, escalonar o investimento em infraestrutura de energia limpa, melhorar os prazos de entrega para implantação e buscar parcerias entre países para iniciar o comércio de ferro verde.
Aponta também que o bloco formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – além da União Europeia –, tem um papel crítico na mudança de investimentos no exterior.
Papel do Brasil
Embora não faça parte do G7, o país também aparece no relatório como um importante player nessa virada de chave da siderurgia.
“As presidências do G7 e do G20 em 2024 estão com a Itália e o Brasil, respectivamente. Ambos os países podem demonstrar liderança em aspectos da transição do aço e usar suas plataformas para convocar outros países para essa agenda”, defende.
Segundo a análise, a Itália é pioneira na reciclagem de aço e possui apenas um local de produção de aço intensivo em carbono remanescente, enquanto o Brasil, com abundantes recursos de energia renovável e minério de ferro, tem os elementos para se tornar “um gigante do aço verde”.
Para isso, o país deveria facilitar a criação de clubes de compras internacionais e o estabelecimento de acordos comerciais internacionais, aproveitando sua presidência do G20 em 2024, diz o E3G.
Outras recomendações para o país incluem a definição de um roadmap com metas ambiciosas de redução de emissões do setor de aço para 2030 e 2050, utilizando a política de reindustrialização verde, o PAC e o Plano de Transformação Ecológica para atingir o objetivo, e a implementação de um mercado regulado de carbono.
Cobrimos por aqui:
- Brasil pode atrair siderúrgicas em busca de hidrogênio para aço verde
- Emergentes devem priorizar mercado doméstico em políticas para hidrogênio
- Financiamento de energia de baixo carbono foi 73% do fóssil em 2022
- Industrialização verde atrai atenção do setor elétrico
Minerais para a indústria
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou nesta quarta (21/2) que projetos relacionados à produção de minerais críticos para a transição energética poderão emitir debêntures incentivadas. E prometeu para este ano o lançamento de um programa para minerais estratégicos.
Os anúncios foram feitos durante abertura do seminário sobre minerais estratégicos para a transição energética que vai reunir agentes do setor até quinta (22).
Segundo Silveira, as debêntures já tem o aval do Ministério da Fazenda.
No caso do programa para minerais estratégicos em elaboração pela pasta, a intenção é impulsionar a produção brasileira de matérias-primas críticas, ao mesmo tempo em que estabelece uma cadeia de valor para industrializar o país.
“Não vamos apenas extrair esses recursos, mas desenvolver a indústria da transformação mineral no Brasil”, pontuou Silveira.
Ele citou o caso do crescimento da energia solar no Brasil, em que o país perdeu a janela de oportunidade de produzir os componentes desta indústria nacionalmente, fazendo com que hoje cerca de 97% desses equipamentos sejam importados.
“No setor elétrico perdemos uma grande oportunidade industrial (…) Não podemos perder essa janela na transformação mineral. Temos que criar mecanismos que nos tornem competitivos.”
Curtas
Solar fotovoltaica
O Brasil já instalou 2 GW de energia solar este ano, somando usinas de grande porte e sistemas de geração distribuída, mostra levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Com isso, a capacidade instalada de geração fotovoltaica chega a 39 GW, o equivalente a 17% de toda a capacidade do país.
Startups de transição
Petrobras e BNDES iniciaram estudos para estruturar um fundo de apoio a startups na área de transição energética, anunciou a estatal nesta quarta-feira (21/2). O fundo será na modalidade Corporate Venture Capital (CVC). Na fase inicial do estudo do CVC, as empresas vão identificar os setores mais promissores para este tipo de investimento, considerando temas relacionados à transição energética.
Capacidade para B20
Produtores de biodiesel afirmaram, nesta quarta (21), que estão prontos para atender uma mistura de até 20% no diesel fóssil. Em março, entra em vigor o mandato de 15% de biodiesel adicionado ao diesel comercializado no país.
Citando dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, as associações setoriais Abiove, Aprobio e Ubrabio apontam que com a atual capacidade autorizada de produzir 14,7 bilhões de litros e ociosidade do parque industrial de cerca de 49%, seria possível atender a uma demanda de 13,2 bilhões de litros de biodiesel, caso a mistura chegue a 20%.
Casa dos Ventos anuncia expansão
A companhia, que possui atualmente um portfólio com mais de 3 GW de energia renovável em operação e construção, pretende investir mais de R$ 12 bilhões em ativos até o fim de 2026. Na terça (20/2), o grupo lançou nova identidade visual para incorporar a marca da TotalEnergies, que entrou como acionista minoritária no ano passado.
Além dos investimentos no mercado de energia, a Casa dos Ventos mira o novo mercado de hidrogênio verde e derivados, incluindo fornecimento para o setor siderúrgico e de fertilizantes. No Complexo Industrial do Pecém, tem um pré-contrato para produção de hidrogênio e amônia verde.
Airbus e TotalEnergies formam parceria para SAF
A TotalEnergies fornecerá à fabricante de aeronaves combustível sustentável de aviação suficiente para cobrir mais da metade de suas necessidades na Europa. Além disso, as empresas vão trabalhar em um programa de pesquisa e inovação destinado a desenvolver combustíveis 100% sustentáveis.