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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Em 2023, a cada US$ 1 investido em combustíveis fósseis, outros US$ 1,70 vão para energia limpa, marcando um novo momento na economia global, estima novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
“O exemplo brilhante do crescimento do investimento em energia limpa é a energia solar, que em 2023 deve atrair mais capital do que a produção global de petróleo pela primeira vez. Isso reflete a mudança da maré na energia mundial”, comenta o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.
O estudo mostra que a indústria de petróleo e gás se beneficiou de um fluxo de caixa sem precedentes em 2022, mas a maior parte foi para dividendos, recompras de ações e pagamento de dívidas – em vez de investimentos em energia.
Para a IEA, a indústria pode fazer muito mais para ampliar as opções de energia limpa, como renováveis, combustíveis de baixa emissão, hidrogênio e captura de carbono.
“O investimento em tecnologias de energia limpa pela indústria de petróleo e gás é inferior a 5% do que ela gasta em exploração e produção”, observa Birol.
As renováveis (puxadas pela solar fotovoltaica) e os carros elétricos estão liderando o aumento esperado no investimento global em energia limpa este ano, porém de forma concentrada.
As exceções são os investimentos em energia solar na Índia, e em renováveis no Brasil e em partes do Oriente Médio.
Na Arábia Saudita, por exemplo, o maior projeto de hidrogênio verde do mundo captou esta semana US$ 8,4 bilhões em investimentos, de instituições financeiras locais e internacionais, para uma planta com capacidade de produzir 600 toneladas por dia do combustível a partir da eletrólise.
Ainda assim, mais de 90% do aumento nos últimos anos está nos países ricos e na China.
“Precisamos ver o crescimento aumentar ainda mais em outras áreas cruciais, como eficiência, redes e baterias. Uma grande preocupação é a desigualdade do crescimento no investimento em energia limpa”, defende o chefe da IEA.
“Mobilizar mais financiamento para economias emergentes e em desenvolvimento é fundamental para evitar novas linhas divisórias na energia global. Governos, indústria e investidores precisam promover mais progresso na ampliação do investimento”, completa.
Renováveis em expansão
De acordo com o levantamento, cerca de US$ 2,8 trilhões devem ser investidos globalmente em energia em 2023, dos quais mais de US$ 1,7 trilhão devem ser destinados a tecnologias limpas – incluindo renováveis, veículos elétricos, energia nuclear, redes, armazenamento, combustíveis de baixa emissão, melhorias de eficiência e bombas de calor.
O restante, pouco mais de US$ 1 trilhão, vai para carvão, gás e petróleo.
Lideradas pela energia solar, as tecnologias de eletricidade de baixa emissão deverão representar quase 90% do investimento em geração de energia.
Os consumidores também estão aderindo à eletrificação. As vendas de veículos elétricos devem aumentar em um terço este ano, depois de já terem crescido em 2022.
Entre os motivos para o aquecimento desse mercado, a agência lista períodos de forte crescimento econômico e preços voláteis de combustíveis fósseis que levantaram preocupações sobre a segurança energética, especialmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
O reforço do apoio político nos Estados Unidos, com a Lei de Redução da Inflação, o RePower na União Europeia e estratégias do Japão e China para reforçar a matriz energética com um olhar “mais verde” também entram no rol.
Investimentos fósseis
Os gastos com petróleo e gás devem voltar aos níveis de 2019 e aumentar cerca de 7% em 2023 em relação ao ano anterior.
As poucas petrolíferas que estão investindo mais do que antes da pandemia de Covid-19 são, na maioria, as majors nacionais do Oriente Médio.
“A recuperação esperada no investimento em combustíveis fósseis significa que eles devem aumentar em 2023 para mais que o dobro dos níveis necessários em 2030 no Cenário de Emissões Líquidas Zero até 2050 da IEA”, alerta o relatório.
A demanda global por carvão atingiu um recorde histórico em 2022, e o investimento previsto para 2023 está próximo de ser seis vezes maior que os níveis previstos para o final da década pela agência.
Cobrimos por aqui:
- Mercado de baterias cresce, desafios na cadeia de valor também
- Eólica e solar avançam em novas adições globais – carvão também
- Hidrogênio verde: siga os subsídios
No Brasil, Fundo Clima mira transição
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou na quarta (24/5) que a maior parte dos recursos do Fundo Clima será destinada à energia.
O fundo é um dos instrumentos da Política Nacional sobre Mudança do Clima e terá cerca de R$ 3 bilhões este ano, sendo 39% do montante voltado para as áreas de energias renováveis e 19% do valor para eficiência energética.
Marina defendeu que o país tem capacidade de ser “exportador de sustentabilidade”, especialmente diante da crise energética mundial.
E destacou que fontes como eólica, biomassa e solar são uma realidade no Brasil, mas precisam de incentivos para não perderem sua relevância na matriz.
Também alertou que o país não pode perder a oportunidade de explorar as energias de terceira geração, como o hidrogênio verde.
Curtas
Carros populares mais baratos. E eficientes
O governo federal anunciou nesta quinta-feira (25) a redução de IPI e PIS/Cofins para a indústria automotiva que podem variar entre 1,5% e 10,79%, a depender da eficiência energética, custo do veículo e grau de nacionalização.
O incentivo vale para veículos abaixo de R$ 120 mil e tenta diminuir o valor final de carros novos no Brasil, ao mesmo tempo em que tenta reverter o processo de desindustrialização do país. Com o critério de eficiência energética, a intenção é premiar “quem polui menos”.
Crédito de carbono em florestas públicas
O presidente Lula (PT) sancionou na quarta (24/5) a lei 14.590/23 que permite a exploração sustentável de atividades não madeireiras e o aproveitamento e comercialização de créditos de carbono em florestas públicas concedidas.
Permite a outorga de direitos sobre acesso ao patrimônio genético para fins de pesquisa, desenvolvimento e bioprospecção e sobre a exploração de recursos pesqueiros ou da fauna silvestre.
Reciclagem de portfólio
A Raízen está estudando oportunidades de desinvestimento e atração de parceiros estratégicos, a fim de alavancar seu balanço e potencializar o crescimento em suas diferentes unidades de negócio, disseram executivos da companhia nesta quarta-feira.
A companhia atua na produção de etanol, açúcar, energia renovável, além de ser uma das maiores distribuidoras de combustíveis no Brasil.
Em coletiva de imprensa, o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, indicou que a companhia pode buscar novos parceiros para a Raízen Power, marca recém-lançada para negócios no setor elétrico que já tem parceria com o Grupo Gera para geração de energia distribuída.