newsletter
Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Um grupo de investidores com mais de US$ 11 trilhões em ativos sob sua administração propôs, nesta quarta (29/3), limites aos gastos com combustíveis fósseis. A orientação da Net-Zero Asset Owner Alliance é que seus membros não façam novas alocações diretas em projetos de infraestrutura de petróleo e gás upstream.
“No investimento em ativos privados em novas infraestruturas inabaláveis de petróleo e gás, os investidores devem se alinhar com cenários críveis de 1,5°C. Isso não pode ser alcançado se houver novos aportes em infraestrutura upstream em novos campos de petróleo e gás”, diz a aliança em comunicado.
Os 85 membros da aliança convocada pela ONU foram os primeiros investidores institucionais a definir metas intermediárias para cumprir o cronograma do Acordo de Paris.
O grupo também pede aos consumidores e fornecedores de O&G que definam metas de emissão de gases de efeito estufa (GEE) nos escopos 1, 2 e 3 enquanto alinham suas atividades operacionais, incluindo gastos de capital, com caminhos compatíveis com 1,5°C.
Este é o limite de temperatura que cientistas defendem que deve ser perseguido até o final do século para evitar eventos climáticos cada vez mais frequentes e extremos, como secas prolongadas ou tempestades arrasadoras.
O documento é sugestivo. E deixa várias janelas abertas.
Os investidores que optarem por continuar a investir em novas infraestruturas de petróleo e gás, poderão fazê-lo em “circunstâncias excepcionais”, onde “alternativas acessíveis e confiáveis ainda não são viáveis” ou políticas de governo e especificidades regionais influenciam as decisões de portfólio.
Podem escolher “não financiar a produção de petróleo e gás com maior intensidade de carbono”, optar por “alocar intencionalmente” mais capital para as empresas “mais prontas para a transição” e são “incentivados a investir em projetos e tecnologias” para expansão da energia de baixo ou zero carbono.
“Em todos os casos, a aliança desaconselha fortemente o investimento em ativos de longa duração que provavelmente ficarão presos em uma transição alinhada a 1,5°C”, observa. Veja o posicionamento na íntegra (.pdf)
- Na epbr: Reservas de fósseis estouram sete vezes o orçamento de carbono Registro Global mostra que produzir e queimar as reservas mundiais renderia mais de 3,5 trilhões de toneladas de emissões de GEE
‘Salto para trás’
Para a Reclaim Finance, ONG ambiental francesa que acompanha as ações do setor financeiro, o relatório “não exige nenhuma ação de seus membros que exerça pressão significativa” sobre produtores ou consumidores.
A organização chamou o posicionamento de “um grande salto para trás”, observando que um documento preliminar, de 2022, incluía uma linguagem clara sobre a cessação de investimentos em novas infraestruturas de petróleo e gás upstream, midstream e downstream.
“Em vez disso, o novo resumo executivo contém uma solicitação simples para as empresas de petróleo e gás: ‘praticar a disciplina em todas as decisões de financiamento de infraestrutura em alinhamento com as metas de emissões e os cenários de 1,5°C’”.
Na visão dos ambientalistas, faltam requisitos capazes de alterar os planos de negócios.
Além disso, observam que muitas das recomendações são direcionadas a governos, empresas e investidores em geral, tirando o foco das responsabilidades de seus próprios membros.
O Rastreador de Políticas de Petróleo e Gás (OGPT, na sigla em inglês) da ONG mostra que 2/3 das 369 maiores instituições financeiras mapeadas não têm uma política para óleo e gás. E 96 não rastreia a expansão do O&G.
Cobrimos por aqui:
- Prates: país precisa decidir se quer explorar Foz do Amazonas
- Segurança energética versus climática: os dois cenários da Shell
- Transição, risco climático e fósseis na carta a investidores da BlackRock
- Dez produtores de O&G têm metas para zerar emissões de escopo 3
Gostou? Compartilhe no WhatsApp!
Curtas
Biodiesel 1
O governo publicou nesta quarta (29/3) a resolução do CNPE que oficializa a decisão de aumentar a mistura de biodiesel ao diesel nos próximos anos. O percentual, hoje em 10% (B10), deve subir para 12% a partir de 1° de abril deste ano, e evoluir 1 ponto percentual anualmente, sempre em abril, até alcançar 15% em 2026.
Biodiesel 2
Entidades do setor de biodiesel defenderam, nesta terça (28/3), a rastreabilidade do biocombustível na cadeia produtiva para rebater as acusações sobre os problemas técnicos causados pela parcela renovável no óleo diesel. A ANP prepara novas regras de especificação para os combustíveis do ciclo diesel.
Agenda da indústria
Setor elétrico e créditos de carbono são prioridades da indústria no Legislativo. A agenda setorial foi apresentada pelo presidente da CNI, Robson de Andrade, na terça. A reforma tributária é outro ponto da lista.
Isenção para solar
O governo publicou nesta quarta (29/3) decreto editado pelo presidente Lula (PT) que expande o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) à indústria de painéis solares fotovoltaicos. Criado em 2007, o PADIS oferece reduções a 0% de alíquotas de Imposto de Importação, IPI e PIS-COFINS, entre outros benefícios.