Internacional

Investidores de O&G precisam considerar riscos associados à transição energética, diz Carbon Tracker

Relatório sugere que reguladores adotem medidas para exigir mais transparência, sobretudo dos investidores privados, de modo a evitar riscos maiores para o sistema financeiro

Investidores de óleo e gás precisam considerar riscos associados à transição energética, diz think tank Carbon Tracker Initiative. Na imagem: Plataforma offshore Dudgeon da Statoil para exploração de petróleo e gás associada à eólica offshore (Foto: Jan Arne Wold Woldcam/Equinor)
Plataforma offshore Dudgeon da Statoil para exploração de petróleo e gás associada à eólica offshore (Foto: Jan Arne Wold Woldcam/Equinor)

RIO – O think tank Carbon Tracker publicou na última semana (25/1) um relatório alertando investidores que injetam capital no setor de petróleo e gás sobre os riscos financeiros associados à transição energética e à redução da demanda por combustíveis fósseis.

Segundo o documento, a transição gera riscos para as taxas de retorno e pode afetar o fluxo de caixa dos projetos, que podem ter quedas bruscas com a redução dos preços das commodities fósseis.

Com sede em Londres, o Carbon Tracker publica uma série de análises relacionadas à transição energética e impactos das mudanças climáticas nos mercados financeiros.

É um movimento para pressionar o mercado a revisar suas estratégias de investimentos e, no fim das contas, parar de financiar combustíveis fósseis.

Na visão do think tank, os sócios de projetos fósseis precisam considerar cenários de transição mais acelerada nos cálculos de estimativas de fluxos de caixa futuros. Isso se torna ainda mais relevante no contexto de taxas de juros mais altas, que tende a ser a realidade da indústria de agora em diante, aponta.

Ao optarem por manter uma estratégia de expansão da produção, tanto investidores privados (private equity) quanto detentores de títulos públicos estariam se expondo ao risco de uma erosão nos retornos financeiros conforme a transição energética avança.

Para evitar que os riscos se tornem sistêmicos e se espalhem pelo mercado financeiro, o Carbon Tracker sugere que é importante que os reguladores passem a acompanhar de forma mais detalhada as transações para compensação de emissões e a examinar as avaliações (valuations) para garantir que consideram os impactos da transição energética.

Desafios

O think tank analisou os efeitos da transição sobre dez empresas com licenças para exploração e produção no Mar do Norte no Reino Unido e na Noruega.

Praticamente todas as companhias têm campos que vão entrar em fase de declínio de produção até a próxima década, por isso, vão ter que optar se escolhem manter os ativos no portfólio durante essa fase ou se vão buscar novos projetos para manter a produção.

A conclusão é que, mesmo em um cenário de transição moderada, o fluxo de caixa dos ativos analisados pode ter quedas de até 60%. Além disso, nesse cenário, projetos em análise e que ainda não tiveram a decisão final de investimento podem deixar de ser lucrativos.

Outro desafio é atender às metas de descarbonização. Os esforços para reduzir as emissões na produção podem demandar investimentos altos e que não são viáveis, levando ao fim antecipado da atividade em alguns campos.

Mesmo nos casos em que as empresas escolhem se desfazer dos ativos, o estudo aponta dificuldades: as estratégias para sair desse setor estão cada vez mais desafiadoras, conforme diminui o número de potenciais compradores dos ativos fósseis.

Recentemente, um outro estudo do Carbon Tracker apontou que os governos também precisam adequar as expectativas de arrecadação do setor de óleo e gás ao cenário de transição. Ao todo, 28 países podem perder mais da metade das receitas esperadas com os combustíveis fósseis até 2040.