RIO — A Comissão Europeia anunciou nesta quinta (4/12), a abertura de três pacotes de financiamento, somando €5,2 bilhões provenientes das receitas do mercado de carbono europeu (EU ETS), em mais um movimento para tentar acelerar a descarbonização da indústria do bloco.
Correção: A matéria original dizia que a União Europeia lançou o terceiro leilão de hidrogênio, incluindo o gás natural, ao considerar projetos de hidrogênio de baixo carbono, como a rota de gás natural com captura e armazenamento de carbono. Entretanto, o novo leilão não inclui o gás natural. O trâmite inclui projetos de hidrogênio eletrolítico de baixo carbono, isto é, o hidrogênio produzido a partir de eletricidade proveniente da rede — que, eventualmente pode ter em sua matriz combustíveis fósseis —, desde que garanta uma redução de 70% nas emissões de gases de efeito estufa em comparação com o uso de combustíveis fósseis.
O pacote de €5,2 bilhões inclui o terceiro leilão europeu de hidrogênio (€1,3 bilhão); uma chamada para tecnologias de emissão líquida zero em 2025; e o primeiro leilão europeu dedicado exclusivamente à descarbonização do calor industrial (€1 bilhão).
“A Europa está não só preparando o terreno para um futuro mais ecológico e uma liderança tecnológica, mas também investindo no seu próprio futuro (…) Isso ajudará a indústria da UE liderar a inovação de amanhã”, disse Teresa Ribera, vice-presidente da Comissão Europeia para Transição Limpa.
Ponto de inflexão
O leilão de hidrogênio da União Europeia irá considerar, pela primeira vez, projetos de eletrólise de baixo carbono, contemplando também o hidrogênio produzido com energia elétrica proveniente de outras fontes além de eólica e solar.
Além da recém aprovada regulamentação para o hidrogênio de baixa emissão, a decisão ocorre num contexto desconfortável para Bruxelas, em que a UE espera eliminar, de uma vez por todas, as importações de gás russo até novembro de 2027.
Soma-se a isso o fato de que investimentos vultosos em hidrogênio verde — peça central na estratégia climática europeia — não o fizeram avançar no ritmo esperado, enquanto projetos ao redor do mundo deixam de lado eletrolisadores europeus para apostar em tecnologia chinesa, mais barata.
A UE estabeleceu a meta de instalar 40 GW de eletrolisadores até 2030, mas, a poucos anos do prazo final, está muito distante do objetivo.
A agência reguladora de energia do bloco, a ACER, alertou recentemente que o hidrogênio verde continua caro, mesmo após cerca de € 20 bilhões em subsídios. No balanço atual, apenas 300 MW foram efetivamente construídos, cerca de 5% da meta intermediária de 6 GW prevista para 2024.
As três iniciativas têm como pano de fundo a necessidade urgente de dar previsibilidade e reduzir riscos aos consumidores industriais europeus, cuja adoção de tecnologias de descarbonização continua travada por custos altos e baixa maturidade de mercado.
O hidrogênio, em particular, sofre com a falta de contratos firmes de compra que são essenciais para destravar financiamento privado e viabilizar projetos em escala.
Inclusão da eletrólise de baixo carbono
É nesse cenário que foi lançado o terceiro leilão do European Hydrogen Bank, com orçamento de € 1,3 bilhão.
Até aqui, esses leilões se concentravam exclusivamente na produção de hidrogênio renovável via eletrólise com eólica e solar, ou conectados a grids com mais 90% de renovabilidade, rota conhecida como hidrogênio verde, ou combustível renovável de origem não biológica (RFNBO).
Agora, a inclusão do hidrogênio eletrolítico de baixo carbono, utilizando eletricidade do grid — que, eventualmente pode ter em sua matriz combustíveis fósseis, —, desde que garanta uma redução de 70% nas emissões de gases de efeito estufa em comparação com o uso de combustíveis fósseis.
O leilão está dividido em três segmentos: exclusivamente hidrogênio via eletrólise (combustível renovável de origem não biológica – RFNBO); uma categoria combinada de RFNBO e/ou baixo carbono; e uma parcela específica para compradores nos setores marítimo e de aviação.
Os projetos selecionados receberão um prêmio fixo por quilo de hidrogênio validado e certificado, por um período máximo de dez anos.
Descarbonização da indústria
Em paralelo, a Comissão lançou a 2025 Net-Zero Technologies call, com um orçamento de € 2,9 bilhões, voltada a projetos inovadores com potencial significativo de redução de emissões.
A chamada busca preencher lacunas de investimento e fortalecer a cadeia produtiva europeia de tecnologias limpas, abrangendo desde fabricação de equipamentos para energias renováveis e armazenamento até bombas de calor, baterias e tecnologias para produção de hidrogênio.
A terceira iniciativa anunciada é o primeiro leilão europeu para descarbonizar o calor industrial, com € 1 bilhão.
O objetivo é fechar a diferença de custo entre alternativas sustentáveis, a exemplo do hidrogênio, e as tecnologias fósseis tradicionais por meio de um prêmio fixo ligado à quantidade de calor de processo efetivamente produzida de forma limpa.
Podem participar projetos de diferentes portes e setores, incluindo bombas de calor industriais, caldeiras elétricas, sistemas de aquecimento por resistência ou indução, soluções solares térmicas, geotermia e combinações híbridas.
O prêmio poderá ser pago por até cinco anos aos vencedores cujas propostas entreguem o maior abatimento de CO2 ao menor custo.
