Gás Natural

TotalEnergies vai manter negócios de gás na Rússia, diz Pouyanné

Sair do país em razão da guerra contra a Ucrânia seria entregar patrimônio de graça para os russos

TotalEnergies vai manter negócios de gás natural na Rússia, diz Pouyanné
Planta de GNL Yamal, da Novatek, uma das maiores produtoras russas de gás, da qual a TotalEnergies tem 19% de participação (foto: Novatek/Divulgação)

RIO — “O gás é importante para a Europa”, afirmou Patrick Pouyanné, CEO da francesa TotalEnergies, nesta quarta (23/3).

O executivo no comando de uma das maiores produtoras de óleo e gás natural do mundo justificou que, ao contrário do petróleo que pode ser comprado de outros países como a Arábia Saudita, no caso do gás natural, romper contratos equivaleria a pagar “bilhões aos russos”.

“Não sabemos como interromper contratos de longo prazo, a menos que os governos decidam sobre sanções que me permitam exercer o que se chama ‘força maior’, e aí sou obrigado a parar os contratos”, afirmou Patrick Pouyanné à rádio francesa RTL.

“Se eu interromper os contratos de gás natural russos, sabe o que acontece? Pago bilhões imediatamente aos russos”, disse

A TotalEnergies afirma que deixará de comprar petróleo e derivados do país a partir de 2022, suspendeu o desenvolvimento de novos negócios e não fará aportes de capital na Rússia.

Outras petroleiras, como Shell, bp e Equinor, anunciaram que pretendem deixar negócios em território russo, logo após o início da invasão do exército de Vladimir Putin à Ucrânia.

Entregar ativos contradiz as sanções

A TotalEnergies afirma que não vai “inverter o propósito das sanções contra a Rússia”, o que ocorreria caso transferisse “injustificadamente o património para os interesses russos, abandonando os ativos [no país]”.

A companhia deixou claro, contudo, que simplesmente deixar suas operações no país significaria ‘transferir valor’ para seus sócios na Rússia.

A afirmação consta nos “princípios” anunciados nesta quinta (24/3) em apresentação para investidores, que vão nortear a forma como a empresa lida com a crise.

Nessa apresentação consta a foto de trabalhadores ucranianos que atuavam em projetos da TotalEnergies, mas agora estão lutando contra os invasores russos.

A companhia garante que vai cumprir imediatamente com quaisquer sanções atuais e futuras impostas por autoridades europeias, independente dos impactos de seus ativos na Rússia.

E seguirá contribuindo “para assegurar a segurança no suprimento de energia para o continente europeu, honrando contratos de longo prazo enquanto os governos da Europa considerarem que o gás da Rússia é necessário”.

“Uma ‘saída’ não interromperia quaisquer operações dessas companhias em que a TotalEnergies é sócia minoritária e iria transferir valor sem contrapartidas para interesses russos, em contradição com as sanções”.

Atualmente, a TotalEnergies possui 19% de participação em uma das maiores produtoras russas de gás natural, a Novatek.

Além disso, a empresa participa de dois projetos de gás natural liquefeito na Rússia, o Yamal LNG, que iniciou a produção em 2020, e o Artic LNG, que deve fornecer gás a partir de 2023.

É sócia em campos que rendem uma produção de 500 mil barris por dia de petróleo e gás natural (boe), 17% do total da empresa.

São US$ 13,7 bilhões em capital alocado na Rússia até 31 de dezembro de 2021.

Zelensky cobra sanções empresariais

A declaração do executivo da gigante francesa aconteceu no mesmo dia em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, falou virtualmente ao parlamento francês e pediu para que empresas do país parem de abastecer a “máquina de guerra” da Rússia.

“As companhias francesas devem abandonar o mercado russo. Renault, Auchan, Leroy Merlin e outras, elas devem deixar de ser patrocinadores da máquina de guerra russa”, disse o líder ucraniano.

Após o discurso, o conselho administrativo do Grupo Renault, que tem o governo da França como acionista, decidiu apenas suspender as atividades de sua montadora em Moscou.

Já a Leroy Merlin e Auchan, ambas do Grupo Mulliez, continuarão com suas operações.