RIO — O mercado de combustíveis no Brasil está sujeito a uma pressão inflacionária caso o governo brasileiro siga em frente com a ideia de responder às taxas dos Estados Unidos com a Lei de Reciprocidade Econômica, aponta um relatório do BTG Pactual assinado pelos analistas Luiz Carvalho e Gustavo Cunha.
O cenário teria impacto sobretudo no diesel, já que os EUA são um dos principais fornecedores de derivados para o Brasil.
O presidente Donald Trump dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou tarifas de 50% sobre a importação de todos os produtos brasileiros na quinta-feira (9/7).
Em resposta, o presidente Lula (PT) afirmou que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”.
A adoção de tarifas de retaliação pode aumentar os custos de importação e reduzir a competitividade de empresas locais do segmento de combustíveis, segundo o BTG.
Além disso, o Brasil vai precisar aumentar as compras de derivados de outros supridores, como a Europa e a Índia, que têm custos logísticos e operacionais mais altos, e da Rússia, que tem maior exposição a riscos no mercado global, devido à sanções internacionais.
“Isso pode aumentar a pressão inflacionária nos preços e margens ao longo da cadeia de refino e distribuição, em um momento em que o Brasil já opera com um déficit estrutural em produtos refinados”, dizem.
O impacto também é ruim para a cadeia da petroquímica, dado o déficit de U$ 8 bilhões na balança comercial desse setor no Brasil em relação aos EUA.
No ano passado, os estadunidenses exportaram US$ 10,4 bilhões em produtos petroquímicos para o Brasil, com destaque para polietileno.
Ao todo, 77% das importações brasileiras de polietileno em 2024 tiveram origem nos EUA.
Os analistas apontam que o Brasil pode ter dificuldades de encontrar fornecedores alternativos para esse produto, pois supridores na Ásia e no Oriente Médio têm dificuldades logísticas e comerciais.
“Caso o Brasil aplique as tarifas retaliatórias sob a lei de reciprocidade econômica, o impacto nas cadeias de suprimentos nacionais poderá ser significativo”, dizem.
Espaço para diálogo
Entretanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou que vê espaço para negociações, dadas as respostas do secretário do Tesouro ao governo brasileiro quando as taxas anteriores foram debatidas.
Em abril, os EUA haviam aplicado tarifas de 10% sobre os produtos brasileiros.
Haddad destacou o caráter político e a “falta de racionalidade econômica” do aumento das tarifas, já que o Brasil é deficitário na relação comercial com os EUA.
“Não acredito que essa situação vai se manter”, disse em entrevista na manhã de quinta-feira (10/7) ao canal do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Para exportações de petróleo, efeito é limitado
Entretanto, as novas tarifas devem ter efeito limitado sobre o mercado de produção de petróleo no Brasil, pois o país pode diversificar os países para onde exporta óleo bruto, na visão dos analistas do BTG.
“O Brasil tem flexibilidade logística e comercial para preservar a competitividade de seus barris no mercado global”, afirmam.
Na visão deles, as tarifas podem gerar ruídos nos fluxos comerciais no curto prazo e impactar margens de contratos à vista, mas não representam um risco estrutural para o escoamento da produção brasileira.
Ao todo, as exportações de petróleo e derivados brasileiros para os EUA totalizaram US$ 7,6 bilhões em 2024. Os produtos responderam por 18,8% de todas as vendas brasileiras para o país.
Ainda não está claro se o petróleo vai ser isento das novas taxas, que começam a valer em agosto.
Em abril, quando os EUA anunciaram a primeira rodada de tarifas sobre o Brasil, de 10%, o petróleo foi excluído da cobrança.
Caso o produto seja taxado dessa vez, os analistas apontam que o Brasil pode redirecionar as vendas para refinarias na China, Índia, Europa e no Oriente Médio, que têm demanda por petróleo leve e de baixo teor de enxofre, como o que é produzido no pré-sal.
“Apesar de os EUA serem um destino importante, a exposição brasileira a esse mercado é relativamente restrita, e o petróleo é uma commodity global”, dizem.
De acordo com os dados da Petrobras do primeiro trimestre de 2025, apenas 4% das exportações de petróleo bruto da companhia foram para os Estados Unidos.
O principal destino das vendas da estatal foi a Ásia, com destaque para a China, que absorveu 36% do volume.
Os analistas do BTG também acreditam que as produtoras independentes não terão dificuldades em desviar os fluxos de exportação.