BRASÍLIA – É improvável que a vitória de Donald Trump nas eleições americanas tenham impactos estruturais sobre a dinâmica global de preços do petróleo no curto prazo, de acordo com a consultoria Rystad Energy.
O chefe global de mercados de commodities da Rystad, Mukesh Sahdev, avalia que o resultado da disputa pela Casa Branca não resultou em um movimento significativo para o preço do petróleo após as eleições. Segundo o especialista, o mercado de petróleo deve continuar a lidar com incertezas.
Na visão de Sahdev, o preço do Brent entrou em uma fase de correção após superar os US$ 75 por barril e sustentar algumas semanas de ganhos.
Essa correção reflete as expectativas de aumento da oferta dos Estados Unidos e uma possível desaceleração da demanda, ligada ao aumento das tarifas em relação a parceiros comerciais, em especial a China.
“Enquanto o mercado navega por obstáculos políticos e geopolíticos em transformação, os preços do petróleo continuam sob pressão devido às contínuas interrupções nas cadeias de suprimentos e a uma recuperação macroeconômica lenta”, avaliou o chefe de mercados de commodities da Rystad.
A questão fica mais complexa quando se avalia o fortalecimento do dólar frente a outras moedas. O índice que mede a força do dólar contra as principais divisas do mundo subiu 1,65% após a divulgação do resultado das eleições.
Segundo a Rystad, as principais tendências que definem mudanças estruturais para o mercado de petróleo em 2025 são a oferta da Opep e aliados (Opep+), as margens do refino e as alterações nos fluxos globais.
A visão é de que a Opep+ ainda controlará as rédeas e continuará fazendo a gestão do preço, influenciando diretamente a oferta do petróleo bruto e de derivados.
A empresa de pesquisa também aponta o crescimento da capacidade de refino no Oriente Médio e calcula que a produção está mais alta do que a capacidade do mercado de absorver. Esse equilíbrio no fluxo ajuda a manter a commodity em preços estáveis, evitando picos de queda ou alta, o está em linha com os objetivos da Opep+.
De acordo com a Rystad, a estratégia da organização parece ser manter uma estrutura de backwardation – na qual o preço no mercado à vista é maior do que no mercado futuro.
Na avaliação de Sahdev, a preocupação com o crescimento da produção fora da Opep+ está menor, pois a produção de óleo de xisto nos EUA desacelerou e teve alteração na qualidade, o que representa desafios para refinarias nos Estados Unidos e Europa. A chegada do petróleo do Canadá aos mercados asiáticos também pode limitar ainda mais a vantagem de refino dos EUA.
Outra tendência apontada é de que os fluxos comerciais continuarão impactados, com ineficiências dificultando o equilíbrio entre oferta e demanda. Essas questões continuarão a ser afetadas por uma recuperação macroeconômica fraca.
Conflitos geopolíticos alteraram significativamente as rotas comerciais, aumentando custos. Rotas mais longas e um mercado com preços futuros inferiores aos de curto prazo, associado a taxa de juros alta, prejudicam o equilíbrio do mercado.
As grandes mudanças recentes foram a alteração da rota de petróleo bruto e produtos russos para a Ásia, o desvio de cargas pelo extremo sul da África e os fluxos alterados pelo Estreito de Omuz, na costa do Irã – por onde circula mais de um quinto da produção mundial.
“Essas mudanças não serão resolvidas facilmente, já que a duração das interrupções foi longa e as cadeias de suprimento se tornaram enraizadas com novos players no segmento de comércio”, avaliou.