BRASÍLIA – O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu durante a campanha que iria combater a inflação com a redução do custo da energia. O programa de Trump inclui o incentivo ao aumento da produção de petróleo e gás natural, incluindo a produção por métodos não convencionais, como o fraturamento hidráulico.
O republicano ressuscitou, na campanha de 2024, o bordão usado por membros do partido na campanha de 2008, quando John McCain foi derrotado por Barack Obama: “drill, baby, drill” (“perfure, baby, perfure”, em tradução livre).
“Eu vou cortar os preços da energia pela metade em 12 meses após assumir o cargo”, prometeu Trump em comício no dia 18 de outubro.
Na gestão de Donald Trump frente à Casa Branca (2017-2020), os Estados Unidos se tornaram os maiores produtores de petróleo do mundo.
Em 2023, os EUA produziram em média mais de 12,9 milhões de barris por dia, acima do recorde anterior, de 2019, quando o país produziu 12,3 milhões de barris/dia. A expectativa para 2024, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) é que o ano termine com uma nova marca histórica, de 13,2 milhões de barris/dia.
“Podemos reduzir o custo da energia se tivermos o suprimento de petróleo, o que temos mais do que qualquer outro país. O aquecimento, o ar-condicionado, a eletricidade, a gasolina – tudo pode ser reduzido pela metade. Para alcançar essa rápida redução nos custos de energia, irei declarar uma emergência nacional para nos permitir aumentar drasticamente a produção, geração e oferta de energia.
Em seu programa de governo, o republicano fala em acelerar a aprovação de licenças de perfurações e concessões, ampliar a reserva estratégica de petróleo, interromper litígios ambientais, dar alívios fiscais para empresas de combustíveis fósseis e reverter regulamentos adotados por Biden.
Trump retirou EUA do Acordo de Paris
Negacionista das mudanças climáticas, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, em seu primeiro governo, por considerá-lo injusto e unilateral. Também cancelou o plano de energia limpa de Obama, seu antecessor, e o substituiu pela regra Affordable Clean Energy (energia limpa e acessível).
Com a recolocação dos EUA no acordo por Joe Biden, Trump já anunciou que tornaria a retirar o país do tratado internacional que tem como objetivo limitar o aquecimento global a 2°C acima de níveis pré-industriais, por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa.
Em seu próximo governo, Donald Trump pretende repetir o afrouxamento de regras para combustíveis fósseis. Em 2019, ele reformou as regras de licenciamento para acelerar a aprovação de minas e alterou o programa que penalizava usinas a carvão.
As regras adotadas reduziram pela metade o tempo de aprovação de licenças para perfuração em terras públicas e levaram a um aumento de 300% nas solicitações.
A campanha republicana afirma que em 2019, durante o primeiro governo de Trump, cada família americana economizou 2,5 mil dólares em média no ano devido aos menores preços da energia, incluindo eletricidade e combustíveis.
Futuro do IRA em risco
No governo de Biden, os EUA deram início ao maior projeto de estímulo fiscal à transição energética até hoje.
Com incentivos de US$ 370 bilhões previstos para uma década, o Inflation Reduction Act (IRA) é a maior política industrial dos Estados Unidos desde o new deal, que buscou reerguer a economia americana após a Crise de 1929.
O programa já tem, inclusive, efeitos práticos no mercado de energia do país. Algumas regiões de fato substituíram diesel por biocombustíveis e eletrificação durante o governo Biden, sobretudo na Costa Oeste.
Eventuais mudanças na lei precisariam passar pelo Congresso, e não há unanimidade entre os republicanos quanto a mudanças no subsídio, uma vez que aliados importantes de Trump foram beneficiados pelo programa, como o bilionário e dono da Tesla – fabricante de veículos elétricos –, Elon Musk. O IRA permitia um crédito fiscal de US$ 7.500 para a compra de um Tesla.
O IRA foi aprovado pelo Congresso americano com o apoio dos dois partidos. Muitos dos estados que votam historicamente no Partido Republicano estão entre os que mais acessam os recursos para desenvolver tecnologias de baixo carbono.
Oposição a iniciativas de energia renovável
Trump classificou as energias renováveis como “caras e pouco confiáveis” e descreveu as políticas de Biden como “pró-China, antiamericanas e destruidoras de empregos e indústrias”.
Ele criticou a geração eólica e solar, classificando como “caras para a pouca energia que produzem”, também se manifestou contra o desenvolvimento de eólicas offshore, alegando danos à vida marinha.
Apesar da manifestação recente contrária a essas modalidades de geração de energia renovável, o site da campanha do republicano lista alguns avanços em renováveis na primeira gestão de Trump. Entre elas está a promulgação de políticas que ajudaram a dobrar a geração solar e aumentaram a eólica em 32%, entre 2016 e 2019.
Também aponta como realização a autorização de venda de gasolina com 15% de etanol (E15).